Há cerca de dois meses assisti a uma conferência sobre a «Escola Transformadora», em que se destacou a intervenção do atual secretário de estado, João Costa.
João Costa defendeu ideias que poucos contestarão, nomeadamente a escola verdadeiramente inclusiva, ou seja, a escola na qual todos aprendam, independentemente das suas capacidades e da sua origem social; a escola que promove a cidadania global ; a escola que não deixa de lado os problemas reais do mundo; a escola que promove o equilíbrio entre as novas tecnologias e a ética ; a escola que tem em vista o bem estar da população- entenda-se esse bem-estar como uma meta que supõe a formação de pessoas despertas para as problemáticas políticas, sociais, ambientais, com que o mundo se confronta, o que implica valorizar as Humanidades. Para alcançar esses objetivos, a escola transformadora deve ter como referência as diretrizes que constam no documento, oriundo da tutela, «Perfil do Aluno», que define objetivos a atingir no final da escolaridade, centralizando a ação da escola na formação global do aluno e no saber fazer e «não na formação para a nota».
Talvez devido às limitações de tempo, João Costa fez apenas duas referências ao papel da família na educação. Discordou da pressão exercida por algumas famílias para que os seus filhos não partilhem turmas com ciganos ou com alunos oriundos de bairros pobres e admitiu a possibilidade de a violência no namoro ter por base os maus exemplos vivenciados pelos jovens no meio familiar.
Parece-me que é pouco, muito pouco, sobre o contributo da família para a escola transformadora. A educação começa no berço, logo é, em primeiro lugar, responsabilidade da família. O gosto por aprender nasce, ou não, nos primeiros anos de vida. A família deve promover o gosto pela leitura, começando por contar histórias às crianças; ensinar a respeitar o património ambiental, cultural e histórico, levando os filhos a passear na floresta, a visitar monumentos e museus; definir e cumprir regras é também tarefa familiar; o gosto pelo trabalho deve ser despertado nos primeiros anos de vida, tal como alimentar a curiosidade e a criatividade da criança, por exemplo respondendo (e debatendo) às inúmeras questões que coloca. A criança é, por natureza, perspicaz, curiosa, interessada e ativa, e essas características devem ser desenvolvidas. Promover a auto estima das crianças, descobrir o que mais lhes interessa, o que mais gostam de fazer, e desenvolver essas aprendizagens é também papel das famílias. Não devem os pais esquecer que, na atualidade, é mais importante saber fazer do que saber; são essas competências que o mundo do trabalho valoriza.
«A escola transformadora» deverá conhecer muito bem o mundo do aluno, o seio familiar, para dar continuidade aos seus interesses e não exigir a metamorfose da criança ao entrar na sala de aula. Só num ambiente de aprendizagem diferenciado, a escola poderá ser verdadeiramente inclusiva, ou seja, fazer com que todos aprendam: alunos com dificuldades de aprendizagem , alunos oriundos de meios desfavorecidos e alunos que chegam à escola apaixonados pelas aprendizagens, mesmo que apenas numa área específica, como a História, a Música, a Poesia… Saber tudo de tudo, pertence ao passado!