As acções de formação constituem para a classe docente, uma necessidade óbvia de aquisição, aprofundamento e consolidação de conhecimentos, bem como um imperativo formal de progressão na carreira.
Desta vez incidi a minha atenção no mar.
Portugal é uma nação com tradição oceânica, desde os Descobrimentos, possuindo com uma enorme Zona Económica Exclusiva e que deve ter uma política concertada, coerente e eficaz na gestão dos ecossistemas marinhos para a Economia, para a Saúde, qualidade de vida e bem-estar dos portugueses.
Todavia, o desenvolvimento costeiro, a sobrepesca, o aumento da poluição e as mudanças climáticas provocam um declínio dos ecossistemas marinhos, tornando-se fundamental compreender a importância dos oceanos.
Todos nós devemos ser encorajados a fazer escolhas de consumo sustentáveis, reduzir o consumo de plástico e a pegada de carbono, procurando alterar comportamentos e atitudes.
O Projeto Europeu Coastwatch, coordenado há trinta anos pelo Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), uma prestigiada associação ambiental, que tem sido pioneira no estudo, compreensão e preservação do ambiente, é uma das formas como a sociedade civil pode contribuir eficazmente para esse propósito.
Daí que, o seminário Coastwatch 2021 “30 Anos a Olhar pelo Litoral” foi organizado pelo GEOTA, pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e pelo MARE.
Eu escolhi a oficina intitulada “Plataformas Rochosas- Setúbal”, localizada na praia de Albarquel.
A Albarquel foi sempre uma estreita faixa de calhaus rolados. Nos anos 90, foi colocado um pontão adjacente ao Forte de Albarquel, tendo-se posteriormente procedido ao enchimento artificial da referida praia, recorrendo-se à areia que se encontra sempre com muita abundância na foz do rio Sado.
Se me permitem uma sugestão, devia seguir-se este bom exemplo e efectuar idêntico procedimento com a praia da Arrábida, cujo areal tem estado drástica e rapidamente a diminuir em largura.
Actualmente, a praia da Albarquel é constituída por duas zonas contíguas; uma zona de areia e a restante por rochas, esta última que se estende até à Comenda.
Foi nesse último local que incidimos a nossa pesquisa. Os formadores Susana França e João Paulo Medeiros foram ambos extremamente simpáticos, afáveis e muito rigorosos, quer sob o ponto de vista científico, quer pedagógico, transmitindo-nos o seu entusiamo por estas temáticas.
Estivemos a percorrer as três zonas abrangidas pelas movimentações das marés, as zonas supra, médio e infralitoral. A zona aquática do Estuário do Sado, em virtude de uma variação significativa de salinidade, alberga pouca diversidade de fauna, sendo o góbi (Gobios paganellus), o charroco (Halobatrachus didactylus), o linguado (Solea solea) e o robalo (Dicentrarchus labrax), as espécies predominantes. A zona de Troia constitui um importante local de maternidade de raias (Potamotrygon motoro).
Sempre que conseguíamos mover as rochas mais pequenas, encontrávamos ofiurídeos (Asterina gibbosa), uma espécie de estrela-do-mar, caranguejos (Brachyura), poliquetas (Polychaeta), pequenos peixes, góbis. Nas rochas estavam presos mexilhões (Mytilus edulis), cracas (Thoracica), lapas (Patella vulgata) e anémonas (Actiniaria). Na margem, detectámos pepinos do mar (Holothuroidea).
Continuamos na próxima semana.