3 Julho 2024, Quarta-feira

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500 Palavras: Visitar Setúbal pela fotografia de Antero Frederico de Seabra (3)

500 Palavras: Visitar Setúbal pela fotografia de Antero Frederico de Seabra (3)

500 Palavras: Visitar Setúbal pela fotografia de Antero Frederico de Seabra (3)

, Professor
3 Julho 2024, Quarta-feira
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Chegados próximo da capela do Carmo, temos Antero Frederico de Seabra a captar para o seu “Álbum Fotográfico” um olhar desde a ponte do Carmo sobre o ribeiro do Livramento, sítio de onde são vistas mais três pontes, formas de acesso à zona de Troino e Convento de Jesus, monumento que é também objecto de uma fotografia, apresentando o cruzeiro em sítio diferente do actual, um terreiro arborizado e cruzes dos Passos no exterior do Convento. Ali bem perto, outro registo faculta-nos o panorama que, desde o Largo das Almas, vai até à igreja de Nossa Senhora da Saúde, fotografia que evidencia a vivência agrícola nos terrenos do actual Montalvão, num cenário rural que se manifesta também pelo carro de bois nas proximidades da fonte de S. Caetano. Um pouco mais adiante, Brancanes surge em duas reproduções: uma, a partir do cruzeiro de Brancanes (que já não existe), destaca a Quinta dos Bonecos e o ambiente agrícola em torno; noutra, o convento de Brancanes apresenta a sua magnificência, sendo ainda possível ver aquela que era a fonte de S. João Baptista.
Se, a partir da Praça de Bocage, nos dirigirmos para S. Sebastião, a lente de Antero de Seabra faz-nos parar várias vezes. A primeira, na contemplação da fachada da igreja de Santa Maria, mostrando-nos o revestimento azulejar na base do edifício e as duas cordas sineiras, uma para o toque das cerimónias religiosas, outra para o anúncio de qualquer catástrofe. Segue-se o convento e igreja dos Grilos, com o amplo adro de Palhais na sua frente, espaço hoje dividido entre Palhais e Quebedo, numa delimitação que a via férrea consagrou. Nas traseiras do templo, temos o Cemitério de Setúbal, numa fotografia que revela a escassez de arte tumular e a predominância de campas rasas. Subindo ao designado Largo das Areias, em zona descampada (que equivalerá hoje ao espaço entre a designada Escola das Areias e a avenida Jaime Cortesão), a fotografia apresenta uma visão de Setúbal, apanhando em primeiro lugar os cemitérios da Piedade e dos Ingleses e a muralha, estendendo-se a vista até ao alto onde se situa a fortaleza de S. Filipe, paisagem em que se destacam as torres das várias igrejas da cidade, a baía e a praia e grande quantidade de moinhos que povoam a crista da serra. Do lado nascente, na margem do Sado, há ainda uma reprodução que mostra o movimento portuário, o quartel, as docas, numa vista que nos leva até à fortaleza e aos inúmeros moinhos já referidos.
Na direcção da serra, pode o olhar contemplar ainda uma fotografia do gasómetro, a central que fornecia a luz aos candeeiros da cidade (visíveis em muitas fotografias), localizado junto da praia e do rio, onde se misturam barcos de pequeno e de grande calibre. A partir da praia de Troino, há um registo que nos leva até à fortaleza de S. Filipe, numa paisagem sem arvoredo, mostrando, junto ao rio, o estaleiro e numerosas embarcações com origem na região de Ovar, as “meias-luas”, cujas proa e popa se levantam numa curva muito delineada em crescente. Uma chegada ao convento de S. Francisco permite-nos ver, numa das fotografias, o estado de ruína a que o mesmo chegou, com uma cidade que se divisa ao longe, enquanto noutra, a última do “Álbum”, uma panorâmica de Setúbal apresenta a cidade ainda quase dentro de muralhas, entre o início do que viria a ser a avenida de S. Francisco Xavier e um espaço repleto de moinhos em território hoje densamente povoado, na freguesia de S. Sebastião, fotografia que mais documenta a ligação da cidade ao rio e também a imagem que parece englobar tudo quanto foi mostrado antes, em ampla visão.
A morfologia e a vida de Setúbal no tempo entre 1866 e 1867 facilmente chegam ao leitor curioso de hoje, que pode associar o relato da visita que a esta cidade fez Hans Christian Andersen em 1866 e as fotografias que, no ano seguinte, Antero de Frederico de Seabra registou na designação conhecida como “Álbum Fotográfico” (que, agora, a LASA publicou). A impressão vinda da conjunção das duas leituras será, de certeza, mais intensa e diversa do que a fornecida pela quantidade das “kodaks” disparadas pelos japoneses que António Ferro presenciou na travessia do Grande Lago Salgado mais de meio século depois…

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