Pela primeira vez, em 46 anos de democracia, as comemorações do Dia da Liberdade ficaram condicionadas, devido às medidas de contenção necessárias ao combate à propagação da pandemia COVID-19.
No atual quadro de confinamento e isolamento social, em que vivemos, justificou-se a não realização, este ano, da tradicional sessão publica comemorativa do 25 de Abril de 1974 pela Assembleia Municipal de Setúbal. Esta decisão está alinhada com a postura corajosa, responsável e confiante que a esmagadora maioria da população portuguesa tem assumido perante uma ameaça mortífera para as comunidades humanas.
Apesar dos constrangimentos era imperioso não desistir. Recorrendo à criatividade e a formas alternativas, foi possível, com contenção, mas igualmente com dignidade, assinalar o Dia da Liberdade.
Ontem como hoje, a nossa luta como povo continua.
Em 25 de Abril de 1974 saímos à rua para derrubar a ditadura e o fascismo e afirmar a liberdade na construção de um Estado democrático.
Hoje ficamos em casa para combater o Coronavírus. Assumimos responsavelmente a luta pela defesa da vida. Como comunidade num Estado democrático cumprimos generalizadamente as exigências de confinamento e isolamento social e saudamos o esforço e dedicação de todas e de todos os que, com risco da própria vida, continuam a trabalhar para o bem comum.
Ontem, a revolução dos cravos mereceu-nos o reconhecimento e a admiração da comunidade internacional. Hoje somos elogiados pela forma serena, mas determinada como combatemos a pandemia.
Estas são razões bem fortes para nos sentirmos orgulhosos de ser portugueses e, por maioria de razão, setubalenses, sadinos e azeitonenses nestas terras onde abril floriu.
Comemorar Abril é homenagear todos aqueles que, muitas vezes com o risco da própria vida, lutaram contra um regime policial e obsoleto, que mantinha uma guerra colonial fratricida e dificilmente subsistia marginalizado na comunidade internacional. Comemorar Abril é também saudar o Movimento das Forças Armadas e os gloriosos Capitães que souberam entregar ao Povo em liberdade os destinos deste nosso Portugal.
Quando hoje lutamos contra um inimigo sem rosto é mais fácil reconhecermos a importância da existência de um Serviço Nacional de Saúde geral, universal e tendencialmente gratuito, como prevê a Constituição da República Portuguesa. Esta conquista de Abril, que tantas vezes tem sido ameaçada e subestimada, tem sido reconhecida como garantia do nosso maior sucesso no combate à crise pandémica.
Também o Poder Local Democrático, uma das mais importantes conquistas do 25 de Abril, tem afirmado o seu papel determinante e imprescindível enquanto poder de proximidade reconhecido pelas populações, tanto na mobilização de meios, como na cooperação com outros agentes, incentivando, sensibilizando e mobilizando no combate contra a propagação do vírus.
São muitas e muito fortes as razões que justificam abrir uma janela na luta contra a maior crise sanitária da era democrática para comemorar Abril.
Só quem não sabe ou não compreende a importância do 25 de Abril nas nossas vidas como cidadãos e como povo é que se interroga sobre a comemoração do 25 de abril na casa da democracia portuguesa. Naturalmente, no respeito pelas regras da contenção e do distanciamento social, tanto para convidados como para deputados, como vem acontecendo nos trabalhos parlamentares.
Saibamos comemorar Abril e Maio lutando pela defesa de mais e melhor saúde para todos.
Unidos venceremos.
Viva o 25 de Abril!