6 Maio 2024, Segunda-feira
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PENSAR SETÚBAL: Os 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Parte VIII): Amílcar Cabral

Hoje vamos falar de uma personalidade que marcou toda uma época: Amílcar Cabral.

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Amílcar Lopes Cabral nasceu a 12 de Setembro de 1924 em Bafatá, segunda cidade da Guiné-Bissau. Os seus pais, Iva Évora e Juvenal Cabral, eram ambos originários das ilhas de Cabo Verde.

Inicia os seus estudos na cidade da Praia em 1933 e de seguida vai com a mãe para o Mindelo, na ilha de São Vicente, onde frequenta o Liceu Gil Eanes.

Com o deflagrar da Segunda Guerra Mundial, em 1939, conclui o primeiro ciclo da escola e nos sucessivos seis anos, sentirá na pele as terríveis consequências do conflito.

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Nos anos quarenta, em Cabo Verde reinava a crise económica. Amílcar frequentava o liceu, quando, entre 1940 e 1942, o arquipélago foi assolado por uma onda de fome sem precedentes, tendo morrido cerca de vinte mil pessoas.

Amílcar Cabral fica profundamente afectado por esta tragédia, o que o leva a ingressar no curso de engenheiro agrónomo, para poder preparar-se para combater o empobrecimento da terra.

Em 1945, graças aos excelentes resultados obtidos, Amílcar obtém um bolsa de estudos para frequentar o Instituto Superior de Agronomia em Lisboa.

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Entre estes jovens africanos começa a gerar-se uma progressiva tomada de consciência de retornar às raízes africanas, e redimensionar a relação existente com a metrópole.

Durante os sete anos que esteve em Lisboa, como estudante (1945-1952), Amílcar regressa regulamente a Africa. Já perfeitamente consciente da sua missão, inicia contactos com outros nacionalistas, determinado em lutar pela independência nacional dos seus povos.

Em 1952, conclui a sua licenciatura em Agronomia e começa a trabalhar na Estação Agronómica em Lisboa, casando-se uma sua colega, Maria Helena Rodrigues.

Regressa a Bissau em 1953 e a 19 de Setembro de 1956 funda o Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

Em 1961, tem início a Guerra Colonial em Angola, constituindo um detonador para as lutas de independência, quer na Guiné (1963), quer em Moçambique (1964).

Ao longo da década de sessenta, os sucessos no campo militar que colocam a Guiné-Bissau nas bocas do mundo, articulam-se com os avanços diplomáticos por parte de Amílcar Cabral, procurando sensibilizar a opinião pública relativamente à situação das colónias portuguesas.

Em 1969, Amílcar Cabral consegue levar estas questões à IV Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas, recebendo o reconhecimento e apoio, denunciando o regime do Estado Novo.

Desloca-se em sucessivos contactos diplomáticos em Itália, França, Estados Unidos.

Um dos acontecimentos marcantes ocorreu em Julho de 1970, em que o Papa Paulo VI recebeu em audiência privada no Vaticano, os três representantes africanos dos movimentos de libertação das colónias portuguesas, Agostinho Neto, dirigente do MPLA, Marcelino dos Santos, representante da FRELIMO, e Amílcar Cabral pelo PAIGC, para profunda irritação de Salazar.

Quanto a mim, esta foi uma ocorrência marcante, determinando uma mudança de percepção relativamente à situação colonial portuguesa.

Em 1972, defronte à IV Comissão da ONU, Cabral pronuncia o seu último discurso.

No auge da sua carreira política e diplomática internacional, foi assassinado em Conacri, a 20 de Janeiro de 1973, em circunstâncias nunca completamente esclarecidas, com fortes suspeitas a recaírem sobre as autoridades portuguesas, em Sekóu Touré, líder da Guiné-Conacri, bem como em dissidentes do próprio PAIGC que foram os autores materiais do assassínio.

Analisando o seu legado, um dos grandes méritos de Amílcar Cabral foi a sistemática desconstrução da retórica colonialista portuguesa, nomeadamente o “Direito Histórico” e a “Missão Civilizacional”.

Amílcar Cabral foi um dos mais inteligentes, carismáticos, prestigiados e categorizados dirigentes africanos, ao nível de um Nelson Mandela ou de um Leopold Senghor.

Homem culto, fino, distinto, refinado, constituía uma verdadeira ameaça, não só para o regime português, como também para o próprio PAIGC, bem como para os dirigentes regionais africanos, com as invejas inerentes a uma personalidade do seu calibre.

Durante a sua vida, sempre afirmou, de forma recorrente, que o verdadeiro inimigo não era o povo português, mas o regime do Estado Novo.

Fica aqui uma sentida homenagem e evocação da sua figura.

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