28 Abril 2024, Domingo
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Árvores nos parques, jardins e ruas, para quê?

Caro leitor, as árvores nos parques, jardins e ruas, aparentemente, só nos dão sombra e tornam a paisagem mais natural e agradável. Mas Jorge Paiva (JP), biólogo, botânico, professor catedrático jubilado da Universidade de Coimbra, diz que têm «múltiplas e extraordinárias funções biológicas»: «purificam o ar (libertam oxigénio e sequestram carbono); reduzem os efeitos das alterações climáticas; combatem a poluição; constituem espaços de lazer, actividade desportiva e recreativa (nos parques e jardins); amenizam o calor com a sombra; dão à paisagem urbana a “sugestão” verde de um cenário natural». Por isto, as localidades deviam ser «um “arboreto” ou “floresta urbana” (…), o que não acontece em Portugal». O Funchal é a «que mais se aproxima do espaço verde ideal num ambiente urbano; Viseu é a que tem maior área relativa de artérias urbanas arborizadas».

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Para as árvores cumprirem as funções biológicas, JP diz que devem ter a «maior ramada possível plena de folhagem» e a poda só deve «aparar a ramada ou remover ramos (…) doentes ou mortos». Não se deve eliminar a copa por completo nem cortar todos os ramos: isso é «derrota da ramada». E para produzirem a «quantidade necessária de oxigénio para a vivência saudável no espaço urbano», o que é vital para os habitantes das localidades, é preciso terem «uma superfície foliar de 150 m2 (…), que corresponde a (…) 40 m2 de espaço verde [por pessoa] num ambiente urbano». Por isso se deve escolher bem as árvores: «de grande porte nas avenidas largas, nunca nas ruas estreitas»; espécies aromáticas (para mau cheiro há os escapes dos carros); de folha perene (precisamos de oxigénio todos os dias); de preferência nativas (laranjeiras, loureiros, etc., em Palmela, o topónimo serra do Louro veio dos loureiros espontâneos); de pequeno e médio porte, que não entrem nas varandas nem destruam o chão dos passeios. P. ex., as tílias têm folha perene e são aromáticas.

Mas em vez de arboretos temos florestas de prédios altos, às vezes em ruas de traçado medieval. E temos árvores mutiladas parecidas com postes de electricidade, porque os actuais podadores (mutiladores) de árvores, que estão na jardinagem por engano, mais parecem magarefes habituados a desmanchar carcaças de bovinos à machadada ou com serras eléctricas.

Porquê podar as árvores todos os anos? Para lhes limitar as funções no espaço urbano e reduzir o tempo de vida? E pior se for com «derrota de ramada», mutilando-as gravemente (ver a foto). Dada a escassez de parques e jardins, o dinheiro das podas inúteis deve gastar-se: a plantar árvores onde for possível; substituir as mortas nos canteiros (abandonados, às vezes, anos a fio); isolar o solo com tela para não criar ervas e cobri-lo com pedras decorativas (embeleza e evita os gastos a roçar a erva que aí cresce); cuidar das que existem (adubando-as e regando-as); arrancar as raízes das que foram cortadas.

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O estado em que ficaram as árvores

 

 

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Caro leitor, vivo em Aires há 20 anos, onde só a Rua Agostinho Pereira e a Av. Lino dos Reis têm um número significativo de árvores (27 e 93), pois os dois miniparques são irrisórios e estão semi-abandonados. A Câmara podou as árvores todos os anos com «derrota de ramada» (sem necessidade, cortando tudo o que cresceu no ano anterior), gastando o dinheiro dos nossos impostos que tanta falta faz, p. ex., para acabar os dois passeios (700 metros cada) entre Aires (Escola EB1/JI) e a Estação Ferroviária. Apenas um pequeno troço está transitável, o resto espera desde 2004, quando a estação foi inaugurada. Pelos passeios circulam, diariamente, centenas de pessoas, das seis mil que aqui habitam, as quais, ao se cruzarem, uma tem de descer o estreito passeio (onde existe) para a faixa de rodagem. E os carrinhos de bebé e cadeiras de rodas têm de circular na faixa de rodagem. Lembro que o D. L. n.º 163/2006, de 8/8/2008, fixou a data de 8/2/2017 como limite para as Câmaras fazerem as acessibilidades pedonais.

No essencial, Palmela não cumpre, mas nas festarolas e propaganda não falha. No caso da mobilidade, até tem a bandeira de Cidade de Excelência, dada por uma ONG do Porto, sabe-se lá a que preço. E, pasme-se, tem o PAMUS – Plano de Acção de Mobilidade Urbana Sustentável. Depois do artigo que aqui escrevi em 11-05-2021 (que citei acima) a Câmara deixou de podar as árvores. Estranhamente, este ano fez duas podas: há dois meses, por um emigrante asiático (dos que os xenófobos racistas e populistas não querem cá), poda feita, como preconiza Jorge Paiva. Há três semanas, pelos magarefes da «derrota de ramada», furiosos pelo interregno de dois anos, que se vingaram nas pobres árvores, quase cortadas logo acima do tronco, o que configura um «crime ambiental». Na mixórdia política que gere a Câmara não há um partido dito ecologista? Não vê isto? É triste o desrespeito pelo ambiente, saúde das pessoas e mobilidade, mas, infelizmente, é real. Nota: pus aspas em «crime ambiental» porque esta prática danosa ainda não está tipificada na nossa ordem jurídica.

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