27 Abril 2024, Sábado
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PENSAR SETÚBAL: Jaime Rebelo, o Homem da Boca Cerrada (parte I)

Hoje iremos falar de um setubalense ilustre, irreverente e corajoso: Jaime Rebelo.

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Esta era já uma crónica (que se transformou em duas, dado o carácter felizmente mais exaustivo da minha narrativa inicial) que tinha em mente redigi-la há já alguns anos, mas circunstâncias diversas impediram a sua concretização.

Para a realização destas duas crónicas contei com a preciosa colaboração dos seus netos, os meus queridos amigos Fernando Rebelo Alves, José Rebelo e Sérgio Rebelo que, de uma forma entusiasmada, colaboraram com inúmeros dados de índole biográfica e a quem agradeço publicamente.

Jaime Rebelo nasceu em Setúbal, no Bairro de Tróino, em 1900.

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Como muitos contemporâneos seus, iniciou a sua vida como pescador e, desde cedo, começou a frequentar os círculos anarquistas desta cidade, inscrevendo-se na central deste movimento, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), da qual se tornou um dos mais destacados militantes.

Dotado de muito dinamismo e espírito de iniciativa, participou activamente na fundação da Casa dos Pescadores.

Preso pela primeira vez em 1928, o Tribunal Militar Especial condenou Jaime Rebelo à pena de deportação em Angola e nos Açores, regressando a Setúbal em 1931, a tempo de participar na greve dos marítimos desse mesmo ano.

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Em 1934, viu-se envolvido numa insurreição, integrando já o Comité Revolucionário de Setúbal.

Nesse mesmo ano de 1934, embora procurando iludir a vigilância a que era sujeito, Jaime Rebelo foi detido na Serra da Arrábida, por uma patrulha da GNR.

Já detido, manteve sempre um silêncio prolongado a todas as perguntas que lhe foram feitas mas, na iminência das torturas a que pudesse ser submetido e recusando-se a denunciar colegas e amigos, com uma lâmina de barbear, cortou a língua em sentido vertical, tendo cuspido todo o sangue na cara dos polícias e provocando um ferimento que veio a ser suturado com oito agrafes, no Hospital da Misericórdia de Setúbal.

Este acto de coragem inspirou a Jaime Cortesão o poema “Romance do Homem de Boca Fechada” e a David Mourão- Ferreira o conto “Solução”.

Durante a Guerra Civil de Espanha (1936-1939), juntou-se às milícias da Confederação Operária Anarco-Sindicalista (CNT), tendo comandando uma unidade de combate que esteve presente e travou várias batalhas na frente Sul.

Com o avanço dos falangistas de Francisco Franco, Jaime Rebelo, refugiou-se em Barcelona, último bastião da Espanha republicana. Aí conheceu Eloísa, uma basca, também ela refugiada. Viveram os dois até se evadirem para França.

Separados pela polícia francesa, Eloísa foi desterrada para a Bretanha e Jaime Rebelo foi internado, primeiro no campo de Argelès-sur-Mer, depois no campo de Gurs.

Em 1940, ao tentar regressar a Portugal, Jaime Rebelo foi preso na fronteira espanhola de Valência de Alcântara. Transferido, primeiro para a prisão do Aljube, depois para a de Peniche, foi libertado em Maio de 1941 por se encontrar tuberculoso. Percorreu, então, uma via extremamente dolorosa, sendo transferido para  diferentes sanatórios, até ser finalmente considerado curado, em 1952.

A guerra civil de Espanha terminara há cerca de 25 anos quando Jaime Rebelo recebeu, em Setúbal, uma carta assinada também por outro Jaime Rebelo. Era seu filho (e de Eloísa), um jovem que queria conhecer o pai de quem herdara o nome

Continuamos para a semana.

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