9 Maio 2024, Quinta-feira

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Rankings

Rankings

Em junho, foram publicados os rankings das escolas, que avaliam os resultados dos exames nacionais. Considerando o ensino secundĆ”rio, verificamos que, no distrito de SetĆŗbal, num total de 45 escolas, existem 6 escolas privadas, que ocupam os 5 primeiros lugares. Se considerarmos o ensino bĆ”sico, num total de 83 escolas, existem 7 escolas privadas, que ocupam os 7 primeiros lugares.

 

Uma leitura simplista e enviesada dos resultados poderia indicar que o ensino privado Ć© melhor e que as crianƧas das famĆ­lias ā€œricasā€ (para usar a linguagem da esquerda) tĆŖm um conjunto de oportunidades mais vasto do que as crianƧas de contextos menos favorecidos e que, por isso, as desigualdades sociais irĆ£o manter-se ou agravar-se. Isto, claro, ignorando que existe uma percentagem cada vez maior da chamada ā€œclasse mĆ©diaā€ que sacrifica, muitas vezes, o seu bem estar, para colocar os filhos nestas escolas privadas. Mas, evidentemente, que nĆ£o Ć© assim tĆ£o simples. Os rankings apenas permitem comparar resultados de exames, objetivos, e nĆ£o tĆŖm em conta outras dimensƵes, tambĆ©m importantes, da educaĆ§Ć£o. Da mesma forma, nĆ£o tĆŖm em conta fatores como a diversidade dos alunos, a localizaĆ§Ć£o geogrĆ”fica da escola ou o contexto socioeconĆ³mico em que se insere.

 

Assim, com base nos rankings, podemos – e devemos – fazer perguntas, mais do que criticar o processo. Porque Ć© que as poucas escolas privadas aparecem, quase sempre, no topo? O contexto dos alunos condiciona a sua aprendizagem? Os professores ou os projetos educativos das escolas sĆ£o fatores que contribuem para estes resultados? A qualidade das infraestruturas ou a manutenĆ§Ć£o adequada, que impede, por exemplo, que os alunos tenham frio no inverno, nĆ£o ajudarĆ” tambĆ©m?

 

As respostas a estas questƵes serĆ£o, na maioria dos casos, sim! EntĆ£o, porque Ć© que as escolas pĆŗblicas nĆ£o tĆŖm melhores resultados? Ou porque Ć© que a escola pĆŗblica deixou de ser o elevador social que transformou Portugal na segunda metade do SĆ©c.XX?

 

A Escola PĆŗblica fechou-se em si mesma e cristalizou. O acesso Ć  carreira docente Ć© complexo e assenta num sistema que nĆ£o dĆ” estabilidade aos professores e que, com o congelamento das carreiras, frustra as expetativas; as tarefas burocrĆ”ticas, ao contrĆ”rio das pedagĆ³gicas, ocupam cada vez mais tempo; as diretrizes de Lisboa sĆ£o transversais e nĆ£o respeitam a autonomia das escolas; e, como perspetiva de uma Escola PĆŗblica que se limita a receber alunos, por via do cĆ³digo postal, temos professores e Governo a discutir a manutenĆ§Ć£o do sistema, degladiando-se, apenas, nos valores que uns querem e que outros podem (ou querem) pagar.

 

Ɖ preciso mudar o paradigma! Ɖ possĆ­vel um modelo em que o Estado deixa de ser apenas prestador, para passar a ser financiador dos alunos, permitindo Ć s famĆ­lias escolher a escola com que mais se identificam. Um modelo em que as escolas tĆŖm autonomia na definiĆ§Ć£o do seu projeto educativo e na contrataĆ§Ć£o dos professores mais adequados, no seu modelo de gestĆ£o e na sua organizaĆ§Ć£o. Um modelo em que existe concorrĆŖncia entre escolas. Um modelo em que o financiamento assenta nos resultados e que, por isso, incentiva as piores escolas a melhorar o seu desempenho em funĆ§Ć£o do benefĆ­cio dos alunos, para que sejam mais atrativas. Isto porque a escola existe para benefĆ­cio dos alunos e nĆ£o para a manutenĆ§Ć£o dos interesses instalados Ć  volta do sistema atual.

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