26 Abril 2024, Sexta-feira
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O 25 de Abril explicado às crianças (e a alguns autarcas nacionais)

Partilho o privilégio de ter sido uma das pessoas convidadas pela União de Resistentes Antifascistas Portugueses para visitar algumas escolas e conversar com várias turmas de crianças sobre o 25 de Abril.

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Nessas visitas tenho abordado tópicos ligados ao regime ditatorial fascista em Portugal que, durante mais de quatro décadas, empobreceu, oprimiu, perseguiu, torturou e matou.

Um regime que negou princípios fundamentais como os da universalidade, da solidariedade e da igualdade no acesso à saúde, à justiça, à educação, ao trabalho digno, ao apoio social, à igualdade de oportunidades, ao bem-estar, à coesão social, à liberdade religiosa e de expressão, ou à cultura e ao conhecimento.

Falo com as crianças sobre a resistência antifascista e a revolução, sobre a criação da Constituição da República e em muitas outras conquistas de Abril, como a criação do Serviço Nacional de Saúde e do Sistema Público de Segurança Social, a consagração de um Estado laico e a separação do poder judicial do poder executivo.

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Abordo as denúncias, a censura prévia, o “lápis azul”, o papel do Secretariado de Propaganda Nacional e do “marketing” político. Digo às crianças que, infelizmente, há muitos problemas que, nestes 49 anos de democracia, não conseguimos ainda resolver.

Dou-lhes o exemplo da precariedade e exploração, das clivagens sociais e da discriminação dos cerca de dois milhões de portugueses que ainda vivem na pobreza, dos que não têm acesso com qualidade à saúde, à justiça, à educação e à habitação digna.

Termino as sessões alertando para o perigo do branqueamento da história, para a necessidade de estarmos atentos e vigilantes, para que o 25 de Abril viva para sempre e que o fascismo não volte nunca mais.

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As crianças seguem estas explicações sempre muito atentas, curiosas, fazem perguntas, interagem e entendem perfeitamente tudo o que lhes é transmitido. Mas é, no entanto, com elevada tristeza, que verifico que muitos adultos não possuem o grau de maturidade destas crianças.

A forma como as saudações ao 25 de Abril e ao 1.º de Maio são apresentadas e votadas nos órgãos autárquicos do País constituem verdadeiros estudos-de-caso. Assiste-se a inaceitáveis tentativas de condicionamento e de escamoteamento da realidade portuguesa e a um grande desconforto de alguns autarcas com a referência a factos reais como as conhecidas ineficiências e fragilidades do SNS, da Segurança Social, da educação ou a existência de precariedade laboral em Portugal.

Quando adultos com responsabilidades pelos destinos de autarquias não conseguem assimilar aquilo que as crianças de dez anos entendem tão bem, quando as tentativas de condicionamento e de branqueamento, a leviandade e o constante “marketing” político prevalecem, ficamos com a certeza de que, de facto, ainda temos um caminho extremamente longo a percorrer para cumprirmos plenamente Abril.

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