29 Março 2024, Sexta-feira
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Pensar Setúbal: O descontentamento dos profissionais da Educação

“(…) Nós pessoal não docente não somos apenas empregadas de limpeza. Somos muito mais que isso, somos polícias quando temos que andar a investigar o que eles andam a fazer de mal, enfermeiros quando se aleijam, psicólogas quando tem problemas em casa e vêm tristes para a escola, somos assistentes sociais, detetamos que os meninos passam necessidades e damos-lhes de comer muitas vezes do nosso bolso, arranjamos roupas e bens materiais para os que não têm. Somos cuidadoras de tantos meninos de ensino especial alguns mesmo de fralda, de cadeiras de rodas, autismo entre tantos outros problemas(…)
Se faço greve?? CLARO QUE SIM.
Quando dizem que esta greve é para professores esquecem-se de muitas vezes dizer que nós assistentes operacionais estamos no mesmo barco.”
Marta Lopes (assistente operacional)

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A excelente reflexão da Marta Lopes, serve de mote para uma questão extremamente importante. Muitas vezes o pessoal não docente é esquecido, negligenciado, e no entanto, desempenham um papel vital nas dinâmicas operativas de uma escola. Este será um assunto a tratar na crónica da próxima semana.
No passado Sábado em Lisboa estiveram presentes cerca cem mil profissionais da Educação. De Setúbal, seguiram quatro autocarros cheios de gente bem-disposta, intensa e resoluta.
Estas manifestações são, em termos estritamente emocionais, extremamente importantes pois permitem-nos (re)encontrar colegas e amigos que já não víamos há bastante tempo. Risadas, abraços efusivos, conversas animadas retemperam-nos a Alma.
Vamos então ao assunto que aqui me traz. Quais os motivos que levaram cerca cem mil pessoas, desde Vila Nova de Cerveira até Faro, a deixarem as suas casas, o seu conforto aos fins de semana e deslocarem-se de autocarro até Lisboa? E de seguida, fazerem greve
Aparentemente terá sido o modelo de contratação o motivo principal que fez transbordar o copo; na prática o copo já estava cheio de injustiças, que se foram acumulando principalmente ao longo destes últimos 20 anos.
As questões de fundo vão muito mais além das contratações, das carreiras, das colocações, dos concursos. Tem a ver com a progressiva degradação da escola ao longo das sucessivas décadas, directamente relacionada com a acentuada desvalorização da classe docente e do pessoal não docente.
De Medicina percebem os médicos; de Engenharia percebem os engenheiros. De Educação toda a gente percebe, toda a gente dá a sua opinião, em virtude desta ter sido sempre uma área de abrangente intervenção social. As dinâmicas decisionais por parte dos governos exprimem-se quase sempre através das ideologias, doutrinas, crenças, convicções e mais grave, através de supostas teorias que carecem de validação posterior, em detrimento do conhecimento científico associado.
E então entramos na dimensão das experiências recorrentes, o que acarreta uma mudança constante de regras, com efeitos perversos em toda a dinâmica científica, pedagógica e didáctica
A falta de autoridade e falta de dimensão social e profissional dos professores, do pessoal não docente, a alteração da modalidade dos concursos, a falta de recuperação do tempo de serviço congelado (na Madeira e nos Açores esse assunto já está resolvido, gerando situações de injustiça para com os professores do Continente), os critérios discutíveis na progressão nas carreiras, na avaliação do desempenho docente e não docente, na avaliação dos alunos, a falta de ajudas de custo para os professores deslocados, a estagnação dos vencimentos, a menor vinculação e estabilidade e o excesso de burocracia em vigor constituem causas mais que justificadas que levam a este “vulcão adormecido” por vezes expluda, tal como sucedeu no passado Sábado, fazendo lembrar as manifestações ocorridas em 2008, com Maria de Lurdes Rodrigues.
Gostaria de saber na nossa classe política quem são aqueles que têm, de facto, os seus filhos no ensino público? Descobriríamos provavelmente que muito poucos, acentuando a hipocrisia entre os que fazem juras eternas ao ensino público e simultaneamente têm os filhos no ensino privado.
Tudo isto conjugado, afasta inexoravelmente os jovens da carreira de professor, com efeitos perversos na sociedade.
Uma sociedade que não respeita todos os profissionais da educação, não se respeita a si própria.

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