19 Abril 2024, Sexta-feira
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PENSAR SETÚBAL: Curdistão: Uma história esquecida (1ªparte)

Durante a minha visita a Birmingham, a minha filha Leonor apresentou-me um colega e amigo, Twana Kamal Haji, um curdo iraquiano. Homem extremamente inteligente, culto e sensível, ficou particularmente emocionado quando eu lhe disse que era uma honra conhecer o filho de um guerreiro Peshmerga.
E, portanto, hoje vamos falar de um país e de um povo que luta pela sua independência, mas do qual actualmente ninguém ouve falar: O Curdistão.
O Curdistão é constituído por um vasto planalto localizado na parte norte da antiga Mesopotâmia. Não é um estado independente, mas uma região geográfica habitada por curdos e dividida entre a Turquia (a maior parte), Irão, Iraque e Síria, num total de 37 milhões de pessoas.
Ao longo dos sucessivos séculos, os curdos foram sujeitos a tentativas de assimilação forçada, discriminações e perseguições diversas que determinaram de uma forma acentuada a sua identidade, nomeadamente a aspiração de autonomia.
Com o fim da 1ª Guerra Mundial, assistiu-se a um redesenhar de fronteiras, na sequência da derrota do Império Otomano e a consequente repartição dos seus territórios que gerou nos curdos um optimismo, na sequência do Tratado de Sevres assinado em 1920 pelos vencedores da guerra.
Todavia, este tratado nunca foi aplicado, porque a vitória do exército turco liderado por Mustafa Kemal Atatürk, eliminou quaisquer veleidades de independência. A palavra Curdistão foi simplesmente eliminada dos livros escolares turcos.
Em 1988, poucos meses antes do fim da guerra entre o Irão e o Iraque, intensificou-se a repressão de Saddam Hussein contra a população curda. O acontecimento mais grave foi o ataque químico di Halabja, no qual foram mortos 5.000 curdos, com cianeto.
Em 2005, após a queda de Saddam Hussein, verificou-se uma progressiva autonomia, levando à criação de um governo regional do Curdistão.
A partir de 2014, os curdos tiveram de se confrontarem com o Daesh, procurando evitar a difusão do fundamentalismo islâmico.
Para obstar ao seu avanço, foram fundamentais os guerreiros Peshmerga, tal como tinham sido no passado contra Saddam Hussein.
Quanto aos curdos que vivem na Síria, têm sofrido discriminações e repressões diversas por parte do governo central liderado quer por Hafez-al-Hassad, quer pelo filho Bashar que durante anos maltrataram-nos, confiscando-lhes terras e atribuindo-as a famílias árabes deportadas à força de outras províncias. Por outro lado, o ensino da língua curda foi proibido nas escolas.
Todas estas políticas segregacionistas foram oportunamente denunciadas em 2009, através de um relatório elaborado pelo Conselho das Nações Unidas para os Direitos Humanos intitulado “Perseguições e discriminações contra os cidadãos curdos na Síria”, onde se provou documentalmente todas as atrocidades cometidas.
Ainda assim, em 2013, durante a guerra civil, os curdos-sírios das áreas norte e nordeste constituíram uma federação não reconhecida pelo governo central, conhecida como Rojava, habitada também por grupos minoritários árabes, assírios, caldeus, turcomanos, arménios e chechenos. Essa federação elaborou uma Carta de Contrato Social, alicerçada na democracia participativa, a fim de garantir a todos os povos, os mesmos direitos.
Entre as principais cidades de Rojava existe Kobanê que se tornou famosa pela tenaz resistência oposta ao avanço do Daesh que a assediou entre 2014 e 2015.
Ao avanço dos fundamentalistas islâmicos do Daesh, os curdos-sírios reagiram determinados e assumiram gradualmente o controlo militar do território que tinha sido, entretanto, abandonado pelo exército regular sírio.
Um aspecto de importância extrema, diz respeito à participação na guerra das mulheres curdas, criando para esse efeito da Unidade de Defesa Feminina, nas batalhas de Kobanê, bem como em todas as zonas limítrofes.
Com o apoio dos Estados Unidos, os curdos-sírios conseguiram empurrar e desmantelar grande parte do controlo territorial do Daesh.
Quanto ao Curdistão iraniano, o estado central reconhece a língua e a cultura curdas, mas não há autonomia política ou administrativa, apesar da existência da província do Curdistão. A repressão de qualquer protesto curdo no Irão geralmente resulta em prisões e condenações e até mesmo em casos de tortura e execuções.
As províncias habitadas pela maioria de curdos, na parte Oeste, são fortemente afectadas pela pobreza.
Continuamos para a semana.

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