28 Março 2024, Quinta-feira
- PUB -
InícioOpiniãoPENSAR SETÚBAL: A Herdade da Comenda, por Viriato Soromenho- Marques

PENSAR SETÚBAL: A Herdade da Comenda, por Viriato Soromenho- Marques

O texto que irão ler a seguir não é da minha autoria, mas sim do professor Viriato Soromenho-Marques, publicado no Diário de Notícias de 15 de Outubro e que tal como todos os setubalenses, tem vindo a seguir com bastante preocupação e desagrado, o que os novos proprietários têm procurado fazer na Herdade da Comenda, de forma tanto prepotente, quanto ilícita, em muitos casos.

- PUB -

Como é um texto excelente, assertivo e directo, na esteira dos escritos do distinto e prestigiado professor setubalense, subscrevo na íntegra tudo o que vem escrito e aconselho vivamente a sua leitura. Vai precisamente ao âmago das principais questões associadas.

“Benjamin Constant na Arrábida

A CMTV publicou, recentemente, uma notável reportagem da jornalista Cláudia Rosenbusch, sobre um tema que revela a fragilidade da nossa democracia e o fraco desempenho do império da lei.

- PUB -

Trata-se de um estranho conflito movido por uma empresa privada, alegadamente ligada à família Mirpuri, contra instituições públicas, associações cívicas e numerosos cidadãos de Setúbal e concelhos vizinhos. Este caso começa em 2019 com a compra, pela referida empresa, da Herdade da Comenda, por 16 milhões de euros. Trata-se de uma propriedade com cerca de 600 hectares, com descontinuidade entre algumas das suas parcelas, mas toda situada no Parque Natural da Arrábida. O terreno contém também algum património construído, incluindo um magnífico solar, desenhado pelo arquiteto Raul Lino há mais de um século, e a capela de São Luís, edificada no final do século XVII.

Lembro-me de que a notícia da aquisição da Comenda por uma família que conta no seu acervo uma fundação, com atividades culturais e de interesse público, criou a expetativa positiva de que os novos proprietários pudessem restaurar e beneficiar os valores naturais e arquitetónicos que ficariam sob sua tutela. Infelizmente, a atitude dos novos donos foi a da ocupação abrupta e ostensiva do terreno, fechando caminhos rurais (até aí usados, para fins recreativos, por ciclistas e caminhantes), erguendo cercas e vedações, destruindo equipamentos pré-existentes que há muito serviam as populações (parque de estacionamento da praia de Albarquel e parque das merendas da Comenda), alterando as margens e o leito de ribeiras, construindo mesmo uma represa, bloqueando o acesso à capela de São Luís, na qual se realiza anualmente uma antiga festa religiosa, ocupação do domínio público rodoviário por pilaretes, redes e correntes, e não estou a ser exaustivo.

A maioria esmagadora destas iniciativas foi tomada de forma ilegal, desrespeitando leis existentes e as autoridades que as tutelam. Entidades como o Município de Setúbal, o PNA, o ICNF, as Infraestruturas de Portugal e a Diocese de Setúbal fizeram diligências, mas outras entidades estão também envolvidas. A atitude do novo proprietário tem sido a da indiferença e mesmo desobediência (como ficou patente na tentativa de bloquear o acesso à capela de São Luís da reportagem da CMTV, apesar da restituição judicial da mesma à diocese). O problema é materialmente grave, pois há riscos para a saúde e o ambiente. Há caminhos corta-fogos que ficaram inoperacionais, as obras efetuadas na berma das estradas aumentam a probabilidade de acidentes, as vedações limitam a circulação da fauna.

- PUB -

O principal obstáculo a que a lei e o interesse público não fiquem submersos perante a apatia, o desinteresse e mesmo a cumplicidade daqueles que os deviam defender contra os seus violadores, tem sido a ação persistente e esclarecedora de uma associação cívica defensora da Arrábida e do Sado. Há duzentos anos, o filósofo e político franco-suíço Benjamin Constant antecipava a causa deste caso, tornado hoje em ameaça universal das democracias modernas: “nos nossos dias, os particulares são mais fortes do que os poderes políticos; a riqueza é uma potência mais rapidamente disponível, mais aplicável para todos os interesses, e consequentemente mais real e mais bem obedecida”.

O caso da Arrábida não é apenas um exemplo da arrogância dos poderosos perante uma lei que deveria ser igual para todos. É também um perigoso sintoma de doença da nossa república.”

 

- PUB -

Mais populares

Grande empreitada da Praça do Brasil já começou e rotunda tem estátua nova

Menino a brincar com um comboio numa linha infinita é a nova imagem de uma das zonas mais emblemáticas da cidade

Selecção Nacional lança equipamento com semelhanças “inegáveis” ao do Vitória FC

Designer da camisola dos sadinos garante estar “lisonjeada” e realça que se trata de “pelo menos uma grande coincidência”

“A peça do Zeca Afonso não é minha, é das pessoas de Setúbal”

Ricardo Crista tem trabalhos espalhados por todo o mundo. Autor do memorial a Zeca Afonso revela nova peça que vai nascer na cidade
- PUB -