27 Abril 2024, Sábado
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Marchas Populares de Setúbal, uma marca a preservar

Quando cumpri o serviço militar, na instrução, aprendi a marchar, marcha militar, cadenciada por um ritmo a uma só voz. Aprendi, orgulhosamente, a marchar, não por mim, mas por Portugal, pelo povo português.
Mas nem só de marchas militares se faz a história. A nossa tradição, a nossa cultura, ensinou-nos a apreciar outras formas de marchar ou de ver marchar; é o caso das Marchas Populares, tradição portuguesa associada aos festejos dos Santos Populares, e que naturalmente tem o seu auge em junho, quando saem à rua. É assim que acontece em Setúbal.
Acontece ou acontecia? Pergunto porque assistimos, ano após ano, a um decréscimo do número de coletividades a inscrever-se para participar nos desfiles. Hoje sabemos que a edição de 2022 terá 5 marchas a concurso, um mínimo histórico, pela negativa, um número que deveria deixar o responsável pela cultura do executivo municipal setubalense verdadeiramente preocupado. Cada vez são menos os que marcham, são menos os que orgulhosamente e com aquele toque bairrista que nos caracteriza, desfilam com as cores da sua coletividade. Poderíamos dizer que é o resultado de mudanças sociais, dos gostos das novas gerações, mas, se assim fosse, não assistiríamos a um crescente interesse por esta tradição noutros concelhos, onde a maioria dos marchantes são jovens motivados e entusiastas.
Se queremos que o Concurso das Marchas Populares seja um verdadeiro ancoradouro da vontade de fazer das Marchas uma centralidade do desenvolvimento da cultura popular setubalense, temos de olhar com seriedade para o evento. Podemos atribuir a responsabilidade à pandemia, maldita pandemia que está gasta de tanto ser utilizada como desculpa. Curiosamente, aqui bem perto, no concelho de Lisboa, acontece que desde o mês de janeiro as coletividades estão a trabalhar nas suas marchas, conhecem as regras do Concurso, foram informadas dos moldes com que se deviam orientar, foram informadas sobre o apoio financeiro de 30 mil euros a cada uma delas. Sim, 30 mil euros. Por cada quilómetro que percorremos na EN10 a caminho de Lisboa, o apoio que cada coletividade recebe equivale a mais 400 euros. Nós, por cá, continuamos a acreditar que as coletividades fazem milagres com 14 mil euros (verba atribuída este ano a cada uma, excecionalmente). E realmente fazem! Porque a ginástica e a dedicação empregues traduzem-se em resultados fabulosos na rua.
Há que analisar de forma séria e rigorosa o que se passa em Setúbal, um concelho onde ainda há bem poucos anos teve de se impor a limitação da participação de coletividades, deixando algumas de fora, porque haviam muitas inscrições e não havia condições de apoio a todas elas, e agora esperamos e desesperamos para que um número mínimo se inscreva.
Na minha vida aprendi que se não acreditas, não moves mundos para que algo aconteça, e temo que seja este o verdadeiro problema das Marchas em Setúbal. Não vemos neste executivo, e em especial no atual Vereador da Cultura, a paixão que esta tradição, com raízes fortes em Setúbal, merece. Apoios financeiros que não crescem, uma gritante ausência de resposta às questões levantadas pelas coletividades, um arrastar da calendarização para colocar esta grande máquina em funcionamento, enfim, uma falta de consciência cultural setubalense para perceber que Setúbal e as suas gentes, gostam de marchar. Está na sua génese.
No Partido Socialista tudo faremos, de acordo com o que está ao nosso alcance, para que Setúbal volte a ser, hoje e sempre, uma cidade de Marchas Populares!

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