23 Março 2023, Quinta-feira
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InícioOpiniãoA Gripe Pneumónica de 1918/1919 (parte I)

A Gripe Pneumónica de 1918/1919 (parte I)

Nas minhas aulas de Ciências Naturais, no Agrupamento de Escolas Lima de Freitas, temos um capítulo final onde se fala sobre micro-organismos.

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Para estabelecer um paralelismo com a actual situação do Covid-19, mostro-lhes um pequeno filme com locução do historiador Fernando Rosas, sobre a Gripe Pneumónica de 1918/1919, que aconselho vivamente. Após a apresentação do referido filme, temos debate.

A Pneumónica causou a morte a cerca de 60 mil pessoas em Portugal, tendo perecido quase 50 milhões de pessoas em todo o Mundo. Foi considerada a epidemia mais mortífera de todos os tempos, matando mais gente do que a 1.ª Guerra Mundial.

A Pneumónica ficou na História de todos nós, no nosso imaginário colectivo. Recordo com particular nitidez os relatos pormenorizados dos meus avós maternos, a avó Júlia e o avô Carlos, que estremeciam e se angustiavam, simplesmente com a sua evocação.

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Os que sobreviveram, transportaram durante muitos anos, a dor e a memória sofrida, dessa calamidade que flagelou países, cidades, localidades, famílias inteiras.
A miséria, a guerra e a fome conjugaram-se numa trilogia mortífera, potenciando a pandemia.

A Pneumónica atacou em força o País, atingindo uma população que, em 1911, era estimada em cerca de cinco milhões de habitantes, 20% dos quais vivendo em cidades.
Essa população caracterizava-se por uma elevada taxa de mortalidade, em particular infantil, cuja principal causa de morte era, em condições normais, a tuberculose (que só entre 1910 e 1920 matou cerca de 100 mil portugueses), a que se deve acrescentar a pneumonia, o tifo e a varíola.

Grassando em Espanha desde Maio de 1918, a Pneumónica detectou-se já em Portugal em finais desse mês. Da fronteira terá irradiado para o litoral a partir de dois pólos distintos: um, situado mais ao Centro, envolvendo concelhos raianos dos distritos da Guarda e Castelo Branco e o outro, mais a Sul, englobando concelhos dos distritos de Beja e Évora.

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Progredindo rumo ao litoral, a gripe, na sua primeira onda epidémica, menos violenta, entre finais de Maio e meados de Julho, rapidamente atingiria os grandes centros urbanos de Lisboa e Porto.

A partir destas áreas metropolitanas, na segunda e última vaga epidémica, muito mais agressiva, desde Agosto a finais de Novembro de 1918, estender-se-ia a todo o território continental, provocando uma autêntica razia demográfica, com graves repercussões sociais e económicas.

De acordo com o que escreveu o Dr. Ricardo Jorge, Director-Geral de Saúde e médico epidemiologista, em Setembro de 1918: “A vaga epidémica que nos princípios de Junho rolou de Hespanha, há que reconhecer que nos tratou com acentuada benignidade.

Trazia já no seu séquito os ataques pulmonares, que mais serviram para caracterizá-la, mas não há dúvida que foi o menos maligna possível; branda, de pouca demora, e até de mais fraca difusão que a habitual(…). Desde Agosto que uma nova vaga se enrola, sem a relativa inocência da primeira”.

Como se viu, após uma aparente acalmia, o surto agravou-se, propagando-se rapidamente pelo País, evidenciando uma mortalidade elevada, gerando o pânico entre todos e deixando evidente o quadro de incapacidade generalizada para o combater.

Na ocasião, procuraram-se accionar medidas, por vezes contraproducentes, entre as quais autorizações de deslocações de pessoas, nomeadamente militares. Sobreveio um cenário de total impotência, a começar pela medicina, que, tal como sucede hoje, embora de forma bem mais grave, evidenciava grandes dificuldades em lidar com este tipo de doenças.
Continuamos para a semana.

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