26 Abril 2024, Sexta-feira
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Um novo e importante contributo para a História de Setúbal

Caro leitor, acabou de sair Setúbal sob o Estado Novo: a resistência a Salazar (1933-1949), que é o 1.º volume da 4.ª obra de um vasto projecto sobre a História de Setúbal (e concelho). O projecto, que cobre os anos de 1248 a 1975, é uma tarefa de fôlego do historiador Albérico Afonso Costa, nome bem conhecido na cidade do Sado, a cuja história se tem dedicado desde há muitos anos. Em resultado desse trabalho, árduo e solitário, a maior parte passado no pó dos arquivos, a outra parte no isolamento da escrita, já dispúnhamos de três obras.

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Ficamos a aguardar o 2.º volume, que finalizará o projecto e corresponderá aos anos de 1949 a1974. Por razões práticas da investigação, ou outras que só o autor sabe, estes dois volumes, de 1933 a 1974, foram ultrapassados, cronologicamente, pela publicação da 3.ª obra, em 2017, que cobre 1974 e 1975.

As obras publicadas têm estruturas diferentes.

A primeira, História e Cronologia de Setúbal (1248-1926), de 2011, é o tipo de cronologia habitual – uma ordenação temporal dos acontecimentos – composta por entradas cronológicas por anos, dias e meses, em que cada facto mais simples ou acontecimento mais complexo é registado nessa data através de um pequeno texto descritivo. O conjunto das entradas cronológicas é separado por épocas histórico-cronológicas (Setúbal Pré-Romana, Medieval, Moderna, Liberal e Republicana), que são introduzidas por textos explicativos de média dimensão que enquadram cada época. Um vasto conjunto de reproduções de documentos, fotografias e outras imagens de personalidades e acontecimentos completa a cronologia. Trata-se de um instrumento de trabalho muito útil para os investigadores e para o público em geral, pois dá-nos a «fibra do passado, o sentido da existência, a memória e a identidade das cidades», como refere o autor no prefácio.

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A segunda, Setúbal sob a Ditadura Militar (1926-1933), de 2014, abre uma grande janela sobre o acontecimento marcante – a instauração da Ditadura Militar – que muda a natureza política do regime (e abre a porta ao Estado Novo), dando o nome a esse período. A análise aprofundada desse acontecimento é seguida por uma cronologia, que continua a iniciada em 1248, na 1.ª obra.

A terceira, Setúbal, cidade vermelha: sem perguntar ao Estado qual o caminho a tomar (1974-1975), de 2017, tem uma estrutura semelhante à da obra anterior, centrando-se nos acontecimentos histórico-políticos e sociais dos anos de 1974 e 1975.

Neste projecto teria cabido, plenamente, uma 5.ª obra sobre a I República (1910-1926), tema que o autor publicou no âmbito das comemorações do centenário deste acontecimento marcante, em 2010, com o título: Setúbal: Roteiros Republicanos.

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A estrutura do livro é um pouco diferente da dos anteriores. Na maior parte dele faz-se a abordagem descritivo-interpretativa dos acontecimentos durante este período do Estado Novo, num registo por capítulos, pontos e subpontos, como é habitual na maior parte dos livros de História (e inclui algumas conclusões). A seguir, continua a cronologia das duas obras anteriores (1248-1926 e 1926-1933), completada com a informação de uma vasta reprodução de documentos, fotografias e outras imagens de personalidades e acontecimentos. No fim, traz uma lista com o perfil dos 244 presos, esclarecedora da natureza do Estado Novo e do tempo histórico e acontecimentos que narra.

Todo o conteúdo é sobre o período de maior repressão do novo regime do Estado Novo – os anos de chumbo – que ocorreu, primeiro, por necessidade da sua afirmação como «a única alternativa patriótica e salvadora da pátria». Depois, por necessidade de luta contra o que ainda existia da resistência operária e popular, até tentar extirpar, de vez, os restos do chamado «cancro bolchevista».

É um período em que ocorrem as piores crises da indústria conserveira, o 18 de Janeiro de 1934 (auge da luta contra a instauração do novo regime e estertor do movimento reviralhista e sindicalista), a Guerra Civil de Espanha e a II Grande Guerra. Apesar de todo o ambiente hostil à continuação da luta contra o novo regime, são inúmeros os episódios relatados da sua continuação em condições muito desiguais e adversas para o que resta do movimento oposicionista. Foram anos duríssimos, em especial para os trabalhadores, num tempo sem Estado Social nem, sequer, subsídio de desemprego, tempo de vingança do patronato pelo susto do tempo da I República.

Mas o livro fala-nos também do outro lado, de dentro do regime, das contradições, lutas intestinas entre facções e entre instituições e suas competências.

Em 1944, era este o retrato que o novo Governador Civil traçava: «Isto é o pior que há em Portugal sob o ponto de vista de condições de vida das classes operárias».

A tradição historiográfica de Setúbal, que tem estabelecido a sua História e ajudado a construir a sua identidade, tem tido o relevante contributo de muitos nomes, refiro só alguns (sem desprimor para os outros): Almeida Carvalho, Manuel Maria Portela (cujos manuscritos foram a base da obra de Alberto Pimentel), Laurinda Abreu, e, não sendo historiadores no sentido usual do termo, Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares, que, para um período mais recuado (através da arqueologia), nos têm posto, literalmente, a nu as provas enterradas do passado longínquo de Setúbal e feito a sua leitura, contextualização e interpretação histórica. Albérico Afonso Costa, quando completar estas quatro obras, junta-se-lhes por direito próprio como o historiador com o mais vasto e completo contributo para a História Contemporânea de Setúbal.

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