Palácio da Comenda (I) Breve enquadramento cronológico

Palácio da Comenda (I) Breve enquadramento cronológico

Palácio da Comenda (I) Breve enquadramento cronológico

4 Março 2020, Quarta-feira
Giovanni Licciardello - Professor

Hoje dou início a um conjunto de três crónicas sobre o Palácio da Comenda e áreas envolventes: a primeira, umas notas breves de natureza histórica; a segunda, salientar o estado de degradação a que chegou e referir a sua venda; a terceira, reflectir sobre alguns problemas surgidos entre os novos proprietários e outros interlocutores, nomeadamente a Autarquia.

Em 2016 e neste mesmo jornal, a jornalista Fátima Brinca tinha efectuado oportunamente uma reportagem a todos os títulos notável sobre o estado em que se encontrava uma das nossas “jóias da coroa”.

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Segundo nos conta o professor João Reis Ribeiro, numa excelente investigação que efectuou, desde 1872 que a propriedade pertencia de um francês Ernest Armand, por compra que este fizera a Henrique Maria Albino, morador em Beja.
Em 1898, Ernest Armand fez uma doacção ao filho, Abel Henri George, Visconde Armand, residente em Paris, aí incluindo o terreno da Comenda.

Em 1903 o Conde de Armand contactou o Arq.º Raul Lino no sentido de construir num pequeno promontório, sobranceiro ao rio Sado, onde existia uma velha casa, cujas paredes se aproveitaram em parte, pois foram levantadas sobre as muralhas de um antigo forte.

O Conde de Armand sugeriu que, antes de começar a projectar a construção, o arquitecto dormisse no local, durante uma noite ao luar. O repto foi aceite e o resultado foi o palacete da Comenda, que teve em Augusto Vitorino da Rosa a responsabilidade das obras de construção civil.

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Raul Lino esteve também ligado ao projecto de reconstrução do edifício dos Paços do Concelho, na Praça de Bocage, destruído por um incêndio na noite de 5 de Outubro de 1910. A reconstrução dos Paços do Concelho, que Raul Lino foi convidado para projectar em 1927, foi concluída somente em 1939.

Mas regressemos aos Palácio da Comenda. Em 1908, a revista A Arquitectura Portuguesa publicava um texto assinado por Henrique das Neves, onde era feita a apologia da construção: “Eis uma casa de habitação em cujo traçado colaboraram não somente o intento do seu destino, como também a região, o clima e a paisagem”.

A apreciação do autor resultou de um passeio que ele fizera até ao Outão na companhia de Ana de Castro Osório, tia-bisavó de minha mulher. O Conde Armand, Abel Henri George, faleceu em 1919, passando a propriedade para os herdeiros, a esposa, Condessa de Armand, Françoise de Brantes, e cinco filhos.

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Mais tarde, em 1952, o registo da propriedade era feito em nome da Sociedade Agrícola da Quinta da Comenda de Mouguelas, constituída pelos descendentes de Abel Henri George.

Em 1963, na sequência do assassinato do presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, a sua viúva Jacqueline Kennedy, para evitar o contacto com a imprensa e procurando alguma paz e a tranquilidade possível nessas circunstâncias, recolheu-se durante alguns meses no palácio da Comenda, juntamente com os dois filhos, Carolina e John, uma vez que a família Kennedy era amiga dos condes D’ Armand

Nos anos 80, a Quinta da Comenda seria adquirida por António Xavier de Lima. Nas décadas seguintes, o Palácio da Comenda foi sucessivamente ficando mais decrépito, até ter chegado a um estado de absoluta degradação, perfeitamente inadmissível. Com a morte de Xavier de Lima, ocorrida em 2009, o Palácio da Comenda e a propriedade onde se encontra, ficaram para os seus herdeiros.

Em 2019, o Palácio e as suas envolvências, foram finalmente vendidos. Continuamos para a semana.

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