26 Abril 2024, Sexta-feira
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A inclusão no Agrupamento de Escolas de Alcochete

A inclusão no Agrupamento de Escolas de Alcochete
Francisco Cantanhede - Professor
Francisco Cantanhede – Professor

No presente ano escolar, estão a ser implementadas medidas novas e outras inspiradas nas que foram seguidas no tempo da secretária de estado Ana Benavente – governo de António Guterres -, nomeadamente a área de projeto, a gestão flexível do currículo, projetos curriculares de turma e cidadania.  A grande novidade do atual ano letivo é a educação inclusiva: todos os alunos passaram a estar na sala de aula. No passado, os alunos com dificuldades de aprendizagem muito acentuadas eram retirados da sua turma em várias disciplinas, sendo acompanhados por professores especializados.  A implementação da mais recente legislação sobre a inclusão parece estar a criar grandes dificuldades às escolas. Mas, no aparente mar tenebroso, há uma caravela que navega na rota do sucesso; chama-se Agrupamento de Escolas de Alcochete. A sua diretora, professora Cristina Alves, disponibilizou-se para dar a conhecer «o caminho» que vem sendo construído há anos; «o caminho» que se acelerou «graças à nova legislação». Foi constituída uma equipa multidisciplinar, dirigida pela professora Filomena Lopes – «a alma da escola inclusiva» – que define as linhas orientadoras de atuação «deste ponto forte da escola, a inclusão». Tão forte que «encarregados de educação oriundos de outras áreas escolares procuram trazer os seus educandos para o nosso agrupamento».

A equipa multidisciplinar delineou para o agrupamento um plano de intervenção, no âmbito da inclusão, centrado no aluno e nos fatores que facilitam ou dificultam a sua aprendizagem. Neste plano de intervenção foram definidas prioridades: “começamos por fazer a readequação das medidas destinadas aos alunos que beneficiavam da Educação Especial, depois integramos os alunos do apoio educativo, das necessidades de saúde especial, os alunos de português língua não materna e os alunos sinalizados para tutoria específica e, finalmente, ousamos, para os alunos em risco de abandono escolar, flexibilizar o currículo mobilizando respostas de acordo com as potencialidades e interesses de cada aluno.” Para operacionalizar estas medidas, o agrupamento procurou parceiros – empresas e/ou instituições públicas e privadas com fins sociais- com os quais elaborou protocolos para desenvolvimento de estágios profissionais/vocacionais, numa perspetiva de preparação dos alunos para a vida ativa. Por exemplo, a Câmara Municipal disponibilizará um tutor que acompanhará os alunos motivados para o desporto; um centro hípico garantirá atividades aos alunos que declararam adorar animais; cafés/bares irão integrar alunos motivados para a área da restauração. Para todos estes alunos está contemplada a diferenciação pedagógica também na sala de aula.

Quando confrontada com o elevado número de alunos por turma e com a atribuição de seis, sete, oito, nove turmas a um docente, o que, obviamente, dificulta o trabalho de inclusão, Cristina Alves afirmou que, enquanto professora de História, sempre lecionou muitas turmas- «cheguei a ter nove e sempre trabalhei a diferenciação». Quando implementava o trabalho de grupo nas suas aulas, pedia a alunos de níveis de ensino mais avançados, que não tivessem atividades letivas, para a ajudarem, o que era do agrado de todos. «Claro que o ideal era ter dois professores, pelo menos, em algumas aulas! Que fique claro, nunca acetei nem aceitarei que a escola certifique a pobreza! Todos os alunos, independentemente da sua origem social, devem ter as mesmas oportunidades; para isso têm de ser seguidos caminhos diferenciados; é o que se promove no meu agrupamento!».

Ao pedido de sugestões para as escolas que estão a sentir grandes dificuldades na implementação das novas orientações para a inclusão, Cristina Alves respondeu: «dificuldades, obviamente, também nós sentimos, contudo, o nosso agrupamento tem as portas abertas para receber qualquer colega que deseje conhecer a nossa experiência. Eu fiz uma visita à Escola da Boa Água, em Sesimbra, e vim de lá com ideias que implementei aqui, no agrupamento de Alcochete.»

A diretora do agrupamento e as estruturas intermédias são as velas, o entusiasmo é o vento que fazem avançar a caravela – chamada Agrupamento de Escolas de Alcochete – na rota do sucesso da inclusão.