Seca pode ter consequências nefastas também no calibre das árvores. “Temperaturas actuais não são normais e as árvores morrem de um momento para o outro”, alerta o presidente da Associação de Produtores Florestais de Vale do Sado, maioritariamente representada por produtores de Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém, Sines e Odemira
Os produtores florestais estão preocupados com os reflexos que a seca prolongada pode ter na qualidade e na quantidade de cortiça tirada na campanha do próximo ano, assim como na mortalidade “acima do normal” de sobreiros.
“O nível de mortalidade de sobreiros é extremamente agravado pela seca. As temperaturas que estão actualmente não são normais e as árvores morrem de um momento para o outro”, disse ontem à agência Lusa o presidente da Associação de Produtores Florestais de Vale do Sado (ANSUB), Pedro Silveira.
Embora ainda sem dados concretos sobre a mortalidade de sobreiros, que, segundo destacou, afecta de forma “mais grave áreas de serra”, com “zonas mais áridas”, especialmente em “árvores mais jovens”, o mesmo responsável afirmou que a falta de água, numa altura em que há geralmente um “crescimento mais acentuado” da cortiça, pode ter reflexos no “calibre”.
É essa a “parte mais invisível” no imediato, afirmou o representante da ANSUB que conta com cerca de 200 produtores associados, maioritariamente dos concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém, Sines e Odemira, no litoral alentejano.
“A cortiça tem dois períodos de crescimento mais acentuado, na Primavera e no Outono, em que a seca pode ter reflexos no calibre [espessura], que vai ficar mais delgado e, consequentemente, vai desvalorizar e significa também menos quantidade”, explicou, indicando que esse “é um impacto que, neste momento, não se consegue ainda perceber”.
Segundo Pedro Silveira, os reflexos da falta de água podem mesmo ir além da campanha de tiragem de cortiça de 2018 e atingir a qualidade do produto nos próximos nove a dez anos, período que completa o “ciclo” de crescimento da casca do sobreiro até ao descortiçamento.
O mesmo foi referido por José Costa, produtor florestal com cerca de três mil hectares de terreno no Alentejo e no Algarve, dizendo que a falta de água, devido à “pouca chuva”, se tem sentido nos últimos cinco anos “na perda de árvores”, notando uma “mortalidade de 5 a 10%” por ano de sobreiros neste período, “que pode agora ser agravada”.
“As árvores ficam mais frágeis e acabam por adoecer e morrer mais facilmente”, disse.
Valorização da cortiça é a sua espessura
A seca também preocupa o presidente da União da Floresta Mediterrânica (UNAC), António Gonçalves Ferreira, lembrando que “a principal valorização da cortiça é a sua espessura”.
“Se houver cortiças mais delgadas [por causa do tempo seco] isso é mau para a produção”, alertou.
Outro dos pontos que preocupa o presidente da UNAC, que conta com cerca de 16 mil produtores e com uma área territorial de influência de dois milhões de hectares, representando cerca de 700 mil hectares de áreas agro-florestais, é o índice de mortalidade “acima do normal” nas árvores novas.
“Nós estamos preocupados. Começa a haver indícios de mortalidade acima do normal, mas nós temos esperança que chova nos próximos tempos”, disse.
Contactado pela Lusa, o presidente da Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), João Rui Ferreira, mostrou-se também preocupado com a situação de seca que o País atravessa, sublinhando, no entanto, que o sobreiro é uma espécie “altamente adaptada” ao meio em que se encontra e que as suas características lhe permitem “resistir” a cenários de seca extrema.
“A situação de seca actual pode, no entanto, gerar alguma perda de vitalidade nos sobreiros, sendo difícil avaliar o real impacto nos nossos montados, em especial nas árvores recentemente descortiçadas e que estão sujeitas a maior ´stress` hídrico”, disse.
Lusa