Entidades competentes garantem estar a tratar da situação em conjunto com familiares do indivíduo
Um indivíduo em situação de sem-abrigo tem vindo nos últimos meses a causar desacatos na cidade de Setúbal, deixando a população e alguns comerciantes amedrontados e sem saber o que fazer. Depois de tantas queixas serem apresentadas, as entidades competentes garantem estar a tratar da situação, em conjunto com familiares do indivíduo.
Alguns comerciantes de estabelecimentos na Avenida 5 de Outubro, local onde este indivíduo passa mais tempo, relatam várias perturbações causadas há pelo menos três meses. A destruição de propriedade, uma provocação verbal e uma ameaça com arma branca foram as principais queixas dos proprietários.
Em declarações a O SETUBALENSE, Eduardo Costa, dono do estabelecimento Tabacaria Loureiro, relata um episódio em que o indivíduo vandalizou a loja ao rasgar cartazes e tirar as bandeiras penduradas nas paredes da sua loja. O proprietário contou ainda que quando confrontou o indivíduo, foi ameaçado com uma faca. Após este episódio, o comerciante explica que já contactou as autoridades, mas refere que as forças policiais “não podem fazer nada ou não conseguem fazer nada”.
Já Esmeralda Pais, empregada deste mesmo estabelecimento, comenta como o patrão “tem medo que fique sozinha” no estabelecimento com a situação que está a decorrer. A funcionária acrescenta ainda que em algumas situações a polícia detém o sem-abrigo, mas este acaba sempre por voltar. “A polícia já o levou por uma ou duas vezes, e no dia seguinte ele volta a andar na rua, volta a causar distúrbios”.
Também o responsável do café Nutritiva Moderna, Roberto Sá, sublinha como o indivíduo tem “estado a mal tratar as senhoras”. A O SETUBALENSE o comerciante conta uma situação que aconteceu a um cliente, em que o sem-abrigo começou a ofender uma senhora que estava sentada no estabelecimento.
“Na semana passada, a nossa cliente estava sentada e eu vou dar com ele a ofendê-la. Depois fui ter com ela e perguntei-lhe se conhecia. Disse-me que não conhecia de lado nenhum”, referiu.
Associação CASA faz acompanhamento da situação
Este sem-abrigo está a ser acompanhado pela instituição Centro de Apoio ao Sem Abrigo (CASA) de Setúbal. Quem o garante é Suzana Marques, coordenadora do centro, que diz ter conhecimento deste caso há cerca de dois anos. Sobre este indivíduo, a responsável explica que o mesmo teve contacto com a instituição ao pedir ajuda. “Ele fez-nos um pedido de ajuda e nós demos resposta de higiene e alimentação”, explica.
Foi ao manter o contacto com uma ex-companheira do indivíduo que a coordenadora teve acesso a informação clínica sobre o seu estado de saúde mental. Neste diagnóstico foi declarado que sofria de Transtorno de Borderline. “As informações clínicas que tive conhecimento foram através de uma ex-companheira, que continua a ser uma pessoa muito preocupada com ele. A informação clínica que eu tive acesso fala em Transtorno Boderline, que é o que me recordo de mais evidente”.
Nestes dois anos que o indivíduo tem vindo a ser acompanhado pela instituição, Suzana Marques explica como a saúde mental deste sem-abrigo se foi “degradando”. Numa tentativa de dar resposta a este caso, já existiram reuniões com várias entidades para diagnosticar o utente, sendo que o resultado tem sempre indicado que se trata de uma pessoa sem qualquer doença mental.
Suzana Marques justifica que as entidades como o CASA, Cárita Diocesana de Setúbal e Câmara Municipal de Setúbal não têm poder”, reforçando que este caso tem de ser tratado por médicos e pelo tribunal.
“Isto é uma situação que passa por médicos psiquiatras. Para chegar à conclusão que este indivíduo tem de ir para alguma instituição para ser tratado, isso trata-se de uma decisão entre médicos e tribunal. As entidades que actuam no terreno, não tem competências para a dimensão deste caso”.
A Câmara Municipal de Setúbal, em declarações a O SETUBALENSE, explicou que as entidades competentes garantem estar a tratar da situação, em conjunto com familiares do indivíduo. A Cáritas Diocesana de Setúbal também foi contactada, mas não prestou declarações, alegando protecção de dados e sigilo profissional. O SETUBALENSE colocou também algumas questões ao Instituto de Segurança Social, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta.