Exposição surge a partir de um convite da Câmara Municipal de Setúbal ao Atelier :2 Pontos, com apoio da iniciativa Mural 18
Numa fusão entre passado, presente e futuro, a exposição “Rasgo” mostra a Gráfica – Centro de Criação Artística como “um lugar onde existem memórias que foram assimiladas e transformadas artisticamente” através de pintura, escultura e instalação.
Viajando até ao momento em que o papel era a personagem principal no antigo Armazém de Papéis de Sado, projectando em simultâneo aquilo que a Gráfica pretende ser no presente e no futuro: um espaço, ainda embrionário, de artes, criação e residências artísticas, a exposição reúne obras de Rita Melo, Ricardo Crista, Ana Isa Férias, Rita Cascais, Teresa Melo e Vítor Joaquim.
“A Câmara Municipal fez-nos um convite, com o apoio do Mural 18, para eu e o Ricardo Crista, enquanto Atelier :2 Pontos, promovermos uma exposição em que resgatássemos a identidade do espaço, com uma visão do que se propõe que a Gráfica seja nos próximos tempos, dedicada a residências artísticas”, começa por dizer Rita Melo, do Atelier :2 Pontos e uma dos seis artistas que integram a mostra, a O SETUBALENSE.
“Apesar de separados juntos podemos construir algo”
A dupla convidou quatro artistas e em conjunto começaram a trabalhar neste “Rasgo”, do qual faz também parte a peça “Serium”, projecto artístico colaborativo. “Tendo em conta a necessidade que tivemos de nos adaptar perante a situação de confinamento, distribuímos 400 kits pela comunidade local, fizemos uma espécie de tutorial sobre como fazer os rostos a partir de suas casas e criou-se uma dinâmica muito interessante”, conta. O resultado final, apresentado numa peça única, está agora exposto “numa espécie de altar, em talha dourada” à entrada da Gráfica, “para elevar a comunidade a algo divino, que nos faz pensar e perceber que apesar de separados todos juntos podemos construir algo”, adianta.
Na exposição, Ricardo Crista apresenta a instalação “Persistence #1”, sobre o imaginário de um formigueiro, “valorizado em torno da persistência, disciplina e sucesso do trabalho”, e remetendo para a industrialização e ordem natural residente na Gráfica. Com “error#0/ error#0.1/ error #0.2”, Rita Melo aborda a noção de erro, tratando-o como uma mais valia ou ponto de partida para outro desenvolvimento, outra linguagem plástica: “não é erro, é efeito”.
Rita Cascais, por seu turno, apresenta “Paper tongue #1, #2, #3, …”, onde, de forma minimalista, cria “agregados sons silenciosos empilhados em forma de resmas de papel”.
Em “Ultramarine blue over prussia blue”, a artista Teresa Melo pretende despertar os sentidos através do azul vibrante, numa dualidade entre luz e sombra, material e imaterial, desde o tamanho A0 ao A10, com parte do degradê pictural composto por carimbos sistemáticos e repetitivos de modo a imitar o maquinal e industrial, suscitando uma sinergia entre dois tons, duas forças, que vivem separados pelo seu conceito mas unificados pelo seu espaço.
Na sua “Passagem”, a setubalense Ana Isa Férias representa a questão espaço/tempo, com cartazes em igual número de tempo em que a Gráfica se encontrou a funcionar, com a força da imagem inicial a desvanecer consoante a aproximação de um novo lugar e conceito. Vítor Joaquim apresenta, em “Passo a Passo”, uma performance que parte de uma acção em torno de uma escultura sonora cinética em site specific.
A exposição, que se iniciou no dia 12, pode ser visitada este fim de semana, 19 e 20 de Junho, e no próximo, de 26 e 27 de Junho, entre as 15h00 e as 18h00. Neste último dia, terá lugar uma finissage, com a presença dos artistas, e uma happy-hour com descontos aplicados em trabalhos dos estudos realizados até se chegar ao resultado final. Também estes se encontram em exposição numa sala do centro de criação artística.