O animal foi encontrado próximo de um pedaço de carne, o que levantou suspeitas de poder ter sido envenenado. Este é o primeiro caso do género no parque
Uma raposa foi encontrada morta dentro do Parque Ambiental do Alambre, na segunda-feira, 23, enquanto um biólogo passava por um dos caminhos do parque, que está inserido na área protegida do Parque Natural da Arrábida. As condições em que o animal foi descoberto apresentavam indícios de que a morte possa ter sido causada por um pedaço de carne envenenado.
A raposa foi encontrada na segunda-feira de manhã, às 07h47, por Diogo Oliveira, biólogo e fotógrafo de natureza que costuma ir ao parque fotografar aves e naquele dia estava acompanhado de uma colega. “Quando estávamos a dar uma volta antes de começar a fotografar, foi quando encontrámos a raposa, já cadáver”.
“A primeira coisa que fiz foi verificar se existiam larvas de mosca, que são os primeiros indícios neste tipo de situações. Mas apenas existiam ovos, o que indicava que o animal tinha morrido há pouco tempo, provavelmente durante a noite ou no dia anterior”, explicou ao DIÁRIO DA REGIÃO.
O corpo do animal estava deitado muito perto de um pedaço de carne, o que levou Diogo a assumir “o pior” – causa de morte por envenenamento –, no sentido de “também evitar que houvesse contaminação de outras áreas e a nossa própria contaminação”. Diogo ressalva, no entanto, que “não se sabe se a carne foi lá colocada. Pode ter sido colocada noutro local e apanhada pela raposa, que a levou para ali. Não sabemos o que realmente aconteceu”.
O biólogo descreve ainda um cenário em que a raposa poderá ter sofrido “em agonia”. “Vimos ainda marcas de ter arrastado as patas, portanto o animal mexeu-se e foi um indício de que pode ter estado em sofrimento. E ainda vimos dejectos mesmo ao lado do corpo e alguns deles ainda colados ao pêlo, o que não é nada normal num animal, isto juntando ao facto de estar um pedaço de carne ali”, referiu.
Membros do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR (SEPNA) deslocaram-se ao local para registar a ocorrência. O corpo da raposa foi analisado por um veterinário e levado depois para a Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa, a quem cabe realizar a autópsia. O caso foi também acompanhado por elementos do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), entidade a que a pertence o Parque Ambiental do Alambre.
Causa da morte por apurar
À hora de escrita desta notícia, as causas da morte da raposa ainda não tinham sido apuradas. O DIÁRIO DA REGIÃO soube, ainda assim, que a autópsia da raposa será feita através do Programa Antídoto – Portugal, uma plataforma de várias organizações e instituições que pretendem fazer frente ao uso ilegal de venenos.
Os venenos são usados por “caçadores e gestores de zonas de caça, ou por criadores de gado”, e por várias razões, como uma “tentativa de controlo dos predadores das espécies cinegéticas e pecuárias”, lê-se no site da entidade.
Segundo Diogo Oliveira, mestre em Biologia de Conservação, “na natureza, para além de serem exímias caçadoras cabe-lhes a elas (e a mais algumas espécies) fazer a limpeza dos restos de alimentos que fiquem no campo, mas perto das cidades elas escolhem outras refeições mais simples, desde as galinhas que estão fechadas numa estrutura de metal, até ao lixo que despejamos nos caixotes”. Por esses motivos, as raposas não são animais bem-vindos junto de muitas quintas e propriedades.
Houve ainda uma ave, pisco-de-peito-ruivo, encontrada sem vida a dois metros da raposa. “Isso indicia que pode mesmo ter sido usado veneno”, que é tão perigoso para outros animais como os humanos.
Segundo o especialista, que colabora com o Parque Ambiental do Alambre em questões de monitorização de fauna e percorre habitualmente o parque para observar mamíferos, aves, anfíbios e répteis, este foi “o primeiro caso do género” registado no parque.
Trata-se de uma zona florestal com cerca de 36 hectares, muito procurada por praticantes de caminhadas e adeptos da fotografia de aves, e que tem bungalows, recepção, restaurante e actividades regulares abertas ao público. O parque é gerido pela Associação Cristã da Mocidade Portuguesa (YMCA) e pelo Instituto Nacional de Conservação da Natureza (ICNF).