Seven Properties diz que o município sadino estava informado sobre “intenções” para o espaço de lazer
Depois de ‘muita tinta’ ter corrido nos últimos dias sobre o futuro do Parque de Merendas da Comenda, com a vedação da zona e a informação de que vai nascer no local um núcleo interpretativo de arqueologia, os proprietários garantem agora que o espaço continuará aberto e que as suas “intenções” já haviam sido “comunicadas à Câmara Municipal de Setúbal e ao ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas]”.
Isto, após centenas de pessoas se terem mostrado receosas com a interdição ao local, em concentração frente ao parque no domingo, e de André Martins, presidente eleito da autarquia, comprometer-se a “iniciar um processo de esclarecimento sobre a situação”.
Em comunicado enviado a O SETUBALENSE, a Seven Properties – Sociedade de Investimentos Imobiliários explicou que os “terrenos foram vedados” provisoriamente “e que os equipamentos – referindo-se ao mobiliário urbano instalado em 2018 pela autarquia, “com a autorização precária dos anteriores proprietários”, herdeiros de António Xavier de Lima – foram removidos para dar início aos trabalhos de arqueologia”.
Para o arranque das obras, foi também necessário limpar a área, que se encontrava “num estado muito degradado, não só a nível dos equipamentos, muitos partidos ou em mau estado, como da salubridade, que era deplorável”. “Durante os trabalhos de limpeza foram retiradas toneladas de lixo orgânico e inorgânico espalhado pelo chão e encontradas situações de esgotos a céu aberto a desaguarem directamente na ribeira”.
A empreitada em curso em redor da foz da Ribeira da Ajuda e “os investimentos propostos destinam-se a garantir que a zona pode ser frequentada pela população local e turistas, incluindo tomada de refeições, em condições”.
Estes passos, refere a Seven, foram transmitidos, “entre outras entidades reguladoras, à Câmara Municipal”, que foi “informada da intenção de se proceder à recuperação e requalificação do património construído e do parque florestal, que se encontrava num estado de ruína e abandono, com a aquisição da Herdade da Comenda em 2019”.
Sobre o motivo de as obras terem arrancado agora, apesar de a Seven ter sido “instruída pelo Estado Português, através da Direcção-Geral do Património Cultural, para a realização urgente de trabalhos de arqueologia em Julho”, a sociedade explica que “o proprietário esperou pelo fim da época balnear para minimizar os inconvenientes para a população”.
A autorização para a realização da intervenção teve por base “os fortes indícios e muitos vestígios de que a Quinta foi outrora um importante centro de actividade de preparados piscícolas do Império Romano”.
Quando concluídos os trabalhos, “em função do que vier a ser descoberto e autorizado pelas entidades reguladoras”, a Seven diz pretender “investir no Arqueosítio da Comenda, incluindo a criação de um núcleo interpretativo, centro de exposições, anfiteatro romano para espectáculos culturais e um parque de merendas requalificado”.
“Será também o ponto de partida para passeios lúdicos dos visitantes pela Quinta, cuja floresta será entretanto recuperada”, lê-se também em nota de Imprensa. Com os novos equipamentos e a “cooperação das entidades envolvidas, a Quinta da Herdade da Comenda irá trazer uma nova dinâmica à Arrábida, será um motivo de orgulho para as suas gentes, um novo pólo de atracção turística, criará centenas de novos empregos e contribuirá para o desenvolvimento económico sustentável do concelho onde se insere”.
Já sobre a necessidade de a população necessitar de registo criminal actualizado para aceder ao Parque de Merendas, de acordo com declarações de Maria das Dores Meira, presidente da autarquia até à instalação do novo executivo, ao Diário de Notícias em Junho do passado ano, a Seven diz não ser “uma real intenção” e que a “informação foi descontextualizada da proposta de protocolo feita à Câmara Municipal”.
Vedação na Herdade indispensável para impedir vandalismo
Além da zona onde sempre funcionou o Parque de Merendas, os novos donos procederam à vedação da Quinta da Herdade da Comenda, por considerarem um passo “indispensável para a manutenção da segurança e impedir actos de vandalismo”.
“A propriedade estava originalmente vedada, mas fruto do tempo e acelerado pelo vandalismo, muitas das vedações foram sendo destruídas”, sublinha a Sociedade.
A decisão foi tomada tendo também em conta que, “quando foi feita a aquisição, foram encontradas centenas de toneladas de lixo e as construções existentes, incluindo o Palácio, tinham sido saqueadas e vandalizadas”.
“Assaltos ou depósito de produtos roubados eram frequentes e houve vários focos de incêndio. O último dos quais em Junho numa zona ainda não vedada junto a Albarquel, cujas consequências foram minimizadas graças à rápida identificação pelas equipas de segurança no terreno e à pronta colaboração dos bombeiros e serviço de protecção civil”.
Contudo, as vedações não vão impedir a realização de “visitas ou passeios pela Comenda, mediante autorização prévia e em percursos pré-definidos”.
No que diz respeito ao Moinho do Cabeço, a Seven afirma que “decorre uma acção judicial”, que espera puder “clarificar em breve” o diferendo existente “sobre a sua posse, que o actual proprietário adquiriu há cerca de dois anos com a garantia escritural de estar livre de ónus e encargos e que se encontra registado em seu nome”.
Passando para Albarquel, mais precisamente para o parque de estacionamento, a Sociedade diz estar a procurar “colaborar com a Câmara Municipal na procura de soluções alternativas, incluindo a cedência de outros terrenos”, uma vez que “estudos técnicos de engenharia já vieram demonstrar que não é viável a construção de um parque de estacionamento na zona devido à instabilidade da arriba”.
Ao nível da utilização da Capela de São Luís, a Seven frisa que “sempre manifestou a sua disponibilidade para que a mesma possa ser utilizada para o culto da Igreja e manutenção das tradições da Pascoela, apesar de ser privada e fazer parte da Herdade da Comenda”.