“É uma violação grosseira dos seus direitos [dos refugiados ucranianos]”, disse a porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza, disse Inês Sousa Real
O PAN defendeu ontem que o parlamento deve ouvir o presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins, sobre o acolhimento de refugiados naquele concelho, considerando estar-se perante uma “violação grosseira” dos direitos dos ucranianos.
Em declarações aos jornalistas nos Passos Perdidos da Assembleia da República, em Lisboa, a deputada única do PAN, Inês Sousa Real, disse que o partido está “a ponderar, evidentemente, apesar da autonomia do poder local, convocar o presidente da Câmara para que possa prestar todos os esclarecimentos, porque é demasiado grave aquilo que se passou”.
“É uma violação grosseira dos seus direitos [dos refugiados ucranianos]”, disse a porta-voz do Pessoas-Animais-Natureza.
Em comunicado enviado depois da declaração de Inês Sousa Real, o PAN anunciou a entrega de um requerimento para uma audição urgente da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, que tem a tutela da Igualdade e Migrações.
A Câmara Municipal de Setúbal é liderada por André Martins, militante do Partido Ecologista “Os Verdes”, eleito nas últimas autárquicas pela Coligação Democrática Unitária (CDU), da qual fazem parte o PCP e o PEV.
Segundo noticiou ontem o jornal Expresso, pelo menos 160 refugiados ucranianos já terão sido recebidos por Igor Khashin, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município setubalense.
De acordo com o Expresso, Igor Khashin, líder da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), subsidiada desde 2005 até Março passado pela Câmara de Setúbal, e a mulher terão, alegadamente, fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal.
De acordo com o Expresso, Igor Khashin e a mulher terão também questionado os refugiados sobre os familiares que ficaram na Ucrânia, mas a Câmara Municipal de Setúbal garante que “nunca foi feita tal pergunta”.
O jornal Expresso refere ainda que Igor Khashin é um dirigente associativo com dupla nacionalidade, que se apresenta como “gestor de projetos”, e que as associações a que terá estado ligado estavam nos sites da Ruskyi Mir e da Rossotrudnichestvo, instituições estatais criadas pelo Kremlin para divulgar a cultura e o mundo russos, mas que, segundo fontes citadas pelo jornal, “podem servir de cobertura a elementos dos serviços secretos” da Rússia
Inês Sousa Real fez um paralelismo entre esta situação e o envio de informações sobre cidadãos russos à embaixada da Rússia pela Câmara Municipal de Lisboa, caso que foi conhecido em maio de 2021. A deputada disse que estas duas situações contrastam com aquilo pelo qual Portugal é conhecido, um país com “respeito pelos direitos humanos”.
AFE / Lusa