O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, alertou hoje para o risco de o Hospital de Setúbal continuar a perder profissionais, ficando com menos valências e especialidades, se não houver investimento.
Em comunicado, a Ordem salienta que as “estruturas obsoletas e reduzidas” do Centro Hospital de Setúbal (CHS), bem como o facto de não ser reconhecida totalmente a sua diferenciação, estão a comprometer a capacidade de resposta daquela unidade de saúde.
O presente e o futuro do CHS está hoje em debate numa sessão pública em Setúbal na qual será apresentado um documento da iniciativa dos diretores de serviço do hospital.
“A Ordem dos Médicos não pode deixar de manifestar a sua solidariedade para com todos os médicos do Hospital de Setúbal e de se associar ao debate que acontece hoje e que pretende alertar para os riscos que o hospital corre já no presente”, explica Miguel Guimarães, citado na nota da Ordem.
No entendimento do bastonário, a “diferenciação clínica que o hospital atingiu não foi acompanhada pelas instalações, o que se traduz numa organização muito disfuncional, de que é imagem principal o serviço de urgência e todos os problemas que vêm permanentemente a público”.
“Em termos de financiamento o hospital está a ser pago abaixo dos serviços que proporciona, o que cria também uma asfixia em termos económicos”, acrescenta.
O documento hoje apresentado, segundo a nota da Ordem, aponta vários problemas que precisam de solução urgente, entre os quais a necessidade de ampliar o hospital para acolher a integração da ortopedia, que é suportada pelo Hospital do Outão.
“Mas, se essa integração ocorrer sem reorganização dos espaços já carenciados, os problemas podem vir a ser ainda maiores”, refere.
A rutura permanente do serviço de urgência, os problemas nos meios complementares de diagnóstico e a criação de condições atrativas para os atuais e novos profissionais estão também entre os principais alertas.
Segundo a Ordem, o documento dá exemplos concretos de várias especialidades, como a anatomia patológica, que conta com apenas uma especialista, com 60 anos.
“Os cuidados intensivos mantêm estrutura física idêntica e a mesma capacidade de internamento (sete camas) desde a sua inauguração em 1985, estando muito aquém do rácio de camas críticas recomendado”, é referido.
No caso da ginecologia/obstetrícia, segundo o documento, o quadro médico deveria ser constituído por 23 médicos especialistas com horário de 40 horas semanais, mas atualmente dispõe apenas de 10 médicos, alguns deles com horário parcial.
De acordo com o documento citado, a médio prazo prevê-se ainda o agravamento da carência de médicos, uma vez que a média etária dos médicos especialistas do serviço é elevada – oito têm entre 56 e 66 anos de idade.
No que diz respeito à oncologia, é referido que em janeiro de 2019 existiam seis oncologistas e ao longo dos últimos 18 meses saíram cinco.
“E a urgência, à falta de recursos humanos, junta uma área interior de 1.200 metros quadrados, longe dos propostos 3.000, num claro subdimensionamento para fazer face a uma procura média diária de 250 utentes”, é destacado.
A agência Lusa contactou a administração do hospital, mas ainda não foi possível obter um comentário.
A Ordem lembra que o Hospital de Setúbal dá resposta a uma zona muito mais alargada do que a da região.
Tem uma zona de atração direta de cerca de 250.00 habitantes (concelhos de Setúbal, de Palmela e de Sesimbra), mas é procurado por muitos doentes do litoral do Alentejo (cerca de mais 100.000 habitantes, oriundos dos concelhos de Alcácer do Sal, de Grândola, de Santiago do Cacém, de Sines e até de Odemira).
De acordo com a nota da ordem, “desde 2016, altura em que passou a ser permitido aos utentes escolherem uma unidade hospitalar fora da sua residência, e fruto da maior facilidade de acesso ao CHS por parte dos utentes do litoral alentejano, este centro passou a servir em média mais cerca de 20% de doentes para além da sua área de atração estritamente definida”.
Lusa