Diretor-geral da Associação da Indústria da Península de Setúbal (AISET) considera que os planos diretores municipais têm de ser revistos para que prevejam o aumento de investimentos da indústria
Nuno Maia defende que é necessário planificar como responder aos grandes investimentos de obras públicas previstas para a região e já está em andamento um estudo promovido pela AISET e a Universidade Católica Portuguesa para identificar uma estratégia de especialização inteligente regional de cariz industrial que defina quais são os grandes eixos de desenvolvimento e grandes desafios da indústria na próxima década, para vigorar de 2027 a 2035 no próximo Quadro Comunitário de Apoio.
Refere que a região ainda tem muito trabalho a fazer para alavancar o PIB e aponta dados da NUTS para afirmar que é preciso crescer, pelo menos, 3% ao ano.
Sobre a criação da Comunidade Intermunicipal da Península Setúbal, diz que é de toda importância para valorizar as atividades no território e ser interlocutor governamental para os programas de financiamento que vierem a surgir no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio 2027.
Pode-se dizer que este ano houve um crescimento da indústria na Península de Setúbal?
Neste momento apenas posso falar numa perspetiva global porque 2025 ainda não terminou e os dados só agora começam a ser conhecidos, mas é de dizer que a economia está a crescer e as empresas, em geral, estão a trabalhar bem, portanto, temos boas notícias.
A Autoeuropa, uma das principais empresas da região, vai avançar com a [fabricação] do carro elétrico VW, isto quer dizer um horizonte de trabalho, produção e resultados que é bom para a cadeia de valor da empresa e, portanto, é bom para a região.
O Porto de Setúbal, outra instituição muito importante da região, também está com um bom desempenho e também perspetivas de crescimento. Isto é bom para as empresas da região, estamos a falar de um porto que serve essencialmente clientes industriais, se tiver dinamismo, rotas e cargas é bom para as empresas e é bom para a criação de trabalho. Portanto, no geral, as coisas correram bem, mas este ano não é determinante porque é de transição.
Além destas duas empresas, podemos falar de um sector mais relevante?
Neste momento ainda não tenho dados específicos, é preciso ver o que vai sendo publicado. Mas sabemos que a reparação naval correu bem – caso da Lisnave -, a Secil também, assim como a Navigator, portanto a generalidade das empresas industriais da região teve crescimento de negócio.
Creio que a AISET está a trabalhar com a Universidade Católica Portuguesa num estudo estratégico para a indústria. Do que se trata?
A AISET está a elaborar com a Universidade Católica Portuguesa um estudo para criar uma estratégia de especialização inteligente regional de cariz industrial que defina quais são os grandes eixos de desenvolvimento e grandes desafios da indústria na próxima década, para vigorar de 2027 a 2035 no próximo Quadro Comunitário de Apoio. A Universidade Católica Portuguesa está a estudar o nosso ecossistema industrial e a entrevistar empresas, para depois nos apresentar um documento que será o nosso instrumento de trabalho com o governo e com a Comunidade Intermunicipal [CIM] da Península de Setúbal para evidenciar os investimentos que prevemos fazer e os níveis de apoio comunitário que gostaríamos de ter. Iremos apresentar as principais conclusões deste estudo no primeiro trimestre de 2026.
Está também a ser planificada a necessidade de responder aos grandes investimentos previstos para a região.
É necessário planificar como responder aos grandes investimentos de obras públicas prevista para a região como o Aeroporto, a Terceira Travessia do Tejo, a Linha de Alta Velocidade e outros. Tem de existir um macro plano estratégico com calendarização de obras porque isto mexe com o Plano Regional de Ordenamento do Território para poder incorporar estes investimentos. Em alguns casos, os planos diretores municipais têm de ser revistos para que prevejam o aumento de investimentos da indústria porque neste momento há poucos terrenos disponíveis para investimento industrial. Além disso, tem de haver uma agilização dos processos de licenciamento que neste momento são uma terrível burocracia. Todos percebemos as questões ambientais, mas tem de haver um compromisso com os grandes investimentos para atrair investidores. Isto é muito importante para a criação de emprego, melhoria da coesão social e mitigar as bolsas de exclusão social que ainda existem na Península de Setúbal.
As NUTS (Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos da União Europeia) começaram a funcionar a 1 de janeiro de 2023 para a Península de Setúbal. O que nos permite apurar?
Permitiram, que no ano de 2023, confirmar com indicadores estatísticos a nossa noção empírica de que temos um PIB (Produto Interno Bruto) per capita de 67,5% da média comunitária, temos maus indicadores sociais e também nas taxas de insucesso escolar. Portanto, temos muito para fazer na região.
Estamos ainda no PT 2030, os novos fundos só começam a 1 de janeiro de 2028. Tivemos eleições em 2024 e 2025 e os governos ainda não pegaram na negociação com Bruxelas para o Quadro Comunitário de Apoio pós 2027. Têm existido algumas concretizações do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] onde no distrito de Setúbal têm existido muito projetos de investimentos empresariais e também por outras entidades do setor público, como câmaras municipais, mas sabemos que quando há eleições as coisas engasgam um pouco.
O nosso PIB está a crescer, mais do que na Europa, mas menos do que é necessário, precisamos que cresça, pelo menos, 3% ao ano. O contributo da indústria e das exportações é muito importante e todos estamos conscientes de que é preciso produzir mais produtos com maior valor acrescentado, mais sofisticados com marca, com mais tecnologia. Todos estamos empenhados nisso, é muito importante que os investimentos PRR terminem com sucesso e que o próximo Quadro Comunitário de Apoio seja muito focado na atividade empresarial, sobretudo na atividade industrial.
A NUTS II só vai ser de facto operacionalizada a partir do momento em que houver a criação do Quadro Comunitário de Apoio e comece a haver programa operacional com todos os mecanismos de promoção dos fundos de coesão para lhe darem substância.
Entretanto, a 15 de dezembro, será assinada a formação da CIM da Península de Setúbal, envolvendo nove concelhos. Que impacto vai ter na economia regional?
É muito importante existir uma instituição regional com legitimidade política própria como é a Comunidade Intermunicipal para representar os interesses da região, valorizar as suas atividades e ser interlocutor governamental para os programas de financiamento que vierem a surgir no âmbito do Quadro Comunitário de Apoio 2027, que entra em vigor a 1 de janeiro de 2028.