Entre o reconhecimento da derrota e a afirmação de um novo ciclo político, Fernando José assume a liderança de uma oposição “dialogante e não uma força de bloqueio”, em busca do melhor para o concelho
O líder da concelhia socialista e vereador reeleito do PS na Câmara de Setúbal faz um balanço positivo das autárquicas, mas reconhece “por inteiro” a responsabilidade pela derrota. Fernando José garante que o partido rosa será uma “oposição responsável e dialogante”, disponível para consensos que evitem a paralisia do concelho, mas afasta a hipótese de aceitar pelouros. Sobre a vitória de Dores Meira, o socialista diz esperar que “os compromissos assumidos com os setubalenses sejam cumpridos”, lembrando que “este é o tempo de fazer” e que a cidade esteve “paralisada durante demasiado tempo”.
Sobre uma possível recandidatura nas próximas autárquicas, realça que falta muito tempo e que neste momento ainda está a “ponderar” a recandidatura à presidência da concelhia de Setúbal do PS. Quanto à Assembleia Municipal, garante que não há acordos, mas existiram conversas que o levam a acreditar na eleição de Paulo Lopes para a presidência deste órgão municipal.
Que balanço faz destes resultados nas autárquicas?
O balanço destas eleições autárquicas só pode ser feito depois de todas as tomadas de posse. No dia 4 de novembro iremos promover uma conferência de imprensa para fazer a análise com a comunicação social desses resultados.
De qualquer forma, eu assumo por completo a responsabilidade por não termos conseguido atingir o objetivo de ganhar a Câmara Municipal. Eu fui o candidato, fui o rosto do Partido Socialista nestas eleições. O objetivo que tínhamos era ganhar a Câmara. Isso não foi alcançado e eu assumo por inteiro a responsabilidade como candidato e como presidente da concelhia.
O Partido Socialista acaba por atingir um resultado que eu considero positivo e que é, os factos assim me indicam, o melhor resultado do PS em Setúbal desde 1997.
Comparando com 2021, tendo em conta que teve mais votos, acredita que houve uma evolução do partido?
Sim, essa evolução é clara. Não conseguimos atingir o objetivo principal que era vencer a Câmara Municipal, mas é evidente, e os números assim o indicam, que há uma evolução bastante positiva para o PS. Ficámos nas últimas eleições a 3 mil votos de vencer, nestas ficámos a pouco de mais de 1.300 votos. Vencemos três juntas de freguesia, e penso que sim, que houve aqui uma evolução positiva.
Existem projetos concretos que pretendem defender, mesmo não estando à frente da Câmara?
Enquanto vereadores eleitos pelo Partido Socialista devemos ter uma oposição responsável, que vai querer, obviamente, ser parte de soluções para problemas que se arrastam há muito tempo, não vamos ser força de bloqueio, vamos ser uma oposição dialogante, na procura de consensos, que não deixem o concelho paralisado, mas não vamos deixar de colocar os nossos pontos de vista, de transmitir as nossas posições, e de apresentar também as nossas propostas.
Relativamente a alterações dos impostos, faz questão de continuar a descer o IMI?
Entendemos que esse é o caminho, o caminho de devolução de rendimento disponível às famílias. Não consideramos qualquer aumento de impostos que venham sobrecarregar os setubalenses.
O nosso entendimento é que o IMI deve continuar nesta trajetória que tem sido preconizada pelo PS na Câmara Municipal. Outra proposta que consideramos que deveria ser viabilizada, e esperemos que outros vereadores nos acompanhem, tem a ver com um passe municipal gratuito.
Mas temos outras questões que são também tão importantes. Temos uma Praça Carlos Relvas completamente abandonada, um equipamento que foi adquirido pela Câmara Municipal e que não pode continuar ao abandono.
Que avaliação faz da vitória de Maria das Dores Meira?
É uma vitória do movimento independente. É uma vitória que não é de maioria absoluta. É uma vitória que tem na Câmara Municipal os mesmos vereadores que o Partido Socialista, contrariamente à vitória esmagadora que houve em 2017.
O que nós esperamos é que todos os compromissos que foram assumidos com os setubalenses sejam cumpridos e que não existam desculpas para que não se faça.
Este é o tempo, efetivamente, de fazer. A cidade teve, durante muito tempo, paralisada. Não é uma paralisação que vem apenas do tempo de André Martins, que foi um mandato completamente perdido. É uma paralisação que já vem do tempo de agora presidente.
Está aberto a acordos de governação? Se sim, em que termos?
É perfeitamente normal que, depois de um ato eleitoral se tente perceber se existe ou não possibilidade de entendimentos. Da parte do movimento independente, foi dado um passo nesse sentido, informalmente, é verdade, de perceber se existia abertura para se avançar para um processo formal. E a informalidade ficou por isso mesmo, pela informalidade.
Da parte do Partido Socialista, dos quatro vereadores da Câmara Municipal, aquilo que afirmamos e reafirmamos é que não iremos ser uma força de bloqueio. Iremos estar disponíveis para dialogar, para encontrar os necessários consensos.
Queremos ser parte dessas mesmas soluções e não vamos deixar de apresentar propostas. Temos um mandato para assumir e para cumprir e é isso que vamos fazer, liderando a oposição e afirmando-nos, uma vez mais, como única alternativa à liderança da Câmara Municipal de Setúbal.
Dores Meira disse recentemente que já tinha falado consigo sobre um possível entendimento. Vai aceitar pelouros?
Aquilo que eu tenho a certeza é que houve uma abordagem por parte do movimento independente, uma abordagem informal, que ficou por essa informalidade. Da parte do Partido Socialista registamos como positiva essa abordagem informal e iremos, obviamente, assumir os lugares de vereadores na Câmara Municipal de Setúbal, enquanto líderes da oposição, que vai ser dialogante, que vai procurar consensos e que não vai ser força de bloqueio.
Mas estaria disposto a aceitar pelouros?
Se eu aceitaria um pelouro? Não, não aceitaria. Respondendo diretamente, se me fosse colocada uma proposta para aceitar um pelouro numa gestão liderada por Dores Meira e pelo Movimento Independente, eu não aceitaria qualquer pelouro, nem integrar esse mesmo executivo com o pelouro. Não aceitaria. Aliás, eu sou vereador desde 2009, sempre sem pelouro. Nunca tive pelouros na Câmara Municipal de Setubal.
Qual a sua opinião sobre a posição de André Martins, que renunciou ao mandato?
Eu não compreendo as razões invocadas por André Martins para não assumir o mandato, para não tomar posse. Não percebo as razões. Certamente que existiram outras, além daquelas que indicou e que eu não percebo. Mas respeito essa posição.
Vencer três juntas de freguesia foi certamente uma grande vitória para o Partido Socialista…
Uma vitória do Partido Socialista, obviamente, mas é uma vitória para as populações. Tenho a certeza de que o Bruno Frazão será um excelente presidente. E a mesma coisa em Azeitão, uma freguesia que tem um enorme potencial e esteve abandonada nos últimos tempos. E temos mesmo a certeza de que o Tiago Cardoso irá fazer um excelente mandato, tal como o Nuno Cruz também, que terá todas as condições com a sua equipe para fazer um excelente trabalho e encontrar soluções para problemas que se arrastam no tempo, mas, acima de tudo, fazer diferente e agarrar as novas oportunidades do futuro.
Como é que se explica um resultado tão positivo nas juntas de freguesia e não conseguir vencer a Câmara Municipal?
Nós podemos ter várias explicações. Existem aqui fatores e há um fator que é importante. Os setubalenses fizeram essa separação e essa separação deu 1.300 votos a menos na Câmara Municipal. Mas não nos podemos esquecer que temos duas forças políticas que concorreram à Câmara e à Assembleia Municipal e que não concorreram às Juntas de Freguesia. Estou a falar do LIVRE e do PAN. Estamos a falar de mais de 1.800 votos.
A diferença na Câmara Municipal é de mais de 1.300 votos. E, portanto, nós estamos a falar de 1.800 votos que, não estou a dizer que foram retirados diretamente do PS, mas que na Câmara foram refletidos na votação nesses dois partidos e que nas Juntas de Freguesia não foram porque esses partidos não concorreram. Não posso dizer que esses votos do LIVRE e do PAN nas Juntas de Freguesia foram todos para o PS, mas a verdade é que existiu essa diferença.
Mas procurou fazer essa ligação com o LIVRE e com o PAN?
Existiram, não vou esconder, conversações com o LIVRE e com o PAN, mais com o PAN, mas também com o LIVRE, mas que não passaram também de informalidades. Foram tidas no período da pré-campanha e depois não se vieram a concretizar.
E efetivamente eles avançaram com candidaturas à Câmara que tiveram expressão de votos que no somatório acabam por fazer aqui uma diferença. Mas não sei se terá sido isso. Isso é uma análise que quer ser mais aprofundada que ainda não a fizemos.
Considera que tem condições para daqui a quatro anos ser o candidato novamente do PS à Câmara Municipal?
Neste momento acho que tenho condições para assumir o mandato como vereador na Câmara Municipal. Daqui a quatro anos é muito tempo. Ainda estou a ponderar se me recandidato à presidência da Comissão Concelhia de Setúbal do Partido Socialista, tendo as eleições em princípio de janeiro.
Se me recandidatar será o último ano que posso recandidatar. Ainda estou a ponderar com a minha equipa se me devo ou não recandidatar, porque tenho vida profissional e familiar, além da política, e também estou a ponderar tudo isso. Isso tem de ser muito bem ponderado, porque chegamos a um momento em que as coisas têm de ser ponderadas.
Eu costumo dizer, e é algo que digo muitas vezes, isto não é como começa, é como acaba. E a verdade é que isto ainda agora começou. Não sabemos o que vai acontecer durante este mandato, e, portanto, vamos esperar com muita calma, vamos ser resilientes como sempre, determinados como nunca, e fazer um trabalho para não desiludir em quem em nós confiou. Isso é o mais importante.
Entendemos obviamente que chegou o momento também de criar aqui pontes de diálogo, que permitam consensos, que são importantes para que Setúbal não fique paralisada.
Relativamente à Assembleia Municipal, vai existir algum acordo?
O meu camarada e amigo Paulo Lopes vai-se apresentar à presidência da Assembleia Municipal contra o David Martins, que foi o candidato do movimento independente. E nós estamos confiantes e acreditamos que, tal como a Helena Cardoso foi eleita presidente da Assembleia de Freguesia no Sado, tal como o meu camarada e amigo André foi eleito presidente da Assembleia de Freguesia de Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra, acreditamos que o Paulo Lopes será também eleito presidente da Assembleia Municipal. Não estamos a falar em entendimentos, não estamos a falar em acordos, aquilo que estamos a falar é na escolha livre dos deputados da Assembleia Municipal, tal como nós acreditamos, vai recair sobre aquele que é o melhor candidato.
Fazendo a comparação entre os dois candidatos para ocuparem aquele lugar tão importante num órgão autárquico, penso que facilmente se conseguirá chegar à conclusão de que Paulo Lopes é efetivamente a melhor solução.
Portanto o PS não vai procurar nenhum acordo com a CDU?
Não, não existem acordos. Aquilo que existe é evidente, não vale a pena estar na política a não ser andado de outra maneira, que não seja com o verdadeiro. É evidente que existem conversas, mas não existem entendimentos, não existe qualquer acordo. Quando a Helena Cardoso e o André foram eleitos presidentes da Assembleia de Freguesia, teve a ver obviamente com conversas que foram tidas e os deputados das Assembleias de Freguesia entenderam que a Helena e o André eram efetivamente as pessoas mais bem posicionadas e com o melhor percurso para assumirem essas funções e por isso votaram.
Existiram conversas, existiram abordagens informais também e que levaram a aumentar a eleição desses meus dois camaradas e amigos, como acredito que o Paulo Lopes será também eleito presidente da Assembleia Municipal.