Defesa de Ângelo considerou que este deve beneficiar de imputabilidade diminuída por ter agido sob o efeito de drogas
O Ministério Público pediu a pena máxima para Ângelo Guterres, julgado pelo homicídio de um homem indiano e tentativa de homicídio de outro compatriota num ataque a uma casa em Setúbal onde moravam seis indianos, todos alvos do arguido.
“Os primeiros disparos, através da janela, que atingiram a vítima mortalmente enquanto esta descansava foram uma execução pelo arguido que depois, numa atitude de emboscada, dirigiu-se às traseiras da casa à procura de outros que fugiam para os matar apenas por serem indianos”, descreveu a Procuradora do MP no fim do julgamento no Tribunal de Setúbal, admitindo que o crime teve motivações racistas.
Na execução do crime, em Novembro de 2023, o MP considera que Ângelo levantou o estore de um dos quartos onde estava Gurpreet Singh, indiano de 31 anos, voltou a fechar e disparou duas vezes, atingindo fatalmente o indiano no peito. Depois acedeu ao pátio das traseiras pelas garagens e encarou Major Singh, disparando outras duas vezes. Atingiu-o no ombro, mas este fugiu de volta para casa, agarrou a espingarda e conseguiu retirá-la do arguido.
Os irmãos Ângelo e Fábio Guterres respondem em tribunal por dois homicídios, um consumado e outro tentado. Para o irmão Fábio Guterres, que acompanhou Ângelo e forneceu-lhe a arma, o MP pede 14 anos de prisão pelos crimes, mas sem motivação racista. A defesa de Ângelo considerou que este deve beneficiar de imputabilidade diminuída por ter agido sob o efeito de drogas, enquanto a de Fábio pediu a absolvição, alegando que não teve qualquer participação no crime.
O homicídio aconteceu na noite de cinco de Novembro de 2023 na casa, vivenda térrea, onde a vítima habitava com outros cinco compatriotas na Rua Engenheiro Ribeiro da Silva, em Praias do Sado. De acordo com o MP, antes do crime, o arguido esteve num café onde discutiu com outros cidadãos indianos por a sua mãe ter sido assediada por indianos, mas que não seriam estes. À saída, sabendo que naquela casa, perto do café residiam pessoas de nacionalidade indiana, decidiu tirar a vida aos moradores.
A Procuradora do MP, durante as alegações finais, descreveu o que, do ponto de vista da acusação, passou pela mente do arguido. “Ora, alguém de origem indiana cometeu um acto impróprio e, portanto, vou àquela casa porque sabe que moram ali indianos para os matar. Sem grande dificuldade, integra-se aqui a motivação do crime, de ódio racial”.
Ângelo Guterres, em tribunal, negou ter agido motivado por racismo, falou num tiro acidental disparado quando se envolvia em confrontos com Major Sinhg e disse que queria apenas ameaçar os moradores daquela casa para passar uma mensagem a outros por importunarem a sua mãe.
Antes do crime e já na companhia do irmão, Ângelo tentou angariar à força comparsas para o acompanharem na ida à casa das vítimas. Chegou mesmo a apontar a caçadeira à cabeça de um amigo que encontrou na rua, obrigando-o a ir com eles. Este acabou por retirar-lhe a arma. Por isto, o arguido responde por ameaça. O MP concluiu que “o arguido decidiu matar Gurpreet Singh e Major Singh por se tratar de indivíduos de nacionalidade indiana, como retaliação contra indivíduos daquela nacionalidade e para causar temor naquela comunidade”.
Em Julho do ano passado, em prisão preventiva, Ângelo Guterres fugiu após exames que realizou numa clínica em Setúbal. A fuga deu-se quando estava a ser transportado para a carrinha celular de volta para a prisão. Foi capturado pouco depois em casa de familiares. Está actualmente na Prisão do Linhó.