‘Litterae’ intitula a obra da jovem cabo-verdiana que veio estudar para Setúbal em 2020. Acaba de ser nomeada para o prémio literário ‘Gala de Autores’ da editora que a acolheu. E hoje empresta a apenas a sua voz para que O SETUBALENSE escreva a sua história
Tem 19 anos, é estudante de Tecnologia Biomédica, na Escola Superior de Tecnologia do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS), e estreou-se no mundo literário em 4 de Abril passado com o lançamento do livro de poesia, intitulado “Litterae”. Márcia Dias Costa, natural da ilha de Santiago, em Cabo Verde, mudou-se para Portugal em 2020 após concluir os estudos secundários, e no último mês viu a sua obra ser nomeada para o prémio literário “Gala dos Autores” – evento organizado pela editora Cordel de Prata, com a qual assinou contrato em Junho de 2021 para publicação de “Litterae”.
A gala premeia os melhores livros produzidos com a chancela da Cordel de Prata, através da votação do público, destacando também o percurso de alguns autores pela criatividade, dedicação e talento. E vai ter lugar no próximo dia 11, em Lisboa, por altura da comemoração do 5.º aniversário da editora.
O percurso de Márcia pelo mundo da escrita foi, porém, iniciado bem mais cedo. Desde os 8 anos, que a jovem que vive nas residências para estudantes do IPS escreve estórias e pequenos poemas, tendo já participado em diversas antologias nacionais e internacionais, revistas de colectânea e concursos de contos e poesia. O gosto pela leitura, confessou, apanhou-a na infância e quando frequentava o 7.º ano começou a escrever poesias que ia publicando no Facebook. Também as coleccionava, guardadas no computador, e aos 16 anos já contabilizava a produção de mais de 80 poesias. Foi então, revela, que decidiu escrever um livro.
A escritora e poetisa cabo-verdiana busca cativar os leitores e admite inspirar-se nos acontecimentos do dia-dia para criar estórias nas mais diversas áreas temáticas, como suspense, terror, drama, comédia, além de reflexões quotidianas. E também escreve poemas em crioulo, inglês e espanhol, apesar de adoptar, na maioria dos seus trabalhos, a língua portuguesa. Além de poemas tem escritos romances, contos, crónicas e textos de reflexão.
Em “Litterae”, Márcia diz expressar a sua arte poética em forma de sentimentos, emoções, sensações e reflexões pessoais . O livro está disponível nas lojas da FNAC Portugal e no site da editora.
Conte um pouco sobre a sua história de vida e do seu gosto pela literatura. Como tudo começou?
Nasci no dia 28 de Dezembro de 2002, na ilha de Santiago. Vivia com minha mãe e a minha irmã mais velha. Mas minha irmã viajou para França quando eu tinha 5 anos. Então, na altura, a minha mãe trabalhava o dia todo e eu passava maior parte do tempo sozinha. A minha mãe é professora e trazia-me livros para eu ler em casa. Eu ficava no meu quarto o dia todo a ler, desde então que não paro de ler e comecei a ficar praticamente viciada, porque não conseguia parar de ler. Lia tudo o que via pela frente. Sempre que ia para a escola carregava um livro na mochila e quando frequentava o secundário comecei a baixar livros em PDF e lia. Eu leio todo o tipo de livros, tenho até uma biblioteca virtual no meu telemóvel, é como se fosse uma terapia para mim.
Porquê a paixão especial por escrever poesia? Foi um sonho desde a infância ou teve alguém próximo que lhe serviu como fonte de inspiração ou motivação?
Tudo começou quando escrevi a minha primeira estória. Quando a li fiquei tão feliz com aquilo, que decidi que queria escrever para o mundo. Eu era bem novinha quando tomei essa decisão e decidi escrever de tudo. No princípio comecei a escrever poesias porque são mais curtas que uma história e às vezes dava-me preguiça de escrever textos narrativos com 20 páginas, por serem mais extensos. Mas depois fiquei fascinada com as rimas em estrofes e o uso de palavras sofisticadas e então continuei e adorei.
Da participação em eventos, actividades e concursos do ramo literário, qual aquele que até agora a marcou mais?
Já participei num concurso de leitura, e ganhei livros, participei também em lançamentos de livros, antologias nacionais e internacionais, mas o que mais me marcou foi quando vi que o meu poema foi publicado numa antologia internacional em 2020, com autores do mundo todo e eu estava lá a representar Cabo Verde.
Quais foram as principais dificuldades, barreiras, que enfrentou ao longo de todo o processo para a concretização do lançamento deste livro?
O obstáculo financeiro foi um dos principais, porque para editar e publicar um livro custa muito e eu na altura estava com dívidas até ao pescoço e sem um trabalho. O outro obstáculo era o medo de investir no livro e não obter bons resultados, como por exemplo a adesão ou interesse do público porque hoje em dia as pessoas não dão muito valor aos livros físicos como antigamente, principalmente os jovens que são facilmente atraídos pelas novas tecnologias e estão mais agarrados ao digital.