Iniciativa surge em substituição das receitas da habitual Feira da Ladra realizada pelo Lions Clube de Setúbal
“Fazemos a Feira da Ladra desde 1974 e este ano, devido à pandemia, não pudemos fazer. O montante resultante dessas receitas costuma variar entre os dois e os três mil euros e tem sido sempre entregue à Casa do Gaiato de Setúbal. Não quisemos que este ano fosse excepção”, começa por dizer Francisco Canelas, presidente do Lions Clube de Setúbal, a O SETUBALENSE. “O Património dos Pobres, que o Padre Acílio tão bem gere, com o coração, é infelizmente cada vez mais necessária e ampara as famílias mais desprotegidas, muitas vezes em situações quotidianas que podem acontecer a qualquer pessoa”, adianta.
Na tarde de quinta-feira, o clube, que tem entre os seus principais objectivos servir com qualidade a comunidade mais carenciada, promover o bem-estar da comunidade e estimular a solidariedade social a todos os níveis, entregou assim um cheque de dois mil euros à Casa do Gaiato de Setúbal, representada pelo Padre Acílio Fernandes, para o Património dos Pobres.
Este foi um trabalho iniciado em 1940 pelo Padre Américo Monteiro de Aguiar. Com o objectivo de acolher, educar e integrar na sociedade crianças e jovens que, por qualquer motivo, se viram privados de meio familiar normal, nascia a Obra da Rua, ou Obra do Padre Américo, mais conhecida como Casa do Gaiato. Instituição caritativa da Igreja Católica, e reconhecida como uma Instituição Particular de Solidariedade Social, já socorreu ao longo dos anos mais de três mil famílias. “Este projecto ajuda famílias desprotegidas que a ele recorrem, na pessoa do Padre Acílio, e na avaliação que o mesmo faz, também pela sua experiência de vida, ninguém sai de lá de mãos vazias”, conta Francisco Canelas, frisando que nestes tempos de pandemia os pedidos de ajuda aumentaram.
O Padre Acílio Fernandes, corresponsável da Casa do Gaiato de Setúbal, por seu turno, agradece o apoio do clube Lions, “muito importante e de continuidade, com uma ligação de cerca de 40 anos” e garante que “nesta casa, quem bate à porta tem sempre uma mão que o recebe, seja criança ou adulto, e que dá uma resposta consoante as necessidades das pessoas. Somos actualmente 37 rapazes e somos uma grande família”.
Uma família que se começou a construir pelas mãos do Padre Américo, de quem Acílio Fernandes guarda inúmeros ensinamentos e o maior exemplo. “O método educativo do Padre Américo não é aceite pelas entidades oficiais, que entendem que deve existir uma equipa técnica a conduzir a Obra. Nós entendemos que os rapazes são os técnicos.
Acreditamos neles para que o sejam”, explica. “O Padre Américo fez isto também porque era pobre, e como era pobre meteu os rapazes a trabalhar na Obra. Nós somos pobres. Recebemos ajuda das pessoas que têm simpatia pela Obra e que nos apoiam”, continua.
A Casa do Gaiato de Setúbal foi fundada em 1955 e é, nas palavras de Acílio Fernandes, que a ela chegou no ano seguinte e lá se mantém até hoje, “uma casa de família para os que não têm família. É uma família real. Somos pais de família, os rapazes são nossos filhos e zelamos por eles como se tivessem nascido de nós próprios e fazemos isso de uma forma inédita. Vivemos daquilo que nos dão. Não recebemos nada do Estado”.
Pandemia gera reforço de vontade de ajudar
Para além deste donativo, o Lions Clube entregou no início do mês uma doação de roupa usada à Liga dos Amigos da Terceira Idade no valor de três mil euros e é parceiro da União das Freguesias de Setúbal na entrega de seis cabazes de Natal a famílias carenciadas. “As nossas actividades são pessoas. O ano passado esta casa estava cheia. Este ano, mesmo sem nos podermos juntar, através das vias alternativas arranjamos maneira. E é interessante que o nosso clube está muito vivo. As pessoas estão com muitas iniciativas e vontade de ajudar”, partilha Francisco Canelas. “Não olhamos a quem. É quem nos bate à porta e se precisam nós vamos reinventar-nos. Esta é a nossa missão, servir o próximo e somos felizes ajudando o próximo”.