Especialistas nacionais e internacionais promoveram reflexão crítica e abordaram desafios existentes no sector
O XXXIV Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e Adolescência teve como tema de destaque a necessidade dum reforço do investimento e de recursos humanos no setor da saúde mental de crianças e adolescentes.
Este encontro, organizado em parceria com a ULSA, com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, na passada quinta e sexta-feira, contou com o contributo de um conjunto de especialistas nacionais e internacionais para promover a reflexão crítica e abordar diversos temas relacionados com os desafios que se colocam à saúde mental na infância e na adolescência.
Na sessão de abertura deste evento, que decorreu no Auditório da Sociedade Filarmónica Perpétua Azeitonense, o vereador da Saúde na Câmara Municipal de Setúbal, Pedro Pina, mostrou-se preocupado com as vulnerabilidades existentes na área da saúde mental de crianças e adolescentes, sendo que para o autarca, é necessário priorizar e investir no sector e contratar recursos humanos.
“A saúde mental tem de ser uma prioridade global, local e nacional no que à governação e ao financiamento diz respeito”, apontou o autarca, salientando que a saúde mental dos mais novos “não é um assunto para ficar escondido em nenhuma prateleira ou na esquina de uma freguesia”.
Na sua intervenção, Pedro Pina indicou a necessidade de “serviços comunitários articulados com serviços hospitalares e com cuidados de saúde primários, de uma cobertura regular dos serviços hospitalares de psiquiatria e saúde mental, sem assimetrias”, mas, principalmente, “de mais profissionais de saúde no SNS – Serviço Nacional de Saúde, valorizando a sua formação, carreira profissional e colocação onde mais falta fazem”.
No entender do autarca, ao nível da saúde pública, “é preciso garantir que se aprenda com a história recente”, referindo-se à pandemia de covid-19 e à necessidade de “existência de uma estrutura de saúde pública forte”.
O vereador sublinhou que “as alterações profundas provocadas pela pandemia no quotidiano das pessoas associadas à crise económica tiveram e têm ainda impactes na saúde mental e bem-estar psicológico e exigem a tomada de medidas para garantir a prestação universal de cuidados de saúde de proximidade e de qualidade”.
Especialistas destacam carência de recursos
Também presente esteve a médica psiquiatra Ana Matos Pires, da Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, que qualificou a carência de recursos humanos na saúde mental na infância e na adolescência como uma “área problemática e de particular deficiência”, adiantando que, na região sul, o SNS apenas tem estes psiquiatras em Setúbal e Beja.
“Ou há uma vontade política real de investimento nesta área ou então o Serviço Nacional de Saúde, que é para isso que trabalhamos e que, do meu ponto de vista, é a terceira conquista de Abril depois da Democracia e da Liberdade, terá forçosamente de ser assumidamente encerrado”, afirmou a especialista.
Também na sessão de abertura do evento, o presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde da Arrábida (ULSA), Luís Pombo, destacou a importância de se “refletir sobre a melhor forma de garantir o acompanhamento e o tratamento eficiente, de qualidade a todas as crianças e jovens que necessitem de apoio”.
Já Paula Cristina Correia, presidente da Associação Portuguesa de Psiquiatria da Infância e Adolescência (APPIA), realçou que as perturbações mentais são actualmente o “principal problema” de saúde pública na Europa e abrangem todos os grupos etários. A OMS estima que 20 por cento das crianças e adolescentes apresentam, pelo menos, uma perturbação mental antes de atingir os 18 anos de idade”, adiantou.
Esta sessão de abertura contou ainda com as participações da representante do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental da ULSA, Vanessa Vila Nova, e da coordenadora da Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência, Helena Afonso, informou a autarquia em nota de Imprensa.