Entre a ópera e o espectáculo teatral, esta é uma das obras marcantes do compositor argentino que fazia do bandoneóm a sua ‘voz’. Volta a palco para assinalar o centenário de Piazzola, este ano
O Fórum Luísa Todi, em Setúbal, recebe amanhã, 5 de Outubro, o espectáculo “Maria de Buenos Aires”. O último de um ciclo de quatro produções sobre esta ópera-tango, que passou por Alcobaça, Castelo Branco e Lisboa, dedicado ao centenário do compositor Astor Piazzolla. A direcção musical é de Daniel Schvetz, que vai estar ao piano.
“Quando me apercebi que em Março deste ano perfazia o centenário de Astor Piazzola, fiz várias propostas para o homenagear, entre elas a de um espectáculo de duas horas no dia 11 de Março, data do seu nascimento”, conta Daniel Schvetz a O SETUBALENSE.
A escolha de “Maria de Buenos Aires” foi por ser uma peça que permite um trabalho completo e, de alguma forma, representativo do trabalho do compositor argentino, que morreu a 4 de Julho de 1992, que combina o espectáculo teatral com o musical. Uma “operita”, como o próprio preferia dizer, por não o ver perfeitamente enquadrado no estilo ópera.
“Em 1954 em Paris, Piazzola estudou [teoria harmônica e contraponto tradicional com a educadora, compositora e directora de orquestra francesa] Nadia Boulanger e tocou para ela usando um bandoneóm, ela disse-lhe para não deixar aquele seu estilo próprio”, conta Daniel Schvetz. Nascia assim o que veio a ser chamado de Tango Novo.
Schvetz que, muito jovem, chegou a conhecer pessoalmente Piazzola, ambos argentinos, lembra outra relação com o compositor: “Nos anos 50/60 [do século passado] o estúdio de meu pai gravou “Maria de Buenos Aires”.
Estava também por aí enraizada a obra de Piazzola no compositor e professor do Conservatório Nacional Escola Artística de Música Daniel Schvetz, que vive há trinta anos em Portugal, actualmente em Sesimbra, que assume que o seu trabalho não segue a perspectiva musical do ‘reinventor’ do tango, apesar de ter orquestrado interpretações de suas obras.
Com libreto de Horacio Ferrer, poeta uruguaio-argentino que escreveu poemas para vários tangos de Piazzolla, “Maria de Buenos Aires”, que estreou na Sala Planeta em Buenos Aires a 8 de Maio de 1968, é a história de uma mulher, Maria, associada ao tango, à vida das ruas e da noite de Buenos Aires. Uma personagem que encerra múltiplas leituras: “Tanto era vista como prostituta, como por outras pessoas era associada à Virgem Maria ou à condição da mulher”, conta o director-musical.
Com 17 quadros em palco, o espectáculo conta com onze instrumentistas, três solistas, quatro personagem, em que uma delas é o recitante e três bailarinos que também recitam. “Temos cinco quadros que pedem coro falado por bailarinos”, diz Daniel Schvetz. A isto acrescenta que convidou o artista plástico, pintor, Eduardo Stupia que “esteve quatro meses a trabalhar nas projecções, um [complemento] de imagem para nós bastante importante”. E reconhece o empenho do Luísa Todi que “colaborou imenso para conseguirmos essas projecções que combinam os personagens e sombras”.
O espectáculo “María de Buenos Aires” resulta de uma co-produção entre Cistermúsica, Município Castelo de Branco, Centro Cultural de Belém e Município de Setúbal, tem um custo 15 euros plateia, e bilheteira online.