Organização do Festival Internacional de Teatro de Setúbal dá conta de uma edição muito participada e com espetáculos de grande qualidade num total de 40 iniciativas
A 25.ª edição do Festival Internacional de Teatro de Setúbal, organizado pelo Teatro Estúdio Fontenova em parceria com a Câmara Municipal de Setúbal entre os dias 19 e 26 de Agosto, em Setúbal, “superou as expectativas” da organização, afirmou o director artístico da companhia, José Maria Dias, a O SETUBALENSE, no sábado à tarde, último dia do festival.
“A edição está a superar as nossas expectativas a todos os níveis, quer em relação à qualidade dos espectáculos, quer em relação à afluência de público. Ainda não fizemos a contabilidade final deste ano, mas por aquilo que temos assistido de certeza que vamos superar os números do ano passado, que andaram à volta das mais de quatro mil pessoas”, avançou José Maria Dias.
Ainda que tenha decorrido num período marcado pelas férias de verão das famílias, a Festa do Teatro não deixou de integrar a agenda “de muita gente que já planeia as suas férias para irem ao festival”, considerou o responsável, minutos antes do início da peça infantil “Raposódio”. Outro factor que interferiu com o número de total de espectadores foi a lotação dos espaços.
A programação, terminada no passado sábado, 26, incluiu 40 iniciativas, entre elas duas dezenas de espectáculos de companhias portuguesas e estrangeiras – das quais três foram estreias -, exposições, workshops e conservas em torno das várias artes performativas. Momentos que colocaram em evidência o teatro puro e duro, mas também a performance, o novo circo e a música.
O programa decorreu em vários espaços e equipamentos municipais, numa lógica de “descentralização do acesso à cultura”, designadamente no Convento de Jesus, na Escola Secundária Sebastião da Gama, na Casa da Cultura, na Praça de Bocage, no Fórum Municipal Luísa Todi, no espaço A Gráfica – Centro de Criação Artística, no Mercado da Conceição e no Jardim de Palhais.
A O SETUBALENSE, José Maria Dias destacou o espectáculo “A Banda”, da companhia OtraDanza, de Barcelona, Espanha, como um dos pontos altos do evento. “Foi uma apresentação na Praça do Bocage, com entrada livre, em que segundo as nossas contas terão estado umas 500 a 600 pessoas a assistir”. “Já a nível de espectáculos não consigo eleger apenas um, dado que foram todos muito bons”.
Além de Espanha, participaram na 25.ª edição do Festival Internacional de Teatro de Setúbal companhias de Angola, Brasil, Chile, Argentina e Itália, o que permitiu levar à cena criações artísticas em várias linguagens e abordagens artísticas. A par da secção “Oficial”, o evento contou com perto de uma dezena de projectos de “companhias e artistas emergentes” na secção Off – Mais Festa, com alguns deles a concurso.
José Maria Dias, director artístico do Teatro Estúdio Fontenova, saldou o intercâmbio artístico com os membros das companhias estrangeiras convidadas como um “engrandecimento enquanto artistas, porque a troca de experiências – com novas técnicas e formas de abordagem – é sempre enriquecedora” para todos os que trabalham no teatro.
No rescaldo da 25.ª edição da Festa do Teatro, o responsável adiantou a O SETUBALENSE que “a programação da edição do próximo ano está praticamente fechada”. Para tornar possível a edição agora terminada estiveram envolvidas diretamente meia centena de pessoas, entre a equipa fixa do Teatro Estúdio Fontenova, mais de uma dezena de voluntários e funcionários dos vários equipamentos culturais da autarquia.
O Festival Internacional de Teatro de Setúbal – XXV Festa do Teatro é financiado por República Portuguesa – Cultura – Direcção-Geral das Artes e pela Câmara Municipal de Setúbal e organizado pelo Teatro Estúdio Fontenova e pela autarquia em parceria com o Agrupamento de Escolas Sebastião da Gama, onde a organização monta o seu “quartel-general” todos os anos, durante o festival. O festival caminha a passos largos para a 30.ª edição, a ter lugar em 2025, no mesmo ano em que a companhia soprará as velas dos seus 40 anos de existência.
Festa do Teatro aposta no público infanto-juvenil
Contribuir para a formação de novos públicos e fidelizá-los ao teatro tem sido uma das missões levadas a cabo pelo Teatro Estúdio Fontenova a cada edição da Festa do Teatro, lembrou a O SETUBALENSE o seu director artístico, José Maria Dias. “Este ano apostámos deliberadamente numa oferta infanto-juvenil, visto que formar públicos é um dos novos objectivos desde sempre. Não é por acaso que já temos um público que nos acompanha ao longo de várias gerações”.
“Há repetentes”, assegura, e “crianças que este ano obrigaram os pais a vir”. No caso de Ana Mateus e do filho Noa Santos, foi ela que o levou a ver a peça “Raposódio”, na Casa da Cultura, em Setúbal, sábado à tarde. “Trouxe-o para estar em contacto com peças de teatro, que tem visto mais com a escola. Quando são peças interactivas, ele gosta. Ficam muito mais ricos em termos culturais e se for uma peça com qualidade e interativa, eles não se aborrecem tanto”.
Interpretada por Beatriz Direito com texto de Ana Santos, música de João Pratas, cenografia, figurinos e adereços de Cláudia Simões e conceção e direcção de Zé Pedro Ramos, “Raposódio” encheu quase na totalidade o auditório da Casa da Cultura e colocou crianças no palco, como parte integrante do espectáculo. “O objectivo é elas estarem envolvidas e irem percebendo o que se está a passar. Muitas vezes pode ser imprevisível, mas isso é que o torna divertido fazer este espectáculo”, contou Beatriz Direito.
Licenciada em Canto Lírico e pós-graduada em Música na Infância, Beatriz, de 22 anos, interpretou esta peça – estreada em Maio pela D’Orfeu, uma associação cultural de Águeda – pela sexta vez. “Há públicos muito entusiastas e outros muito caladinhos, e aqui em Setúbal encontrei um meio-termo. As crianças foram bastante interactivas. E numa altura em que os telemóveis são um recurso omnipresente, acho que saírem de casa a um sábado à tarde para irem ver uma peça de teatro é espectacular. Pode despertar-lhes muita curiosidade em relação à arte e deixar essa semente”, considerou.