Leonel Barreto está há oito dias nas urgências. Centro Hospitalar garante que admissão do septuagenário acontece amanhã
A família de Leonel de Sousa Barreto, que se encontra em estado terminal devido a várias patologias, entre as quais cancro do pulmão, acusa o Hospital de São Bernardo de tratar o idoso de “forma indecente e desumana” nestes “seus últimos dias de vida”.
Leonel de Sousa Barreto deu entrada no serviço de Urgência Geral do São Bernardo no passado dia 16, depois de uma queda em casa, que resultou no fémur esquerdo partido e na fractura da bacia.
Durante oito dias, foi neste serviço que o idoso, de 79 anos, permaneceu, “entre a sala aberta e os corredores, a aguardar a morte num sofrimento atroz e desumano, sem estar referenciado para as várias equipas”.
Quem o garante é Vânia de Sousa Sobral, filha do septuagenário, que disse a O SETUBALENSE considerar que o pai “tem o direito de terminar os seus dias com decência, com paz e alguma tranquilidade” e “não esquecido nas urgências, sobre um terror e barulho que não há explicação”.
“Ele precisa, no mínimo, de um quarto. Arranjem por favor um ‘buraquinho’. Mas será que no Hospital de São Bernardo não há um quartinho onde o meu pai possa estar o mais descansado e em paz possível? Isto é completamente desumano”, revelou.
Em resposta a O SETUBALENSE, o Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) confirmou que “o utente recorreu ao serviço de Urgência Geral” e garantiu que, passados sete dias, a nova vaga foi atribuída, “estando programada a sua admissão no dia 25.02.2022 [amanhã]”.
Refere igualmente o CHS que Leonel de Sousa Barreto dirigiu-se ao Hospital de São Bernardo “no dia em que estava programada a sua integração noutro nível de cuidados de saúde, não tendo, por esse motivo, sido internado nessa instituição”.
Os cuidados paliativos estiveram assim ‘em cima da mesa’, unidade na qual o septuagenário daria entrada no dia 15 de Fevereiro, mas devido à queda, e de uma possível cirurgia, perdeu a vaga. No entanto, por decisão dos médicos, devido à sua frágil condição, acabou por não ser operado, assim como perdeu o lugar disponível nos cuidados paliativos, porque “ultrapassaria os seis dias nos quais teria de responder”.
“Não coloco em causa se foi ou não uma boa opção, mas a verdade é que se ele tivesse sido operado, estaria já num quarto na cirurgia ou não resistia à operação e partia em paz”, confessou Vânia de Sousa Sobral.
“Ele não pode estar é nas urgências. Não sabemos se é amanhã que ele pode partir, se é daqui a uma semana ou mais, ele tem é de estar num sítio em que esteja com alguma humanidade”, acrescentou.
Questionada sobre a possibilidade de o utente, depois de ter tido alta da especialidade de Ortopedia, uma vez que a operação ficou fora de questão, ter regressado a casa ou sido encaminhado para uma outra unidade, Vânia de Sousa Sobral referiu que “não pôde ser enviado”, até porque “tem de ter acompanhamento permanente”.
Já o CHS assegurou que “à data de alta da Urgência Geral foi efectuado novo pedido de integração para a continuidade de cuidados” e “que durante a permanência no serviço foram assegurados todos os cuidados ao doente”.
Para a filha de Leonel de Sousa Barreto, o desespero foi-se acentuando quando, “na parte das urgências, se pedia alguma informação e ele nem sequer estava referenciado no trabalho diário deles”.
“Ali ficou completamente abandonado, 24 sobre 24 horas naquela agitação e na própria confusão mental, porque está lúcido e apercebe-se de toda a situação”, descreveu.
Uma das opções passou ainda por transferir o septuagenário para o Serviço de Observações (SO). “Mas o SO também não resolve. O meu pai, neste momento, só está à espera de morrer. Ele precisa que isso aconteça com alguma dignidade. Com humanidade. E é isso que não está a haver”, sublinhou Vânia de Sousa Sobral.
A terminar, disse ser “de lamentar que um hospital não tenha uma solução pronta para uma situação destas”. “É agonizante para nós, enquanto família, nestes últimos dias, termos visto-o nesta situação. Só exigimos um lugar digno para este ser humano morrer”, concluiu.