Expectativa da rua. Família sem casa aguarda respostas da Segurança Social

Expectativa da rua. Família sem casa aguarda respostas da Segurança Social

Expectativa da rua. Família sem casa aguarda respostas da Segurança Social

Esta segunda-feira Jaime, Cesarina e o filho vão ficar na rua. O hotel, na baixa de Setúbal, onde estão abrigados desde o fim de Maio, “não pode ficar mais tempo responsável pela situação, sem respostas das entidades competentes”, revela o gerente

 

Jaime Couto, Cesarina Couto e o filho, estão abrigados no Hotel Bocage, à espera de alojamento de emergência, desde 28 de Maio. Esta segunda-feira vão ficar na rua se nenhuma solução surgir.

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Vitor Henriques, gerente do hotel, diz que a situação “não se pode estender por muito mais tempo” e dá um prazo final para que as entidades com responsabilidade social se pronunciem e encontrem solução. “Até segunda-feira no máximo, porque já passaram duas semanas e por mais que esteja disponível para ajudar quem precisa, a família não poderá ficar mais tempo aqui, sem que haja uma resposta. Depois desse dia, se continuar tudo igual, dói-me o coração, mas Jaime a esposa e o filho têm de ir embora”.

Em declarações a O SETUBALENSE, Cesarina diz que quando o caso veio a público, “depois da primeira reportagem publicada pelo jornal, no fim de Maio, uma assistente social ligou e disse que tudo iria ser resolvido e que em breve estaria a receber o RSI [Rendimento Social de Inserção]. A casa ia ser mais difícil, porque há muitos pedidos, por causa da pandemia, mas estavam também a tentar. Duas semanas passaram e nada foi resolvido”, comenta. “O meu marido tem ido todos os dias à porta do edifício da Segurança Social e o que lhe dizem é que estão em teletrabalho e que tem de aguardar”.

Jaime e Cesarina têm rendimentos para pagar a renda de ua casa “desde que não seja alta, como muitas de 500,00 euros que aparecem”. Reformado, o antigo funcionário da Câmara de Setúbal tem uma pensão e “mais algum dinheiro de trabalho extra, quando surge”. E se a esposa e o filho conseguirem apoios sociais “as coisas ainda ficam mais organizadas”, afirma.

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O problema, desde que tiveram de deixar a sua casa em 2017, devido à violência doméstica que sofriam às mãos de um filho toxicodependente, “são os meses de caução que os proprietários pedem e o fiador”, refere Cesarina. “Nós não temos 1 500,00 euros para dar de uma vez, nem fiador. Temos sim o dinheiro para pagar a renda do mês e ninguém aceita fazer um acordo, para irmos pagando a caução aos poucos”, explica.

Até a solução surgir, sobre a qual cada vez mais Cesarina acredita, “só por milagre”, a família está a receber apoio alimentar na Associação de Socorros Mútuos Setubalense (ASMS) e na Cáritas. Também o padre Constantino Alves, responsável pela paróquia de Nossa Senhora da Conceição, onde leva a cabo uma obra social de apoio alimentar e formação cívica com dezenas de famílias, está acompanhar o caso.

Desde que souberam do caso os setubalenses uniram-se e não pararam de tentar soluções. Um grupo de voluntários chegou, inclusive, a angariar dinheiro para pagar alguns dias da estadia da família no hotel. Os mesmos voluntários que conseguiram levar o caso à ASMS, segundo afirmou a O SETUBALENSE, Fernando Paulino, presidente da direcção desta instituição.

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Na expectativa da rua desde 2017

 

Há mais de um ano que Jaime João Nunes Couto passa de “pensão em pensão”, sem residência fixa. Em 2017, abandonou a casa onde residia com a esposa, doente oncológica, e o filho, diagnosticado com esquizofrenia. Fugiram à “violência do outro filho, toxicodependente”, recorda Jaime. Desde então passou por uma casa, que teve de deixar porque o filho mais novo, durante os surtos, danificou mobílias, portas e paredes.

Depois disso, ficaram “na pensão Luísa Todi”, até que a proprietária disse que “tinham de sair”. Foi quando Jaime, em recurso temporário, no fim de Maio, alugou por algumas noites um quarto no Hotel Bocage.

“Não tinha muito dinheiro, só conseguia pagar umas três noites e depois não sabia que ira comer nem o que iria fazer, mas era melhor do que ficar na rua”, revela. Foi nesse momento que a ajuda dos voluntários permitiu pagar mais alguns dias de alojamento e aguardar por outras respostas oficiais. Era suposto ficarem apenas até ao dia 28 de Maio mas, entretanto, os dias passaram e a ajuda esperada não chegou.

“Sim é verdade que no passado já nos ofereceram ajuda e não quisemos aceitar”, assume Cesarina. “Mas essas respostas passavam por ficarmos os três a viver em diferentes instituições”, alega. “E não é isso que queremos. Queremos uma casa e podemos pagar, desde que seja um valor justo”.

O SETUBALENSE contactou o Centro Distrital da Segurança Social de Setúbal, mas até ao momento não obteve qualquer resposta. E, num primeiro momento, em contacto com a Câmara Municipal de Setúbal, a resposta informal que obteve foi de que estes casos são da responsabilidade da Segurança Social.

 

Novos pedidos de ajuda social são de quem, até há pouco tempo, tinha recursos

 

Em declarações a O SETUBALENSE, o padre Constantino Alves alerta que as situações de ajuda alimentar “têm aumentado progressivamente, devido à pandemia”. A maior parte dos casos são pedidos de imigrantes, “recentemente chegados a Setúbal e que ficaram sem os rendimentos do trabalho precário que tinham”.

Mas também chegam à paróquia famílias setubalenses, “que antes tinham emprego, com contrato”, refere Constantino Alves.

Para além destas três tipologias de casos, a esta paróquia chegam ainda pedidos de ajuda de “mães que estão sozinhas com filhos a cargo, pessoas em situação fragilizada devido a dependências e idosos com pensões baixas”.

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