Navio que está no rio não é o que vai fazer as dragagens no Sado
A draga que se encontra na zona interior de Tróia não é ainda a que irá fazer as dragagens no Sado, no âmbito do Projecto de Melhoria da Acessibilidade Marítima ao Porto de Setúbal, ao contrário do que noticiou o DIÁRIO DA REGIÃO.
A confirmação foi feita pela Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), que acrescentou não ter ainda informação de quando chegará a Setúbal a draga que irá fazer a obra.
O navio que se encontra no Sado, que é a maior draga do mundo na sua classe, esteve apenas em reparação e prepara-se para seguir viagem.
O navio, de bandeira Holandesa, pertence à empresa Van Oord, chama-se HAM 318 – HOPPER DREDGER, é uma draga da classe Hopper, foi construído em 2001. Tem um calado de 6,5 metros e encontra-se fundeado ao largo da zona interior da península de Tróia, próximo do terminal do Ferryboat.
Depois do inicio recente dos trabalhos preparatórios da zona portuária junto aos terminais Ro-Ro (de embarque de automóveis) e de contentores (ver texto mais abaixo), será chegada a altura de se iniciarem as dragagens.
O primeiros dragados – areia retirada do fundo do rio – vão ser depositados no aterro de alargamento do terminal Ro-Ro pelo que não dependem do TUPEM – Titulo de Utilização do espaço Marítimo – que tem sido objecto de polémica.
O primeiro TUPEM aprovado pela Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) tem sido contestado por pescadores e empresas turísticas por localizar-se junto a Tróia na zona da Restinga, considerada maternidade de peixes.
A presidente da Administração do Porto de Setúbal e Sesimbra tem realizado encontros com os representantes dos pescadores e compromete-se a encontrar uma alternativa de consenso para a deposição dos dragados no mar.
Entretanto, a área anexa ao Terminal Ro-Ro preparada para receber o aterro, será o destino da primeira parte dos dragados.
O Projecto de Melhoria da Acessibilidade Marítima ao Porto de Setúbal é uma obra orçada em 25,3 milhões de euros e consiste num conjunto de dragagens para aprofundamento nos canais de navegação, de modo a permitir a entrada de navios de maiores dimensões e com maior calado.
Para além do aprofundamento, o projecto inclui o alargamento do canal de acesso, permitindo o cruzamento de navios, e a criação de uma nova bacia de manobra, implicando um volume total de dragagem de 3,5 milhões de metros cúbicos de areia.
“Ultrapassar as restrições de navegabilidade actualmente existentes no porto de Setúbal é uma ambição e um projecto já anteriormente tentado, mas que agora tem todas as condições técnicas, financeiras, ambientais e políticas para ser concretizado, colocando o porto de Setúbal num lugar cimeiro do Sistema Portuário Nacional. Com esta obra o porto de Setúbal poderá receber mais e maiores navios”, afirma o gabinete da ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, em Agosto de 2017, aquando do lançamento do concurso publico internacional para a obra.
Dragagens e deposição de dragados contestadas por ambientalistas, pescadores e empresas de turismo
Associações ambientalistas e de cidadãos, e empresários da pesca artesanal e do turismo têm contestado as dragagens no Sado pelas mais diversas formas, na rua e nos tribunais.
Em Fevereiro, a plataforma que reúne diversas organizações, lançou uma petição pública para suspender as dragagens para expansão do Porto de Setúbal, que consideram prejudiciais ao ecossistema do estuário do Sado.
“Vamos continuar a apoiar essas acções judiciais e procurar outras também. Foi aqui falada [a hipótese de] uma queixa à Comunidade Europeia que também será uma via que nós poderemos optar”, disse Pedro Vieira, do Clube Arrábida.
“O grande problema é que esta obra, se avança nos moldes em que está, os danos que vai causar são irreversíveis. Ao retirar-nos os 6,5 milhões de metros cúbicos de areia nas duas fases de dragagem, já não voltamos a por lá essa areia. E todo o dano que isso vai causar a montante e em cadeia será uma autêntica bola de neve. Portanto, o objectivo é parar o projecto como ele está definido neste momento”, afirmou Pedro Vieira.
David Nascimento, da SOS Sado, diz que os representantes dos cidadãos contra as dragagens já foram recebidos em sede de comissão parlamentar, têm mantido “algum contacto esporádico com alguns grupos parlamentares”, mas que “há efectivamente alguma ausência de abertura para um diálogo mais esclarecedor e alargado para as consequências deste projecto”.
Obras começaram com preparação do terminal portuário
As obras de aprofundamento dos acessos ao porto de Setúbal, já começaram, com os trabalhos preparatórios do terminal portuário onde vão ser depositados a primeira parte dos dragados. O fundo do rio, junto ao terminal de contentores, recebeu na semana passada, obras de “remoção de um afloramento arenitico”, na designação da APSS, que a associação SOS Sado e o Clube da Arrábida dizem colocar em causa a parte submersa da Pedra Furada, um monumento geológico com dois milhões de anos.
A esses trabalhos, com recurso a um batelão, que já foram concluídos, segundo a APSS, seguiu-se o transporte da pedra necessária à construção da estrutura de contenção do aterro que vai ser feito ao lado do Terminal Ro-Ro.
Estas obras são trabalhos prévios ao inicio da operação da draga no estuário do Sado, onde está prevista, na primeira fase do projecto, a remoção de 3,5 milhões de metros cúbicos de areias.
A DIA refere que “previamente ao início da obra” a APSS deve “apresentar à Autoridade de AIA, para análise e aprovação” os “resultados de sondagem geoarqueológica na área de deposição do material dragado na zona nascente do Terminal Ro-Ro que contemple a recolha da informação paleoecológico” e que “o resultado deve ser alvo de um estudo geológico/sedimentológico no sentido de confirmar a sequência de deposição sedimentar com a realização e identificar as sucessivas movimentações que a orla costeira sofreu ao longo dos séculos, nomeadamente em época plistocénica e holocénica”.
A APSS afirma que entregou toda a documentação e que intervenção foi aprovada.
“Toda a documentação referida foi entregue na APA no dia 8 de Novembro de 2018 e no dia 7 de Fevereiro de 2019, sendo que a APSS obteve posteriormente a aprovação para o inicio dos trabalhos”, refere a administração portuária em resposta por escrito, na semana passada.
Foto actual de Alex Gaspar, feita hoje no Sado
Nota: notícia retificada às 15h09 por o navio que se encontra no Sado não ser o que irá fazer as dragagens do Porto. Pelo erro apresentamos desculpa aos visados e aos leirores.