Hospital de São Bernardo recebeu encontro com presença da secretária de Estado, Catarina Marcelino
A visita da secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade ao Hospital de São Bernardo, em Setúbal para encerrar o ciclo formativo sobre o futuro das desigualdades e as iniciativas públicas de sensibilização para o problema da violência foram os dois pontos altos das comemorações do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, que pretendeu alertar para a violência de género, que atinge 85% das mulheres portuguesas.
No âmbito das comemorações do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, Catarina Marcelino, secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade esteve na sexta-feira passada, no Hospital de São Bernardo, em Setúbal, onde participou no encerramento de um ciclo formativo destinado aos profissionais de saúde do hospital sobre a igualdade de género subordinado ao tema, O Futuro das Desigualdades.
Na sua intervenção, a governante socialista reforçou a importância do papel dos profissionais de saúde no combate a todas as formas de violência e apelou à constituição de uma comunidade activa contra a violência. “Hoje é um dia muito importante. Em Portugal, decidimos em conjunto com as organizações não-governamentais centrar a questão numa comunidade activa contra a violência, composta por cidadãos comuns, profissionais de saúde e educadores”. Nesse ponto, “essa comunidade não pode ignorar o que se passa ao seu lado, tendo a saúde um papel fundamental não só no tratamento das doenças, mas no envolvimento físico, social e psíquico das vítimas. Muitas vezes, são os profissionais de saúde que se deparam nas consultas com situações muito graves, devendo denunciar os casos às autoridades”, afirmou.
Catarina Marcelino destacou igualmente que as crianças não podem ser consideradas “vítimas colaterais”, mas antes “vítimas directas”, à semelhança de todas as mulheres obrigadas a abandonar o lar. Actualmente, 800 mulheres estão fugidas das suas casas por maus tratos por parte dos companheiros ou cônjuges.
Relativamente às soluções para combater este flagelo social, a secretária de Estado enunciou as três linhas de actuação, segundo as quais o Governo já se encontra a trabalhar. Primeiro, a subscrição de novos protocolos de combate à violência com especial incidência nos concelhos do interior do país, em parceria com os hospitais e centros de saúde. Pela primeira vez, os referidos protocolos vão contar com a estreita colaboração da Medicina Legal para recolha das provas, Ministério Público e Comunidades de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) espalhadas pelo país.
Em segundo, o Governo pretende investir na educação para a cidadania nas escolas, de forma a incutir às crianças e jovens valores como a igualdade entre géneros e questões relacionadas com direitos humanos. “Além da Matemática e do Português, as escolas devem trabalhar na educação sexual e reprodutiva, que deve ser comunicada não só às meninas, mas também aos meninos”, reiterou.
E em terceiro, o caminho que deve ser percorrido na área da violência sexual. “Quando falamos de violência doméstica, falamos de murros e pontapés, mas raramente da violência sexual exercida sobre as mulheres, que é vista como um tabu. Nós temos de ter a capacidade de levantar o véu, porque só com palavras é que as coisas podem mudar de rumo”, concluiu.
No final, Catarina Marcelino reforçou o apelo a todos os profissionais de saúde para que fiquem atentos às várias manifestações de violência, adoptando “uma postura actuante perante esta grande causa de direitos humanos”.
Faltam 85 anos para homens e mulheres terem a mesma remuneração
Incluída no painel de oradores, Natividade Coelho, directora do Centro Distrital da Segurança Social de Setúbal, considerou que “para sermos membros dessa comunidade activa contra a violência, é importante falar de emoções, pois só assim conseguiremos pôr fim a crimes intoleráveis, como a violência doméstica, sexual e o assédio moral e no trabalho”. No decurso da sua comunicação, Natividade Coelho apontou algumas estatísticas acerca da violência no mundo. Em média, uma em cada três mulheres sofre de violência, sendo que 85% das vítimas são de violência doméstica. Estima-se que os estados-membros gastam 16 milhões de euros anuais em despesas relacionados com a violência. As projecções futuras da União Europeu indicam que ainda faltam 85 anos para os dois géneros terem uma remuneração igual em todo o mundo.
O encerramento dos trabalhos da manhã de sexta-feira, 25, coube a Maria das Dores Meira, presidente da Câmara de Setúbal, que aproveitou a ocasião para vincar a luta constante contra a violência sobre as mulheres. “Há que insistir em permanência para que ninguém se esqueça de que estamos perante uma realidade demasiado presente”, afirmou. Salientando que muitas vezes, as manifestações de violência acontecem “mesmo ao nosso lado a gente que conhecemos e estimamos”, a edil setubalense não quis deixar de “recordar e homenagear neste dia especial, uma trabalhadora da Câmara Municipal de Setúbal assassinada num contexto de violência doméstica há quase dois anos e, através dela, homenagear todas as mulheres que são diariamente agredidas física e psicologicamente”.
Além das oradoras citadas, a sessão de encerramento do ciclo de formação contou com a presença de Manuel Roque, presidente do Conselho de Admnistração do Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) e da enfermeira Maria do Carmo Carnot, coordenadora do Grupo de Implementação do Plano de Igualdade de Género do CHS.
Marcha pela igualdade e acções de proximidade na baixa da cidade
Organizada pela Sociedade de Estudos e Intervenção em Engenharia Social (SEIES), em parceria com a Câmara Municipal de Setúbal, Agrupamento de Escolas Lima de Freitas, Instituto das Comunidades Educativas, Centro Comunitário de São Sebastião, Associação de Professores e Amigos das Crianças do Casal das Figueiras, o ACM e o Pro-Infinito e Mais Além, a campanha pública de sensibilização continuou à tarde pelas ruas de Setúbal, com a distribuição de panfletos e sacos com mensagens contra a violência.
As acções prosseguiram na Praça do Bocage, com um jogo da macaca com perguntas e respostas sobre a igualdade de género e conversas pela igualdade com base em provérbios preconceituosos. A programação do dia culminou com a realização de uma marcha pela igualdade, que concentrou cinco dezenas de pessoas em frente ao edifício dos Paços do Concelho. No evento, foram ostentados cartazes com frases como “Ciúme não é amor”, “Não sou tua propriedade”, “Violência no namoro é um crime” e “Não à violência contra as mulheres”.