A histórica livraria esteve em risco de fechar portas no ano passado, mas em boa hora houve quatros sócios que quiseram agarrar no projecto. Hoje com 44 anos, a Culsete tem um espaço reorganizado, com a ambição de atrair novos públicos e marcar a agenda cultural
A livraria independente Culsete, em Setúbal, foi “reinaugurada” oficialmente na tarde de sábado, 25, dia em que os novos donos do negócio assinalaram um ano da aquisição do espaço, fundado pelo casal de livreiros Manuel Medeiros e Fátima Ribeiro de Medeiros em 1973, na Avenida 22 de Dezembro. A partir deste novo capítulo, que arranca com mudanças físicas na loja e montras de Natal, o objetivo é atrair novos públicos, como o infantil, e dar continuidade à agenda cultural da Culsete na cidade.
Quem for estes dias à Culsete encontrará um amplo corredor de livros à entrada, um balcão ao centro e um espaço de circulação “mais funcional e circulável”. É assim que duas das sócias do negócio, Inês Godinho e Sónia Geadas, descrevem o resultado final da reformulação do espaço, pensada por dois amigos arquitectos. “Os próprios clientes, cada vez que entravam, pediam-nos para não mudar muito” – por isso mantiveram as mobílias de madeira e mudaram sobretudo a posição das secções da loja.
A secção infantil é uma das apostas claras da livraria. Não só por agora ter um sofá próximo de uma janela, ganhando luz natural e visibilidade a partir do exterior, mas também porque é a partir do público infantil que querem atrair futuros clientes. “Teremos um enfoque muito especial com as crianças. São elas que trazem os pais, que muitas vezes estão divorciados da leitura”, explicou Mário Ferreira, outro dos sócios. A instalação de um pequeno teatro de fantoches é uma das ideias.
A gama de obras literárias mais recentes e comerciais, em linha com os livros de pesquisa, de autores locais e edições mais antigas – no fundo “o que distingue as livrarias independentes”, diz Inês Godinho – ganha igualmente novas condições de atractividade com mesas e cadeiras a ser colocadas brevemente, para que os clientes possam ali ficar a ler. A papelaria e o balcão central são outras das secções reorganizadas que saltam à vista.
Dinamizar a agenda cultural
A equipa da Culsete trabalhou durante um ano na remodelação da livraria, depois da passagem de testemunho da anterior proprietária, Fátima Ribeiro de Medeiros, que se afastou do negócio por motivos de saúde. Uma vez adaptados ao negócio, encontram-se focados no que aí vem. “A partir do início de 2018 a Culsete será local habitual de realização de exposições, apresentações de livros, debates, comemorações, semanas temáticas, palestras sobre cultura, encontros temáticos, o encontro livreiro e a tradicional arruada”, anunciou Mário Ferreira na ocasião.
O objectivo é convocar também instituições públicas, escolas, bibliotecas e empresas para a construção de “um projecto abrangente à volta do livro e da leitura, da cidade e para a cidade, com uma base cultural forte, mas apostando na divulgação do conhecimento e no debate de ideias de uma forma mais abrangente do que o convencional”.
Convictos de que “apesar de todas as adversidades, há espaço para as livrarias independentes em Setúbal”, os novos donos da Culsete têm as portas abertas de segunda a sexta das 10h00 às 13h00 e das 15h00 às 18h00 (sábado, apenas de manhã), garantindo uma experiência de compra típica de uma loja de bairro. No Natal, que de resto inspira a decoração das duas montras, contam abrir também à tarde. “É a época de ouro” para as vendas, diz Sónia Geadas, com confiança no futuro luzente da livraria.