Espaço acolhe dezenas de cães e gatos, garantindo abrigo, alimentação, higiene diária e assistência veterinária
Entre latidos, miados e passos apressados, o quotidiano no Centro de Recolha Oficial de Animais de Companhia de Setúbal (CROAC) é pautado por desafios constantes, mas também por histórias de esperança. É neste espaço inaugurado em Junho de 2021, que acolhe dezenas de cães e gatos abandonados, que trabalha a veterinária Cátia Simões, cujas funções vão além do bisturi e da medicação. Para a médica não há dúvidas, os problemas “não estão nos animais, são as pessoas que os causam”.
Este centro acolheu 134 cães em 2024, sendo que este número, segundo Cátia Simões, está directamente ligado ao volume de adopções. “Se tivermos muitas adopções, conseguimos receber mais animais. Caso contrário, não temos espaço”, explica.
O CROAC, também conhecido como Casa da Bicharada, garante o essencial previsto na lei, ou seja, abrigo, alimentação, higiene diária e assistência veterinária. Em declarações a O SETUBALENSE, a médica veterinária explica que cada animal é avaliado assim que chega, sendo que se estiver doente ou ferido, é tratado. Todos são vacinados, desparasitados e, caso não tenham tutor identificado via microchip, são esterilizados após 15 dias.
Também a socialização e a possibilidade de expressar comportamentos naturais são asseguradas, tanto para cães como para gatos.

O mistério do abandono e os desafios da adopção
Cátia Simões esclarece que a causa do abandono raramente vem identificada. “Eles não trazem um rótulo que explique o motivo”, lamenta a veterinária. As razões mais frequentes apresentadas por quem entrega um animal são problemas económicos, mudanças de casa, viagens ou comportamentos indesejáveis.
Apesar do estigma de aumento do abandono, os números mantêm-se estáveis. O que tem diminuído, no entanto, são as adopções, sobretudo de cães adultos ou de porte grande. “Os cachorros são adoptados rapidamente, já os adultos, muitas vezes, passam anos connosco”.
O processo de adopção é criterioso, sendo que depois do primeiro contacto, é marcada uma visita e, se possível, um encontro entre o potencial adoptante e o animal. “Fazemos uma entrevista para avaliar fragilidades e riscos de devolução. Só queremos adopções duradouras”, refere.
Após a adopção, há um período de acompanhamento de duas semanas, com apoio veterinário se necessário.
Mais do que um trabalho, uma missão de vida
Cátia Simões fala com emoção da sua ligação ao mundo animal. “Cresci com um pai que caçava, mas por vezes trazia para casa cães abandonados. Sempre quis ser veterinária para mudar esse destino”, explica, acrescentando que os problemas “não estão nos animais, são as pessoas que os causam”. A médica destaca que a principal mudança é cultural, sendo necessário acabar com a ideia de que um animal é descartável.
Quanto ao lado emocional, Cátia Simões destaca que o trabalho é exigente. “É difícil desligar. A pressão por parte da população é grande, e às vezes sentimos que nunca é suficiente”. Ainda assim, a veterinária não perde a motivação, acreditando que é possível construir um futuro melhor para os animais, com empatia, educação e persistência.