Sofia Patrício, directora Técnica e Operacional não compreende dimensão da polémica à volta dos resíduos importados de Itália. Assegura que não são perigosos e que se trata de uma “quantidade pequena”, quando comparada com outros resíduos que estão a ser importados para Portugal, para incineração, por exemplo
O CITRI garante que os resíduos importados de Itália são idênticos ao lixo doméstico, mas “já devidamente tratados” e que o carbono orgânico, substancia que tem suscitado mais polémica, é “absolutamente inócuo”, que “é um elemento essencial à vida e a sua presença é muito elevada em todos os seres vivos.”
Em entrevista exclusiva ao DIÁRIO DA REGIÃO, a engenheira Sofia Patrício revela que até ao momento chegaram a Mitrena seis mil toneladas destes resíduos, que estão armazenados numa célula própria, garantindo todas as boas práticas para estes casos. A responsável lembra que foi a empresa que decidiu colocar as primeiras remessas de quarentena e solicitar análises à Alemanha.
Já tem conhecimento dos resultados das novas análises que o ministro do Ambiente disse terem sido pedidas aos resíduos vindos de Itália?
O CITRI, tal como sempre fez, respondeu a todos os esclarecimentos solicitados pela Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT), pelo que neste momento aguardamos que as autoridades desenvolvam os seus procedimentos. Para já ainda não temos mais informações. Estamos serenamente a aguardar.
Aliás, o procedimento do IGAMAOT é perfeitamente aceitável e compreensível, dentro daquele que é o princípio da prudência que utilizou desde o primeiro momento. É uma entidade fiscalizadora que está a cumprir a sua missão.
Desde o primeiro momento adoptámos diversas medidas para garantir a preservação do meio ambiente, o cumprimento da lei e, também do que estava acordado com os nossos clientes. Disponibilizamo-nos a colaborar na resolução de um problema ambiental num estado que está connosco na União Europeia, tratando apenas e somente resíduos não perigosos. Pelo que nunca permitiríamos outra situação. Conforme vinha inclusive identificado nas análises iniciais de Itália.
As análises já conhecidas indicam o quê, rigorosamente? As dúvidas prendem-se com a existência de carbono orgânico?
As análises Italianas, as análises realizadas no laboratório acreditado do CITRI e as análises realizadas por uma entidade independente, num laboratório na Alemanha, todas eram concordantes. Ou seja, as análises demonstram que se tratam de resíduos não perigosos do tipo urbano, similares aos produzidos nas habitações, mas já devidamente processados.
Foi por isso, tratando-se deste tipo de resíduos, que todas as análises identificaram a presença do tal carbono orgânico. Uma presença normal e natural neste tipo de resíduos, e que basicamente identifica a presença de resíduos orgânicos. A questão levantada pela IGAMAOT prende-se apenas com isto, pedir ao CITRI a demonstração que pode tratar este tipo de resíduos.
É importante ter em atenção que o carbono orgânico é um elemento essencial à vida e a sua presença é muito elevada em todos os seres vivos. Por outras palavras; não é perigoso.
As lamas de ETAR e das papeleiras que são depositadas diretamente no solo agrícola como fertilizante sem qualquer tipo de tratamento prévio têm valores de carbono orgânico 3 ou 4 vezes superiores aos revelados nestas análises, só para ilustrar um exemplo que se trata de algo absolutamente inócuo e sem qualquer tipo de perigo.
Se todas as análises confirmam que são resíduos não perigosos, porquê a polémica à volta desta questão?
(Riso) Bem, essa pergunta tem uma resposta evidente, mas não é muito fácil de responder.
Nós ficámos muito surpresos com o alarido à volta de uma quantidade tão pequena, especialmente quando se compara com as 133 mil toneladas de resíduos que entraram em Portugal em 2015 só referentes à lista laranja (resíduos sujeitos a notificação e aprovação prévia das autoridades) e cerca de 2 milhões de toneladas recebidas referentes a resíduos da lista verde. Em 2015 e 2016 estimamos que Portugal terá importado cerca de 300 mil toneladas de resíduos só da lista laranja.
Sinceramente não sei se terá a ver com alguma desinformação, ou mesmo alguma precipitação. A realidade é que uma empresa como o CITRI ao assumir desde o primeiro momento que pretende solicitar a caraterização dos resíduos para poder reciclar, pode causar algum incómodo. Principalmente para quem está habituado a controlar as importações para dar outros fins aos resíduos.
O CITRI já fez saber que a movimentação de resíduos entre países é normal, corrente até. Então qual é a diferença, para a dimensão que este caso ganhou?
Diga-me você. Em 2015 entraram em Portugal cerca de 133 mil toneladas de resíduos, dos quais 90 mil toneladas foram para queima por coincineração nas cimenteiras e entraram 12 mil toneladas de resíduos perigosos que foram remetidos para os CIRVER. O alarido com o CITRI deu-se por causa de 700 toneladas (iniciais) de resíduos não perigosos.
Aliás, em 2015 vieram de Itália 9 mil toneladas de resíduos para co-incineração, e 2,7mil toneladas para eliminação de resíduos perigosos em aterro. Mas, também vieram 57 mil toneladas de Inglaterra e até 4,3 mil toneladas da Nigéria. De facto, é incompreensível a dimensão que este caso tomou.
Como é que a empresa tem lidado com os imponderáveis suscitados por esta polémica, por exemplo com a espera a que obrigam a quarentena e as análises sucessivas?
Com naturalidade, aliás foi o próprio CITRI que tomou a decisão de colocar os resíduos de quarentena. E isto foi logo no início, quando a polémica foi criada. Somos uma empresa com um compromisso de responsabilidade ambiental muito elevado, por isso estamos habituados a garantir sempre o respeito pelas melhores práticas ambientais no setor.
Nada nos havia obrigado a colocar os resíduos de quarentena, nem a promover análises por uma entidade (SGS) independente em laboratório na Alemanha. O CITRI fez isto tudo na mesma, porque acreditamos que somos um serviço essencial à comunidade e porque não prescindimos de ir para além do estipulado na lei para garantir a qualidade de vida das pessoas e a preservação do meio ambiente.
E não queremos que se instale qualquer duvide que atuamos sempre pelos mais elevados padrões de qualidade e segurança ambiental.
Que quantidade de resíduos já chegou de Itália?
Neste momento, com destino ao CITRI foram recebidas cerca de 6000 toneladas.
Onde e em que condições está ‘guardado’?
Desde o primeiro momento colocámos os resíduos nas instalações do CITRI, numa célula para não ocorrerem contaminações e fora da frente de trabalho para garantir que não são mexidos.
Um dos receios que pode existir é o de estes resíduos poderem contaminar. Na Mitrena, além de terras, temos água. Há perigo para o meio ambiente?
Não. Não há perigo para o meio ambiente.
O CITRI tem todas as condições para garantir a preservação do meio ambiente. Aliás, nem poderia operar se não tivesse, é um aterro com todas as condições ambientais. Estamos a prestar este serviço desde 2002 e nunca tivemos qualquer problema, porque fomos sempre muito cuidadosos e fomos sempre para além das regras comunitárias e da lei para garantir a preservação do meio ambiente, fomos o primeiro aterro em Portugal a obter o registo EMAS e temos várias certificações de qualidade, segurança e ambiente, para além de um laboratório acreditado.
Somos acompanhados por uma comissão de ambiente independente com elementos das autarquias, de instituições regionais e de organizações locais e de ambiente, que também connosco vão confirmando que estamos em condições para salvaguardar a Mitrena e o meio ambiente. Temos uma política aberta e transparente com a comunidade onde nos inserimos.
Que destino vai ser dado aos resíduos? Têm falado em reciclagem, mas já tem autorização para isso, e que percentagem poderá ser reciclada?
Reciclar é a palavra de ordem. Reciclar é o futuro e nós estamos a preparar-nos para isso. É o único caminho ambientalmente sustentável. O CITRI aguarda que todas as autoridades validem a conformidade e seguidamente irá fazer uma caraterização do potencial reciclável de modo a requerer formalmente à APA a possibilidade de reciclar, o que posso também dizer é que neste momento já temos um protocolo para a caraterização dos resíduos, com outras entidades, para se poder fazer esta caraterização e a reciclagem.