Seis anos após deixar os concursos de beleza, a jovem de Setúbal regressa com um feito inédito. Recorda sacrifícios feitos e destaca a missão de empoderar mulheres
Camila Vitorino voltou a pisar o palco dos concursos de beleza seis anos depois de se ter afastado deste mundo e regressou em grande. Natural de Setúbal, aos 26 anos conquistou o título de Miss Universo Portugal 2025, tornando-se a primeira mulher a fazê-lo enquanto mãe.
A jovem não esconde o orgulho de representar Setúbal, recorda os sacrifícios feitos e a maturidade conquistada, e destaca a missão de empoderar mulheres e mostrar que a maternidade não é um obstáculo, mas sim um “pilar de força”, que agora assume. Em entrevista a O SETUBALENSE, a nova Miss Universo Portugal partilha todo o percurso até à coroa, assim como a visão que tem para este reinado.

A vitória foi uma surpresa ou estava preparada para ganhar?
Por mais preparada que estivesse para ganhar, é sempre uma sensação indescritível que no fundo, nunca esperamos. Sei do quanto me empenhei por este título, mas também sei que estava a dividir o palco com outras 24 mulheres maravilhosas, todas com diferentes histórias, diferentes conquistas e que igualmente se prepararam para aquele momento. Sinto-me, acima de tudo, privilegiada por ter compartilhado deste momento com elas.
O que lhe passou pela cabeça quando percebeu que tinha ganho?
Assim que ouvi o nome da minha cidade, da minha freguesia, senti como se o tempo tivesse parado. Foi um momento de muito orgulho porque sabia que a minha vitória representava muito mais do que uma coroação. Representa um abrir de portas e oportunidades para muitas mulheres que julgam estar limitadas pela maternidade.
Qual considera ter sido o seu maior trunfo nesta edição?
A maturidade que adquiri após seis anos afastada dos concursos de beleza permitiram-me estar sempre calma ao longo da preparação e do estágio nacional. Sei que dei o meu melhor e se o resultado não tivesse sido o esperado, continuaria feliz com a minha prestação.
Esteve afastada dos concursos alguns anos. Porquê regressar agora?
Eu sempre senti que a minha história nos concursos de beleza não tinha terminado. Eu venci o Miss Queen Portugal 2019 e ganhei a qualificação para o Miss Earth 2020. No entanto, por motivos pessoais familiares, renunciei ao título. Esta decisão sempre me pesou muito no coração. Voltei porque estou numa boa fase de vida, tanto a nível pessoal, como profissional e tenho uma rede de apoio excepcional. Estou preparada para poder dar 100% de mim.

Como foi o processo de preparação para esta competição?
Foi uma preparação mais calma mentalmente no sentido em que a maturidade que sinto hoje, relativamente ao passado, permitiu-me lidar melhor com os meus sentimentos. Isto não quer dizer que não tenha sentido ansiedade, medo, nervosismo. Senti. Mas em vez de fingir que estes sentimentos não são normais, vivi-os e depois ultrapassei e substitui-os por sentimentos positivos.
Fisicamente foi uma preparação como nunca tive antes. Segui um plano alimentar em que, durante meses, comi sempre os mesmos alimentos e um plano de treinos aliado ao exercício cardiovascular.
Durante a preparação considerei fundamental treinar também a minha oratória e o meu posicionamento em público por isso comecei a ler mais livros, a ver documentários e ainda a ouvir podcasts.
Teve algum momento difícil ao longo do percurso?
O mais difícil foi conciliar todas as actividades de uma Miss com a vida de mãe. Por vezes tinha momentos em que só conseguia estar com o meu filho no final do dia, por algumas horas, até ele ir dormir e isso foi o que mais me custou.
No entanto, também entendo que em tudo temos de fazer sacrifícios. E esse tempo serviu para me tornar na mulher que sou e que poderá ser uma voz para muitas outras mulheres. Para além disto, quero ser uma mulher e uma mãe de quem o meu filho se orgulhará no futuro.
O que representa para si ser Miss Universo Portugal?
Representa muito mais do que um título e do que o meu sonho individual. Tal como referi anteriormente, ser a Miss Universo Portugal representa um abrir de portas e oportunidades para muitas mulheres que julgam estar limitadas pela maternidade. Durante o meu reinado pretendo usar a minha voz para empoderar outras mulheres, dar ênfase às questões de desigualdade social e desigualdade entre géneros e ainda ter um impacto positivo na sociedade.
O que quer mostrar ao mundo não só sobre Portugal, mas também sobre Setúbal?
Quero mostrar que Setúbal tem uma cultura extremamente rica. Desde a diversidade cultural nas pessoas, até à música e gastronomia. A nossa cidade está cada vez mais turística o que acrescenta muito valor à nossa cidade. Compreendermos que nas nossas diferenças existe espaço para crescimento, garante o desenvolvimento de uma comunidade mais justa, mais rica e mais inclusiva. E isto, para além da beleza inegável que existe nas nossas paisagens, faz com que me orgulhe imenso de ser setubalense.

Quem é a Camila fora das passarelas?
A Camila é uma jovem com imenso amor pela vida e que procura ser feliz a todo o tempo. Eu não tive uma infância e adolescência fácil e é por esse motivo que procuro levar a vida de adulta, mesmo com todas as suas trivialidades e dificuldades, com leveza.
Infelizmente não tenho uma relação com nenhum dos meus pais e é por esse motivo, que desenvolver-me enquanto mulher é a minha principal prioridade para poder ser a melhor mãe possível para o meu filho e a melhor esposa para o meu marido.
Ajudar o próximo e demonstrar empatia sempre, faz parte da minha identidade. Eu acredito fielmente que para mudarmos a vida de alguém, não precisamos de grandes gestos.
A mulher que me tornei foi o reflexo de todas as maravilhosas e inspiradoras mulheres que fizeram parte da minha vida. Algumas continuam nela, outras não, mas com todas aprendi e é esta aprendizagem que pretendo transmitir às jovens mulheres.
Ser a primeira mãe a ser eleita Miss Universo Portugal dá um sabor ainda mais especial à vitória?
Sem dúvida. Poder mostrar a todas as mulheres que não existem limitações ao tamanho dos nossos sonhos é realmente inspirador e sinto-me honrada por poder ser a primeira mulher a fazê-lo.