Fernando Cruz é o presidente da Associação Cultural Novas Ideias Setúbal Academy há quase seis anos, cargo que muito o tem estimulado e colocado em contacto com os jovens locais
Vestido de t-shirt, calças de ganga e com um boné na cabeça, Fernando Cruz entra na Casa da Baía com um sorriso no rosto e vai cumprimentando jovialmente quem com ele se cruza, no meio do clima de agitação do Dia da Cultura Húngara. Promovido pela Associação Cultural Novas Ideias (ACNI) Setúbal Academy – da qual é presidente – em parceria com a Embaixada da Hungria e a Câmara de Setúbal, este é um evento especial, pois representa bem o trabalho que a associação tem vindo a desenvolver nos últimos tempos.
Enquanto os representantes da Hungria, entre os quais o embaixador em Lisboa e o vice-presidente da Câmara de Debrecen (a segunda maior cidade daquele país), e a vice-presidente da autarquia setubalense se juntam no pátio interior da Casa da Baía, o público em geral e os voluntários da associação vão convivendo alegremente. No compasso de espera, Fernando aproveita para vestir uma camisa e um blazer mais adequados ao momento dos discursos, para depois reforçar a importância da criação de “pontes culturais”.
A tarde é preenchida com uma programação diversificada, em torno das tradições e costumes húngaros, com demonstrações de música, dança e trajes tradicionais, gastronomia e workshops de diferentes artes. À conversa com O SETUBALENSE, Fernando Cruz, 33 anos, destaca o Dia da Cultura Húngara como uma das facetas visíveis do trabalho da ACNI, e de caminho recorda um pouco do seu percurso pessoal e profissional, iniciado na Escola EB 2/3 de Aranguez e que passou também pela escola da Bela Vista.
No final do secundário, Fernando Cruz escolheu seguir o curso de Marketing e Comunicação da Escola Profissional de Setúbal, mas desistiu e foi para o Conservatório de Música da Jobra, em Aveiro, estudar piano e música clássica durante três anos. “Para um miúdo do bairro, que só vivia a música do hip hop, a oportunidade de conhecer músicos de topo foi uma transformação radical, e isso também me motivou a criar a associação”, recorda ao jornal, enquanto a festa húngara enche a Casa da Baía de cor e movimento.
“Quando regressei a Setúbal senti que havia falta de oportunidades para os jovens que, como eu, queriam desenvolver as suas actividades culturais. Não havia oportunidades, e eu queria profissionalizar-me como músico”, conta o presidente da ACNI, que também tem experiência como DJ e produtor musical. “Entretanto comecei a trabalhar na Casa da Cultura e percebi que podia fazer mais, mas fora da música, criando uma associação que desse oportunidades as jovens para desenvolverem os seus talentos”.
Com vontade de fazer acontecer, Fernando Cruz uniu-se ao seu amigo de longa data João Patronilo e assim nasceu a Setúbal Academy, a 17 de Outubro de 2016. O projecto era então “uma espécie de academia onde os jovens setubalenses podiam descobrir aquilo que realmente os motivava, consoante os seus talentos e aptidões” – “porque muitos saem da escola sem saber para onde ir”, comenta Fernando. As actividades estavam muito ligadas à música e ao desporto e permitiram criar, até, uma equipa de basquete feminino.
O salto para a actual versão da Associação Cultural Novas Ideias deu-se mais recentemente, quando a associação se lançou na organização do Cine Play, um festival ligado ao cinema, cosplay e gaming (videojogos), com o apoio da autarquia. “A partir desse evento percebemos que tínhamos oportunidade de trabalhar com embaixadas de diferentes países (já reunimos com as embaixadas da Palestina, Japão, Colômbia, Coreia do Sul e Hungria), e aí abriu-se uma porta enorme de contactos”, conta Fernando Cruz.
Actualmente, a ACNI mobiliza “mais de 20 jovens voluntários da região de Setúbal e Palmela, com idades entre os 17 e os 27 anos”. Além de liderar os destinos da associação de forma enérgica e carismática, Fernando Cruz também dá “formação de liderança” aos jovens. No histórico da Setúbal Academy conta-se também o lugar cimeiro na 11.ª edição do Prémio Voluntariado Jovem Montepio, que promove acções inovadoras a nível nacional. A ACNI venceu este prémio com o projecto “As Traseiras”, que uniu as vertentes social e ambiental na transformação de um terreno abandonado num jardim sustentável, num bairro social da cidade.