Início do projeto está previsto para o primeiro trimestre de 2026, com um enfermeiro especialista por cada 75 mulheres
A Península de Setúbal vai receber o arranque do projeto de vigilância de gravidezes de baixo risco por enfermeiros especialistas, abrangendo grávidas sem médico de família. O anúncio foi feito pela ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que apontou a data de arranque deste projeto para o primeiro trimestre de 2026. Os enfermeiros especialistas terão uma lista de grávidas que acompanharão durante toda a gravidez com a realização de 10 consultas com referenciação imediata em caso de complicações, estando previsto um enfermeiro especialista em saúde materna e obstétrica por cada 75 mulheres.
A governante esteve reunida com enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica (EESMO), no Hospital Garcia de Orta, em Almada, para analisar o projeto de vigilância de grávidas de baixo risco nos cuidados primários. A parte legislativa deste projeto estará pronta até ao final do ano, e estará no terreno no primeiro trimestre de 2026. No Centro Materno e Infantil do Norte este modelo já está implementado há mais de um ano.
Segundo explicou aos jornalistas a responsável pela pasta da Saúde, este encontro serviu para explicar a fase em que se encontra o projeto e ouvir os enfermeiros sobre questões operacionais e sobre as dificuldades com que se deparam no dia-a-dia, acrescentando assim conhecimento ao que está a ser preparado em termos legislativos.
De acordo com Ana Paula Martins, este projeto, que não é inédito, será aplicado inicialmente em zonas com uma preocupação acentuada em matéria de vigilância das grávidas como é o caso da Península de Setúbal, onde existe uma carência de cobertura de médico de família.
“Há muitas senhoras que precisam de vigilância que hoje não a têm, e é exatamente isso que nós queremos evitar, ou seja, garantir que, através deste projeto, podemos chegar até estas mulheres para que elas não estejam desacompanhadas”, frisou.
Presentes neste encontro estiveram também o bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Luís Filipe Barreira, e o presidente da Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, Alberto Caldas Afonso. Luis Filipe Barreira adiantou que vai também ser feita uma campanha no sentido de alertar as mulheres grávidas que não têm equipa de saúde familiar de que tem ao seu dispor enfermeiras especialistas para as acompanhar.
“É um projeto que se pretende que seja de proximidade com estas grávidas, com comunicação eficaz, que permita que essas grávidas possam ter um contacto telefónico com estas enfermeiras especialistas no caso de algum sinal de alerta, de alguma dúvida, e que consigamos, de alguma forma, também reduzir a ida à urgência desnecessária por parte destas mulheres”, salientou. O SETUBALENSE entrou em contacto com o Hospital de São Bernardo, para perceber como seria o papel desta unidade de saúde e também a gestão de recursos humanos, mas o centro hospitalar referiu que ainda não existem diretrizes do Ministério da Saúde sobre este tema.
Projeto de vigilância prevê um enfermeiro para 75 grávidas
A Ordem dos Enfermeiros (OE) anunciou na passada sexta-feira que este projeto prevê um enfermeiro especialista em saúde materna e obstétrica por cada 75 mulheres, num modelo de trabalho colaborativo com os médicos e alinhado com todas as recomendações clínicas e internacionais.
“A proposta da OE não substitui nem pretende substituir o papel dos médicos, prevendo antes uma articulação permanente entre o enfermeiro especialista e o médico de família, garantindo qualidade, segurança e continuidade dos cuidados”, refere o bastonário da OE, Luís Filipe Barreira, citado em comunicado.
Para o bastonário da OE, este modelo permite reforçar a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) de forma segura, eficaz e centrada nas necessidades das mulheres. O projeto procura agora regulamentar plenamente as competências clínicas dos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica, estando nessas competências a prescrição de exames complementares, como análises laboratoriais e ecografias, durante a gravidez.
Luís Filipe Barreira sublinha que “o acompanhamento das grávidas por enfermeiros especialistas é uma prática internacional consolidada e já implementada em várias instituições de saúde em Portugal, com excelentes resultados”. Com LUSA