Os Apartamentos de Autonomização são mais uma aposta inovadora da APPACDM Setúbal, defendendo a independência como verdadeira inclusão. Um projecto desenvolvido com o apoio do programa BPI Capacitar
“No distrito e a nível nacional, as Casas-Chave ou Apartamentos de Autonomização representam um projecto único e inovador em prol da verdadeira inclusão de pessoas com deficiência”, é deste modo que Sara Cravo, directora técnica do Centro de Atendimento, Acompanhamento e Reabilitação Social para Pessoas com Deficiência e Incapacidade (CAARPD), da APPACDM de Setúbal, apresenta o projecto Apartamentos de Autonomização. Um projecto que agora se concretiza a pleno com o financiamento do programa BPI Capacitar.
São duas as Casas-Chave que a APPACDM assume neste projecto. Os custos totais de manutenção são da responsabilidade da instituição.
Quanto aos utentes inseridos nestas moradas, assumem apenas os custos da sua vida diária, com alimentação e outros gastos pessoais, “de modo a que possam fazer a poupança necessária para, no futuro, apostarem num contexto de casa própria”, explica a directora técnica do CAARPD.
“Inicialmente, quando fizemos a candidatura ao programa BPI Capacitar, propusemos um financiamento de 60 mil euros, para conseguirmos remodelar os dois apartamentos que adquirimos, com todas as adaptações necessárias”, revela José Salazar, presidente da direcção da APPACDM.
Posteriormente, por parte do BPI Capacitar apenas foi possível obter um financiamento de 24 mil euros. “Mas, ainda assim, sem dúvida um financiamento que permitirá impulsionar a vida de muitos jovens”.
O programa BPI Capacitar tem como objectivo apoiar projectos que promovam a melhoria da qualidade de vida e a integração social de pessoas com deficiência ou incapacidade permanente.
Desde 2010, ao abrigo deste programa, já foram atribuídos mais de 5 mil milhões de euros em donativos, distribuídos por 168 projectos, de instituições nacionais, privadas ou sem fins lucrativos.
Um novo degrau para a autonomia
A APPACDM deu inicio ao projecto Apartamentos de Autonomização com a compra de dois imóveis, tendo como objectivo “criar um novo degrau de resposta em prol da autonomia e da vida independente dos seus utentes”, explica Sara Cravo.
“A resposta de lar residencial já existia, para utentes com particularidades diferentes, que precisam de acompanhamento diário e que, por algum motivo, já não podem estar com os seus cuidadores e familiares”.
No caso dos Apartamentos de Autonomização ou Casas-Chave, o objetivo é criar um patamar intermédio, “entre o acompanhamento permanente e a vida independente”. Deste modo é promovido um acompanhamento intermédio, “a partir do qual os utentes podem trabalhar na sua autonomia, sendo responsáveis por um espaço próprio”, revela José Salazar. “Este é um nível em que os nossos utentes se preparam para ser totalmente independentes, criando as suas próprias rotinas e horários, enquanto reorganizam a vida para o futuro”.
Por agora a APPACDM não tenciona adquirir mais apartamentos para este projecto. “Neste momento a instituição está a apostar em outras áreas, onde existem necessidades igualmente urgentes”, explica José Salazar.
Recorde-se que a APPACDM está avançar com o projecto de construção de um novo Lar Residencial, com capacidade para 35 utentes. Um projecto cujo financiamento será suportado em 40% pela APPACDM.
A par das novas apostas, José Salazar destaca que “não seria fácil continuar com o investimento de aquisição de imóveis, porque o mercado mudou muito desde que demos início ao projecto”, explica José Salazar.
Contudo, para o professor, a oportunidade de seguir mais além nunca ficará colocada de parte. “Para dar continuidade a este modelo de investimento precisaríamos do apoio de outras entidades, como a autarquia ou instituições com disponibilidade financeira para estabelecer parcerias”.
O desafio da independência
Uma das Casas-Chave recebeu Neusa e Luís pelo tempo necessário, até encontrarem as respostas e a organização financeira que necessitam para manter casa própria sem apoio da APPACDM.
Neusa está inserida neste programa de apoio desde Novembro passado. E enquanto aguarda a oportunidade de realizar formação na área da Estética e acesso a habitação social, assume uma das Casas-Chave da APPACDM como sua.
“Agradeço a dois anjos que têm sempre estado presentes na minha vida. A Sara [e outra técnica da APPACDM] ajudaram-me a encontrar um lar quando fiquei impossibilitada de ficar com os meus familiares e fiquei a viver, durante um tempo, na Quinta da Parvoíce”.
Neste caso Sara Cravo acrescenta que, “as condições de segurança e higiene exigiam uma actuação e resposta rápida, sendo a Neusa nossa utente”.
No caso de Luís, a sua relação com a APPACDM começou há vários anos. Primeiro como utente, depois como colaborador, quando começou a trabalhar na Flores da Arrábida, empresa de jardinagem que a APPACDM mantém.
“De início, quando comecei a dar os primeiros passos de vida independente, vivia no lar residencial e saía todos os dias para trabalhar. Depois surgiu a oportunidade de partilhar casa com outra pessoa, mas nos últimos meses precisei mudar novamente e mais uma vez o apoio da APPACDM foi essencial”.
Os dois parceiros de casa comentam que, “a convivência no dia-a-dia é tranquila”. O respeito pelo espaço um do outro está acima de tudo e a entreajuda é lei. “Ajudamo-nos para conseguirmos ir mais além e alcançar o que temos planeado para o futuro”, comenta Luís. “Por agora sentimos que estamos em casa. E isso é o mais importante neste momento, que poderia ser mais complicado se não tivéssemos o apoio da APPACDM para renovamos as nossas vidas”.