Dores Meira contra “unanimidades que nunca existiram”. Discursos foram da regionalização aos recados partidários
A sessão solene da Assembleia Municipal de Setúbal, encheu ontem a plateia do Fórum Luísa Todi e os discursos, de todos os partidos eleitos, foram da regionalização aos passes sociais, passando pela Europa e pelo ambiente. Não faltaram alguns recados partidários que não chegaram para estragar a harmonia geral.
A presidente da Câmara de Setúbal foi quem fez a maior separação das águas. Entre a “alegria”, palavra repetida por Dores Meira, mas contra a “amnésia propositada”, a autarca defendeu que o 25 de Abril “não é de todos”.
“Abril foi feito para todos mas não é de todos”, afirmou, e explicou que o 25 de Abril é “daqueles que o fizeram” e dos que o defendem “contra as tentativas de retrocesso” e “de branqueamento” do regime fascista. Uma separação que a presidente da Câmara fez para “desmistificar unanimidades que nunca existiram e que apenas são invocadas por ocasião da data”.
O poder local é, no dizer de Dores Meira, “uma das grandes obras de Abril”, onde se exerce a “melhor democracia”, onde “melhor se aplicam os dinheiros públicos” e de onde nasceu a “mais rápida e profunda” transformação do país após 1974.
Setúbal “esforça-se” para cumprir o desenvolvimento, um desígnio da Revolução, e para isso “é necessário forte investimento público”, de que apontou como exemplos as obras na Várzea, a recuperação do Convento de Jesus e o futuro interface da Praça do Brasil.
A presidente saudou os autarcas das juntas de freguesia dizendo que é “graças também” a eles que “temos hoje um concelho melhor”.
Dores Mera deixou alguns recados nas entrelinhas, dizendo que “é preciso continuar a trabalhar” para que não volte a gestão “desleixada”, para “anular erros do passado” e “falhas” que “deixaram feridas profundas por todo o concelho”, mas dedicou mais tempo aos temas do presente.
Defendeu o estacionamento tarifado na cidade como uma opção clara e assumida.
“Assumimos com total convicção as nossas opções porque sabemos que se não o fizermos agora teremos, a muito curto prazo, uma cidade caótica ainda mais tomada pelos carros”. E desafiou a oposição a apresentar “alternativas viáveis”.
A autarca comunista concluiu que “falar de mobilidade no 25 de Abril” é também referir os novos passes dos transportes públicos que a Câmara de Setúbal financia em 2019 com mais de dois milhões de euros. “O dia 1 de Abril ficará na memória de muitos portugueses”, disse.
Regionalização defendida por esquerda e direita
A regionalização foi das bandeiras mais levantadas, por esquerda e direita, evocada tanto por André Martins (CDU) como por Carla Viana (PSD).
O presidente da Assembleia Municipal afirmou que a “riqueza incomensurável” construida pelo Poder Local Democrático se traduz em melhor qualidade de vida para as populações e que se esses benefícios não chegam de igual modo as diferentes geografias do país, é também porque a Constituição não foi cumprida quanto à regionalização.
André Martins apontou os novos passes como exemplo da importância das competências regionais, que as áreas metropolitanas já têm apesar de ainda não serem autarquias regionais. “Este tipo de iniciativa só é possível concretizar num nível de administração regional, o que reforça a necessidade de, quanto antes, instituir o desígnio constitucional da regionalização”, disse.
Também a deputada municipal do PSD defendeu a criação das regiões. Clara Viana não deixou de dizer que, no concelho, há “muitas obras e projectos” que “não saem do papel”, referindo o terminal 7 e a biblioteca municipal.
Manuel Fernandes, do PS, considerou que Portugal é hoje um país “perfeitamente” integrado na Europa mas avisou que é necessário defender a democracia. O deputado socialista entende que é preciso “valorizar” as instituições democráticas, para que “não sucumbam aos directórios informais”. A defesa da consolidação da democracia é obrigação da actual geração, defende Manuel Fernandes.
João Santos, do BE, também alertou que o mundo “está novamente à beira do abismo”, com o extremismo, guerras e exploração, mas acrescentou que há “esperança” com base em vários movimentos de resistência.
Susel Costa, do PAN, apontou a “encruzilhada” em que se encontra o projecto europeu e as importância das eleições em que está em causa a “própria integridade” da UE. Disse ainda que “o Ambiente quer revolução”.
João Viegas, do CDS-PP, defendeu que “Abril deve significar liberdade plena” mas que ainda não significa para muitas pessoas, devido a “limitações da liberdade” como a “cobarde e horrorosa” violência doméstica ou as “novas formas de intolerância”.