“A freguesia do Sado quer encontrar o equilíbrio entre a indústria e a protecção ambiental”

“A freguesia do Sado quer encontrar o equilíbrio entre a indústria e a protecção ambiental”

“A freguesia do Sado quer encontrar o equilíbrio entre a indústria e a protecção ambiental”

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Manuel Véstias, presidente da Junta de Freguesia do Sado, defende o trabalho realizado em conjunto com a população e destaca sustentabilidade entre a actividade industrial e a protecção do ambiente

 

“A actividade salineira sempre fez parte da história e tradição da freguesia, motivo pelo qual este ano destacamos a ‘chegada da escultura do salineiro’ como um cartão-de-visita para quem passa no Sado”. É desde modo que Manuel Véstias apresenta a sua freguesia, com “orgulho no passado e novos planos para o futuro”.

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Um futuro onde o equilíbrio ideal estará em “saber responder às necessidades da indústria, ao mesmo tempo que preservamos o estuário do Sado”.

 

 

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De que modo a tradição salineira ainda se mantém no ADN da freguesia?

 

A actividade salineira foi perdendo a influência, assim como a indústria conserveira e hoje a produção de sal é inexistente. Um contexto em que agora surge a produção de salicórnia que será o futuro substituto do sal. Contudo a nossa história estará sempre ligada à produção salineira e ao impulso que esta actividade para conquistarmos o que temos hoje.

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Mas, recordando o passado, há muito tempo que mantínhamos o sonho de fazer uma homenagem aos salineiros e salineiras. Assim surgiu o projecto para a escultura e rotunda do salineiro. Não como uma imagem da profissão, mas sim, como uma representação total da actividade salineira na freguesia do Sado.

Foi com muito orgulho que erguemos aquele monumento, enquanto recordação e cartão-de-visita da freguesia.

Ao longo do século XX a indústria artesanal, ligada à actividade salineira e conserveira presente no concelho de Setúbal, deu lugar a uma indústria focada na transformação de matérias diversificadas, dos químicos à produção energética. Chegaram à zona industrial da Mitrena a Sapec, a Secil, a Navigator (na época Portucel) e a EDP colocou em funcionamento a central termoeléctrica.

 

Hoje, como se mantém o equilíbrio entre a protecção do estuário e a presença da indústria no Sado?

 

Uma das grandes preocupações do executivo é encontrar, precisamente, esse equilíbrio naquela que é uma das freguesias mais industrializadas do país e com grande proximidade ao estuário do Sado. Motivo pelo qual integramos uma comissão de acompanhamento ambiental no que diz respeito à laboração da Navigator, por exemplo.

Do ponto de vista da legislação a Agência Portuguesa do Ambiente também acompanha a freguesia e realiza um trabalho constante de vigilância e avaliação.

Até ao momento não me parece que as industrias fixadas na freguesia estejam dispostas a colocar em causa o ambiente a troco de melhores perspectivas financeiras. Pelo contrário, a freguesia do Sado quer encontrar o equilíbrio entre a indústria e a protecção ambiental.

Existe ainda uma comissão de acompanhamento, na Protecção Civil, que comporta um plano de acção especial para a Mitrena. Tal como foi possível verificar através do simulacro Mitrex, realizado recentemente. Sinais de abertura por parte das indústrias, em relação ao diálogo com as entidades que as rodeiam.

A nossa maior preocupação actual é em relação ao uso da água doce. Em especial tendo em conta os períodos de seca que vivemos. É nesse sentido que acompanhamos a Navigator Company, para encontrar soluções, uma vez que é uma unidade que precisa utilizar este recurso em grande quantidade para a sua laboração.

 

Para além do consumo de água, existem outras preocupações em relação à laboração da Navigator, que têm sido comentadas pelos setubalenses. Nomeadamente, descargas feitas pela empresa no rio Sado.

 

Nesse contexto o que posso dizer é que nem sempre o vemos é o que pensamos.

Os resultados das últimas análises feitas à água revelam que estas descargas, embora deixem uma coloração castanha no Sado, não são contaminantes.

Não obstante, a empresa está a tomar medidas para reduzir os seus impactos ambientais, através de novos equipamentos de filtragem e tratamento de resíduos. Assim como medidas para reduzir a extracção de água doce do subsolo. Soluções que vão permitir combinar a actividade industrial com o fluxo que a empresa mantém hoje e precisará manter para o futuro.

Quanto a incidentes como aqueles que se registarem na zona do médio Tejo, com mortandade de espécies que têm o seu habitat no rio, não temos registo. Pelo menos desde que estou no executivo da Junta de Freguesia do Sado todos os incidentes que ocorreram com a Navigator e dos quais tivemos conhecimento não apontaram nesse sentido.

 

Existem passivos ambientais relacionados com o passado industrial da freguesia que, ano após ano, aguardam resolução, como a antiga central termoeléctrica. A ser desmantelada em 2020, como previsto no projecto apresentado pela EDP, o que espera ver nascer no local?

 

Pelo que tenho conhecimento a EDP tem a perspectiva de realizar o desmantelamento total da antiga central termoeléctrica até 2020, de uma forma faseada, que já deveria ter sido iniciada em 2018.

O espaço onde a central termoeléctrica se encontra é privilegiado pela sua localização frente ao Sado e deve ser reaproveitado em proveito da população. Por esse motivo temos questionado o que a EDP pretende fazer, depois de desmantelar a antiga termoeléctrica.

Será que vamos ter uma nova unidade industrial, ou vamos concretizar o sonho de uma grande área verde de lazer, para toda a população?

 

Na fusão de freguesias, o Sado ficou fora. De que modo esta autonomia influiu sobre a sua gestão?

 

Foi sem dúvida bastante positivo para freguesia do Sado conseguir manter-se em actuação única, sem vínculo a uma união de freguesias.

Enquanto autarca considero que a tomada de decisão, por parte do Governo, para criar as uniões de freguesias, foi alheia ao que era e é o desejo das populações e dos autarcas.

Espero que um dia possamos voltar atrás e ter freguesias independentes, que trabalhem em conjunto, sim, mas enquanto territórios vizinhos e não como se fossem o mesmo bolo. A unificação de freguesias trouxe diversos problemas do ponto de vista da gestão, os quais, nós enquanto freguesia do Sado, ainda conseguimos contornar.

 

Os problemas ao nível da gestão ocorrem por estarem em causa territórios extensos?

 

Sim. Territórios extensos que agora são geridos com os mesmos recursos ou menos. Os mesmos recursos humanos e materiais e orçamentos diminutos. Por isso, considero que a salvação do futuro é a descentralização de competências da câmara para as freguesias.

Esta gestão descentralizada está a permitir uma maior autonomia no terreno, para resolver problemas em territórios com características e necessidades muito diferentes.

 

Aponta a descentralização quase como símbolo de um leque de possibilidades que antes não existiam.

 

Ao nível do Sado a descentralização de competências da Câmara para a Freguesia será, sem dúvida, o sustento do futuro.

Até ao momento, através da descentralização foi possível agilizar processos de adjudicação e executar pequenas obras que, anteriormente, levavam mais tempo devido a processos burocráticos.

Agora temos mais emprego, sobretudo, emprego de qualidade e com os nossos recursos conseguimos agilizar mais rápido a execução de projectos.

 

Entre os projectos previstos para este mandato, que incidiam sobretudo em torno de melhores acessibilidades e mais mobilidade, o que está concluído?

 

A nossa grande preocupação actual é de facto a mobilidade e daí vem a construção de vias pedonais e passeios, nas bermas de estrada, que estavam em grande falta na freguesia.

A rotunda das quatro freguesias é também um dos projectos que destacamos também com grande importância. Um trabalho desenvolvido em conjunto com a freguesia de Gâmbia, Pontes e Alto da Guerra; São Sebastião; e a Câmara Municipal.

Assim como a recuperação da Estrada de Santas, um projecto no qual também temos acompanhado a Câmara Municipal, porque embora a estrada esteja fora da nossa freguesia serve os nossos fregueses. E está em desenvolvimento um projecto da autarquia, que deverá estar terminado entre Maio e Junho, para eliminar todas as barreiras arquitectónicas presentes naquela artéria.

Já dentro da freguesia, a estrada da Ponte Seca também está a ser avaliada para entrar em requalificação.

Claro que dentro do conjunto das grandes obras, não posso deixar de destacar a ligação do apeadeiro das Praias do Sado ao Instituto Politécnico, através da passagem aérea. Um projecto evolutivo, que ainda não está terminado e representa a nossa primeira grande obra enquanto executivo.

Entre outros projectos, destaco ainda a construção do jardim em Santo Ovídio, junto ao centro de saúde; o parque verde da Mourisca, cujo espaço não estava reabilitado e que actualmente apresenta uma área para a prática desportiva e lazer. Assim como o nosso Espaço Liberdade,  na Rua Alves Redol, realizado em conjunto com a Cooperativa de Habitação Viva a Liberdade.


 

Monólogo com a Infraestruturas de Portugal

Manuel Véstias destaca o apeadeiro das Praias do Sado como um importante ponto de mobilidade para a população, “não só na sua movimentação dentro de Setúbal, mas também para fora do concelho”. Contudo a degradação deste equipamento, sem vigilância e com a máquina de bilhética inoperacional há vários anos “deixa grandes preocupações e a ideia de que a Infraestruturas de Portugal não quer trabalhar em proximidade com a freguesia”.

Um contexto em que o presidente da Junta de Freguesia do Sado destaca “a grande dificuldade em manter diálogo com a IP”, entidade responsável pela manutenção dos equipamentos ferroviários.

Depois de anos de requisições apresentadas à IP, “que nunca foram atendidas”, Manuel Véstias identifica a situação como “uma grande falta de ética, para com a autarquia. E falta de respeito para com os utentes que pagam o seu passe e o seu bilhete”. Um tratamento sobre o qual o presidente afirma veemente, “nós, enquanto freguesia, repudiamos”.

Quanto a soluções para o futuro, Manuel Véstias coloca a possibilidade de uma manifestação pública. “Não o queríamos fazer assim, porque somos homens e mulheres de diálogo, mas se não existir outra alternativa iremos para a rua”.

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