Além da ideologia, alguns partidos usaram os slogans da campanha para as legislativas. Presidente da Assembleia Municipal, alertou para os “ventos” que sopram dos Estados Unidos e para a necessidade de “reconstruir o 25 de Abril”
Os discursos institucionais sobre os 51 anos do 25 de Abril, em Setúbal, repartiram-se entre os avisos para as ameaças à democracia e à liberdade e o diagnóstico da situação actual do município com alguns partidos a resvalarem um pouco para o campo eleitoral.
As intervenções na sessão solene da Assembleia Municipal, na manhã desta sexta-feira, no Fórum Luísa Todi, incluíram todas as forças representadas neste órgão e terminaram com o presidente Manuel Pisco a alertar para “os ventos de tempestade” de “desconstrução da democracia e da liberdade”, que sopram dos Estados Unidos da América.
“Não lhe sendo já favorável a lei da concorrência, [a Administração dos EUA] passa agora ao uso da lei da força, traindo e destruindo, despudoradamente, tratados, convenções e instituições internacionais”, vincou o presidente da Assembleia Municipal.
No plano interno, segundo Manuel Pisco, este contexto internacional reflecte-se numa “estranha distopia democrática”, em que alguns “apoiam já de forma descarada os desvalores e desmandos do regime americano, espalhando o ódio aos imigrantes, a instigação do racismo e a discriminação religiosa, o desprezo pelas liberdades individuais e pelos direitos de cidadania, com um egoísmo nacionalista que, ao contrário do que dizem, nada tem de patriótico”.
“Neste Portugal, país de emigrantes, que se regenerou com o 25 de Abril de 1974, é intolerável a intolerância a que alguns políticos, feitos só de demagogia e verborreia, querem votar todos os que não têm a nossa cor de pele, a nossa religião, ou a nossa nacionalidade”, disse o presidente da assembleia, concluindo que a “reconstrução do 25 de Abril” é uma tarefa que cabe a todos.
Manuel Pisco entende que se formos tolerantes com a extrema-direita, os seus representantes acabarão com a liberdade dos outros. “Começando por oprimir ideias, direitos e liberdades, logo passarão a reprimir fisicamente, mal ponham o pé em qualquer patamar do poder”, avisou o autarca da CDU.
Por parte do PS, Paulo Lopes sublinhou que vivemos “tempos em que a verdade é destruída por narrativas perigosas”, dizendo que o “compromisso com a democracia começa com a transparência”. O líder da bancada socialista apontou um ranking sobre transparência em que o município de Setúbal aparece em último lugar e apontou como exemplo a ultima reunião da Assembleia Municipal, em que ficou a saber-se que havia um contrato desconhecido para a exploração do Ecoparque do Outão, assinado por Dores Meira.
Paulo Lopes passou então a defender a que “Setúbal precisa de mudar” – ideia em que assenta a campanha autárquica do PS – para tirar partido do imenso potencial do concelho.
De forma idêntica, Simão Calixto, da CDU, elencou a obra feita pelo executivo municipal, afirmando que esta força política “está cá com gente de verdade”, expressão usada na presente campanha eleitoral.
Por parte do PSD, Rui Lamy usou uma metáfora. “Setúbal, o bom atleta, tem que ser tirado do banco e posto a jogar”, para que a gestão autárquica esteja à altura do potencial da região. O eleito do grupo social-democrata apontou falhas da gestão CDU, como o caneiro do Livramento que, segundo diz, continua a fazer desaguar no Sado o saneamento de 11 mil fogos.
Do lado do Chega, Luís Maurício fez a apologia da importância do 25 de Novembro, que permitiu que “o 25 de Abril não fosse traído” e considerou que o sistema político pós-revolução foi “transformado num palco de corrupção” e que o país sofre de “imigração descontrolada”.
Vítor Rosa, deputado municipal do BE, avisou que alguns dos princípios de Abril estão hoje sob “ataque brutal”. “A paz está debaixo de fogo e só quem a pode salvar são os povos, e não aqueles eu querem mais dinheiro para a guerra”, defendeu o autarca bloquista.