6 Maio 2024, Segunda-feira
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“Em vinte anos a Península de Setúbal vai estar num patamar industrial e de riqueza muito mais elevado”

Nuno Maia está confiante no futuro e aponta para Porto de Setúbal como futura “grande capital de operação portuária sustentável do País”

 

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Uma semana após a tomada de posse como director-geral da Associação da Indústria da Península de Setúbal (AISET), Nuno Maia mostra-se focado e confiante no futuro da indústria na região. Em entrevista a O SETUBALENSE, garante que na associação já existe uma estratégia definida para o futuro, ainda antes de saber quais os fundos europeus que vão existir, embora esteja preocupado que estes não se mantenham como foram até agora. Quanto ao futuro, assegura que a península estará a médio/longo prazo num patamar industrial e de riqueza “bastante mais elevado”, com o Porto de Setúbal a poder tornar-se na “grande capital de operação portuária sustentável do País”. A nível governamental aponta para a ausência de representação setubalense na sociedade portuguesa, algo que deixa a península para trás nos “momentos das decisões”.

 

Como define este novo mandato?

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Este vai ser o meu terceiro mandato como director-geral da AISET, o que permite beneficiar da experiência acumulada e também ter uma visão de futuro mais apropriada, mais robusta, mais densa e perceber o tempo e os recursos que são necessários para atingirmos determinados objectivos.

Digamos que é um mandato de maturidade. Achei que podia fazer este terceiro mandato consecutivo porque nos dois mandatos anteriores tivemos aquele grande porta-aviões que foi o tema das NUTS, que foi também de certa forma interrompido pela questão da covid.

Precisamos de mais tempo de análise, de maturação e de concretização. Aliás, é um dos problemas que existe no espaço público e na política em geral é que os mandatos são muito curtos, portanto, os grandes problemas não se conseguem resolver só num mandato governamental e, portanto, os governos tendem a governar para o mandato e não para a década. Por vezes não se resolvem os problemas, porque se está a governar com uma perspectiva de curto prazo.

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Vê neste novo mandato uma forma de governar a pensar a longo prazo?

Este terceiro mandato permite-nos governar e exercer a nossa actividade com sentido de década, portanto, no sentido de tempo mais longo, médio/longo prazo, que nos pode permitir resolver melhor alguns assuntos e posicionar melhor a indústria da Península de Setúbal no espaço público junto das decisões, porque essa é a tarefa principal na AISET: representar, defender e promover os interesses e necessidades da indústria.

Quais são os grandes focos para o futuro?

Conseguimos que o Governo decretasse a NUTS II e III Península de Setúbal. Agora temos pela frente um processo até 2027 em que nós temos de trabalhar para termos uma estratégia de especialização inteligente para a indústria na península. Temos de elaborar essa estratégia, entregar ao Governo e deixar que a administração central pegue nisso, juntamente com as estratégias que os outros sectores estejam a preparar. Não sei se estão a preparar ou não, mas espero que sim, para depois se ir negociar com a Comissão Europeia e no próximo quadro comunitário de apoio, com as várias NUTS do País e negociar com a Comissão Europeia os montantes, as prioridades e estratégias, para nós termos dinheiro para fazer aquilo que defendemos nessa estratégia.

Temos necessidades, temos uma estratégia, temos objectivos e precisamos de fundos para financiar esta estratégia, e não ao contrário. Não será depois de termos fundos europeus que vamos procurar uma estratégia para gastar esse financiamento.

E esse trabalho já começou a ser feito…

Já começámos no nosso terceiro fórum que realizámos em Outubro, em Alcochete. Já definimos os quatro grupos de trabalho: descarbonização, transição digital, economia circular e capital humano.

Estes são os quatro grandes desafios que a indústria tem para vencer, para se modernizar, para se manter competitiva e para poder continuar a exportar e criar emprego com mais valor acrescentado, com preços no mercado internacional que possam pagar melhores salários e melhor remuneração aos accionistas e permitir mais investimentos.

Com estes quatro grupos de trabalho para encontrar as soluções definimos o que é que temos que fazer e onde é que temos que investir: como é que vamos tirar o carbono da nossa economia e dos nossos processos produtivos; como é que vamos fazer a transição digital com inteligência artificial e pela robótica; o que é que temos que investir em conhecimento informático de conhecimento digital e equipamentos; como é que vamos mudar os nossos circuitos para termos maior circularidade da economia; e usarmos menos recursos naturais e gerarmos menos resíduos e com isto, alimentarmos endogenamente os nossos processos. Temos de fazer isto de uma maneira competitiva, lucrativa para o ambiente, para a sociedade e para a economia.

O que é necessário para alcançar essas metas?

Para fazer estas coisas temos de ter pessoas qualificadas, mais jovens, mais capazes, com melhor formação e que queiram trabalhar nestas empresas a fazer estas tarefas. Isto é uma coisa que temos de fazer rapidamente, até ao Verão.

Queremos ter os trabalhos fechados para depois o Instituto Politécnico de Setúbal, com quem fizemos uma parceria, produzir o documento final até ao término do ano para entregarmos ao novo ministro da Coesão Territorial e explicar quais são os nossos objectivos e porquê.

Há aqui uma preocupação. Nada nos garante que os fundos europeus se mantenham como foram até agora. Há toda esta turbulência internacional, sobretudo do lado leste da Europa, com novas perspectivas de adesão, da Ucrânia, da Moldávia e dos Estados balcânicos. Pode haver um balanceamento da Europa para Leste, e depois, estatisticamente, como esses países são muito pobres e o esforço na Ucrânia, então, será gigantesco, e nós, estatisticamente, vamos passar a ser ‘ricos’ e, portanto, os fundos europeus vão se dirigir mais para Leste e, portanto, nós temos de estar atentos a isso. O Governo português da altura terá de fazer pressão para que isto não aconteça. Ainda assim, a nossa estratégia é a mesma, haja fundos ou não haja fundos. Obviamente que com fundos é mais fácil, melhor, mais rápido e mais eficaz o investimento, mas temos de ter esta reflexão estratégica na mesma.

Há de facto aqui uma sombra que eu vejo no horizonte, uma sombra geoestratégica que não está na nossa mão nem sequer do Governo português decidir, mas que é algo que temos de acompanhar. Depois temos de criar um plano B. Se isto não chegar a acontecer ou se os fundos do próximo quadro comunitário de apoio forem muito reduzidos, que não cheguem para aquilo que nós precisamos, sobretudo no tema da descarbonização e da transição energética, onde os investimentos que são precisos para as empresas se libertarem do carbono são muito elevados. É muito difícil que isto seja tudo financiado por capitais próprios das empresas, ou seja, dinheiro que já está nas empresas. A maior parte das empresas não tem estrutura de capitais forte, portanto, não tem dinheiro na gaveta para fazer grandes investimentos e os bancos, portanto, o investimento comercial através do sistema financeiro normal, também tem limites. Os bancos não gostam de emprestar muito dinheiro a longo prazo, preferem emprestar algum dinheiro a curto prazo, e, portanto, torna-se difícil fazer um grande investimento de centenas de milhões de euros se não houver comparticipações.

O que é preciso para a AISET crescer ainda mais?

Precisamos de robustecer ainda a associação, portanto, ainda temos de cativar vinte, trinta ou quarenta empresas industriais que estão aqui na península, que não são nossas associadas e que achamos importante que se juntem a nós, para termos um ecossistema mais robusto, um networking melhor entre todas as empresas, de modo que todos juntos sermos mais competitivos e mais fortes.

Com isto termos uma melhor voz na captação do interesse das autoridades públicas pela actividade industrial, porque o País não tem uma grande tradição de indústria. Há sempre uma tendência de achar que nos serviços ou no turismo é que está a riqueza do País.

Temos muitos desafios em que temos de chamar a atenção dos governantes para os problemas da indústria e, portanto, quanto mais robusta for a associação, mais força teremos.

O que é pretendido com a chegada dos novos membros à direcção?

Nestas renovações de mandatos geralmente o que se quer é aquilo que se chama ventilar a associação, ou seja, introduzir ar novo, mais oxigénio, novas perspectivas, novas pessoas que vejam os assuntos de uma maneira diferente. Algumas das pessoas que nós tínhamos saíram, umas por razões relacionadas com as empresas, outros por reforma e, portanto, temos aqui uma oportunidade de rejuvenescer e modificar. Então fomos buscar pessoas que, em primeiro lugar, atentassem nestes quatro desafios. Ficámos com uma valência de recursos humanos bastante válida.

Quais são os desafios futuros da Península de Setúbal?

A península está perante um grande desafio, mas que é uma enormíssima oportunidade. Eu tenho muita confiança que daqui a vinte anos estejamos num patamar industrial e num patamar de riqueza bastante mais elevado, bastante melhor. Temos excelentes empresas que têm uma grande performance, sobretudo no mercado internacional, portanto, estão relativamente autónomas dos ciclos económicos domésticos e das políticas domésticas. Vendem 90 ou 100% do que produzem no mercado internacional e se conseguirem produzir mais, melhor e produtos mais avançados, mais valiosos são e isso vai ter um efeito de grande investimento no emprego da região.

Como é que a península pode evoluir para outro patamar?

Acho que temos uma valia estratégica que ainda não aproveitámos significativamente, mas podemos dar um grande salto qualitativo, que é a questão da economia do mar e da ligação ao mar e do potencial marítimo/portuário.

O Porto de Setúbal está condenado a ser o grande porto da zona de Lisboa. A actividade portuária de Lisboa está a diminuir imenso por causa da pressão urbanística, e, portanto, o porto natural de Lisboa há-de ser Setúbal. Este porto já tem neste momento um projecto ambicioso de investimento, está a atrair outros investidores e temos condições muito boas para ter um grande desempenho e acolher investimentos na área das energias renováveis, da eólica marítima, e toda a indústria ligada a isso e também transição energética, como é o caso da refinaria de lítio da Aurora, de refinarias de biocombustíveis como a Prio e outras empresas ligadas à electrificação em geral, painéis solares, painéis fotovoltaicos e cabos de ligação submarino.

O País tem poucas cidades costeiras relevantes e poucas têm a capacidade portuária como Setúbal tem, portanto, vejo que a 20/30 anos Setúbal possa ser a grande capital de operação portuária sustentável do País, que até irá permitir que possamos concorrer com outros portos espanhóis. Tudo isto vai gerar emprego, conhecimento e riqueza para a população.

O que pode ser alterado a nível político para a península evoluir?

Nós revemo-nos nas palavras do Cardeal Américo, que acha que falta protagonismo político na região. Neste processo das NUTS, nós conseguimos alinhar com vários protagonistas políticos, deputados, autarcas, responsáveis políticos, de todas as áreas, todos os partidos da direita à esquerda, mas faltaram as vozes autorizadas, vozes institucionais da região.

A nosso ver era importante que houvesse uma renovação política geral, em todos os partidos. Não é no partido A ou no partido B, mas que surgissem novos protagonistas, políticos e vozes da região que tivessem um alcance nacional, porque não é só falar daqui para o País. É estar no País, estar em Lisboa, nos centros de poder a falar também por Setúbal, seja na economia, seja na política. Precisamos de ter mais pessoas que assumam um papel de liderança na sociedade portuguesa. Setúbal está sub-representada na sociedade portuguesa e isso depois acaba por nos deixar um pouquinho para trás nos momentos das decisões.

Temos de alterar o inesquecível “Margem Sul jamé”, é essa forma de pensar que temos que alterar para Margem Sul ‘toujours’. Tudo pode acontecer aqui, dos toiros às ostras, do vinho aos automóveis até à aviação de excelência. Tudo pode acontecer aqui e as pessoas que cá moram só têm que ser beneficiadas com isso, assim sejam bem lideradas e escolham os bons líderes.

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