23 Abril 2024, Terça-feira
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Testemunha confirma que as acusadas pela morte de Jéssica lhe pediram lixívia e que se deslocaram a Leiria

No segundo dia de julgamento, vizinha corrobora acusação sobre lavagem da casa onde a menina terá sido maltratada e quanto à viagem em que Jéssica foi usada como correio de droga

 

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A primeira testemunha a ser ouvida no julgamento do homicídio de Jéssica Biscaia, a menina de três anos que morreu em Junho de 2022, que está a decorrer no Tribunal de Setúbal, corroborou dois aspectos relevantes da acusação, que as arguidas lhe pediram lixivia e que estiveram em Leiria.

Uma vizinha e conhecida das arguidas confirma que Ana Pinto, conhecida como ‘Tita’, lhe pediu lixívia no dia 20, o dia em que a criança morreu, e que não lhe deu porque não tinha esse produto. A lixívia é relevante porque, de acordo com a acusação, a casa foi lavada depois de Jéssica ter sido entregue à mãe, no dia em que morreu, a 20 de Junho de 2022.

A vizinha disse também que, nesse dia, Ana Pinto e Esmeralda Montes lhe ligaram várias vezes e acabaram por ir a sua casa às 19 horas a pedir para acolher a neta em sua casa. “A Tita disse-me: ‘a Esmeraldinha fica aqui um bocadinho que nós temos de ir a casa ver o que se passa, está lá a policia, deve ter sido alguma coisa que o meu Eduardo fez’”, relatou esta testemunha. Já sobre as práticas de bruxaria disse não ter tido conhecimento. Diz que raramente via Justo Montes, Ana Pinto e Esmeralda Montes todos juntos. “Só quando iam receber o RSI [Rendimento de Inserção Social] é que os via juntos, ao senhor Justo geralmente só o via sozinho, na rua, para baixo e para cima”.

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Esta testemunha afirmou também que, no dia 18, por volta das 17h20, encontrou o arguido Justo Montes que lhe disse que a mulher e a filha estavam em Leiria. Confrontada por um advogado e pelo juiz, a vizinha afirmou ter a certeza da hora e do dia. “Foi mesmo no sábado”, atirou.

No dia 21, a vizinha foi a casa da mãe de Jéssica para lhe transmitir as condolências pelo falecimento da menina. “Não vi uma mãe que está triste por perder um filho ou a chorar. Dei-lhe os sentimentos e ela ficou calada”, referiu. De acordo com este testemunho, Inês Sanches ia com frequência a um estabelecimento de karaoke, à tarde, e, às vezes, levava a pequena Jéssica.

O depoimento da vizinha contraria o que disse anteriormente o arguido Justo Montes que, quando prestou declarações, não confirmou a viagem a Leiria.

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Neste segundo dia de julgamento foi também ouvido Eduardo Montes, o único dos cinco arguidos que não está em prisão preventiva. Acusado de tráfico de droga e de um crime de violação, por alegadamente ter participado na introdução de um invólucro de droga no ânus de Jéssica, este arguido negou tudo.

Eduardo Montes alega que estava em Espanha

Eduardo Montes alega que, na semana que Jéssica passou na casa dos seus pais, ele esteve em Sevilha, Espanha, de férias, e só regressou dia 18 já à noite.

“Regressei num sábado, salvo erro dia 18, perto das 22 horas, para casa. A minha mãe estava na varanda. Subo a escada, o meu pai veio à porta da minha casa, deu um beijinho aos meus filhos, e entrei em casa para descansar, estava cansado. No outro dia acordei por volta das 10 horas, saí, com a minha mulher, fomos fazer compras para casa, ao Pingo Doce, e o resto do dia fiquei em casa a descansar. Na segunda-feira fui levar os meus dois filhos à escola, fui dar um passeio com a minha mulher, almoçámos, comemos um prego no Novo 10, depois fui entrar o carro alugado e, já de táxi, apanhei os meus filhos na escola. Quando chegámos a casa vimos um carro da polícia à porta.”, relatou Eduardo Montes.

Confessou que consome haxixe mas diz que nunca consumiu outros estupefacientes, como cocaína ou heroína. Acrescentou que não foi com a família na viagem a Leiria. “Fui uma vez a Leiria, ver o meu avô, um mês antes, apenas com a minha mulher e os meus filhos”. Não teve conhecimento da sua mãe e irmã terem ido a Leiria nesse fim-de-semana.

Questionado sobre como recebeu a notícia da morte da menina, respondeu que foi uma surpresa e um choque. “Fiquei surpreendido, fiquei chocado. Nunca imaginei, na minha vida, uma coisa destas acontecer.”, disse.

“Só tinha visto a criança lá em casa uma vez, cerca de dois meses antes. Vinha a descer as escadas, a minha mãe tinha a porta aberta, e eu vi-a. A minha mãe disse-me que era filha de uma amiga que tinha ido trabalhar e que não tinha com quem a deixar e que lhe pediu o favor. Vi a criança, estava na sala, a brincar com um brinquedo. Eu disse à minha mãe: “vê lá, tu não tens condições para ter crianças.”, acrescentou.

Diz que “não ouviu nada”, quanto a barulho de crianças nesses dias.

Foram exibidos aos dois arguidos os dois “ovinhos” de metal, um alicate e uma tesoura, encontrados o bolso do casaco de Justo Montes, e ambos os acusados disseram não saber de quem são esses objectos.

Eduardo Montes, que tem dois filhos, um deles de idade aproximada à de Jéssica, disse que, quando necessitava, era com o pai que deixava as crianças e não com a sua mãe, Ana Pinto, porque confiava mais no pai, a mãe era “mais desacertada”.

Quando o seu advogado de defesa, Paulo Camoesas, lhe perguntou que implicações teve a acusação na sua vida, designadamente a de um crime de violação, de o arguido disse que a sua família, referindo-se à mulher e aos filhos, tem sofrido.

“As pessoas olham para mim como um monstro. Jamais deixaria alguém fazer mal a uma criança à minha frente. Tenho dois filhos.”, declarou.

A continuação do julgamento, com a audição das restantes sete testemunhas de acusação, está agendada para os dias 12 e 15 de Junho.

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