29 Março 2024, Sexta-feira
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“Bicho de 7 Cabeças” coloca saúde mental na linha da frente com abordagem descomplicada

As conversas são moderadas pela psicóloga Beatriz Franco com organização de Carolina Nunes e Catarina Pinote, técnicas da Divisão de Juventude da Câmara Municipal de Setúbal que se encontram a acompanhar o projecto

 

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Círculo de partilha e entreajuda dirigido a jovens, dos 14 aos 30 anos, para reflexão em torno do indivíduo singular e colectivo e desenvolvimento de ferramentas para lidar melhor com a ansiedade, a angústia, as transformações físicas e emocionais, o trabalho e as relações interpessoais.

Assim se apresenta a iniciativa Bicho de 7 Cabeças, dinamizada pela psicóloga Beatriz Franco e organizada pela Divisão de Juventude da Câmara Municipal de Setúbal.

Teve início em 2021, no seguimento de um ciclo de debates sobre saúde mental realizado em 2019 e 2020 em todas as escolas de Setúbal, na qual a equipa da Divisão de Juventude da Câmara Municipal de Setúbal percebeu que existia uma necessidade cada vez maior em abordar temáticas deste cariz na camada mais jovem.

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“Os jovens vinham, depois das sessões, falar com os oradores e comigo e notámos a necessidade que tinham de partilhar, encontrar respostas, perceber com quem podiam falar”, começa por contar Beatriz Franco a O SETUBALENSE.

“A pandemia veio reforçar a necessidade que já sentíamos e quando a Divisão de Juventude me convidou eu aceitei de imediato”, acrescenta.

Carolina Nunes, técnica superior, e Catarina Pinote, assistente técnica, da Divisão de Juventude, partilham que depressa perceberam que “seria necessário algo participativo, inclusivo e informal para dar resposta a esta procura por um local seguro, sem compromissos e de acesso gratuito onde os jovens pudessem desenvolver ferramentas para lidar melhor com diversas situações do quotidiano, promovendo a ideia de que todas as fases da vida nos podem fazer sentir instáveis e ansiosos e que não há vergonha nenhuma nisso”.

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Esta ideia é igualmente partilhada pela psicóloga Beatriz Franco: “há que demonstrar que todos temos dias difíceis. A ansiedade é normal, há momentos em que precisamos dela porque no fundo nos mobiliza para a acção. A raiva também, não é errado senti-la, como todas as emoções é para ser sentida. Controlamos o nosso comportamento, não podemos nem devemos tentar controlar as nossas emoções”.

A psicóloga alerta ainda para o facto de que “apesar de estes momentos difíceis serem normais é preciso estar atento aos sinais que nos dizem que podemos não estar a conseguir gerir esse mal-estar sozinhos e precisamos de pedir ajuda. Quanto mais cedo for pedida a ajuda também mais fácil vai ser resolver a situação”.

Ansiedade e relações interpessoais entre os principais temas abordados

As sessões têm como ponto de partida um tema que, indo ao encontro das necessidades dos jovens, avaliadas após o preenchimento de um questionário fornecido pela Divisão de Juventude, suscita o debate e a partilha entre os participantes. A ansiedade e a relação com os outros são dois dos temas mais abordados até agora.

As inscrições são geridas pela Divisão de Juventude, que faz ainda a comunicação e o financiamento das sessões, realizadas aos sábados, quinzenalmente, a partir das 10h30, inicialmente em formato on-line, mas desde Outubro presencialmente no equipamento municipal a Casa do Largo.

Apesar de existir um tema, Beatriz Franco destaca a “liberdade completa para partilha de outros temas ou experiências. As sessões vão sendo guiadas pelas pessoas dentro da sala e na minha opinião é isso que torna o projecto tão interessante”.

No que diz respeito a resultados alcançados até ao momento, a psicóloga partilha que “o Bicho de 7 Cabeças já permitiu a algumas pessoas pedir ajuda a um profissional de saúde mental, olhar para as situações de outra perspectiva e partilhar questões sobre o que sentiam e pensavam com amigos e familiares”.

O feedback recebido tem sido, por isso, “muito positivo. Estamos a trabalhar em termos de sensibilização e sentir que houve algo que mudou claramente é muito bom”.

Segundo dados fornecidos pelas técnicas da Divisão de Juventude, conseguiram chegar, até Julho de 2021, a “33 jovens. Em Outubro, retomámos o formato presencial e até ao final do ano tivemos a participação de 17 jovens diferentes, com média de 8 a 10 jovens por sessão”.

Pandemia traz novo olhar sobre bem-estar psicológico

Nas palavras da psicóloga Beatriz Franco, “este tipo de iniciativas é fundamental por fazer parte de trabalho desenvolvido no sentido da prevenção e promoção de competências”.

“Se apostarmos cada vez mais no trabalho junto da comunidade vamos conseguir prevenir situações mais complexas e consequentemente alcançar melhores resultados. Acredito que os recursos devem ser mobilizados nesse sentido, com psicólogos na comunidade, nas escolas, nos centros de saúde”.

A pandemia trouxe um “novo olhar sobre o mundo, sobre a saúde mental”. “Talvez as pessoas agora compreendam a importância de estarmos bem do ponto de vista psicológico e não apenas físico e olhem a saúde como um todo, como deve ser olhada”, considera, adiantando que espera também “que se comece a olhar mais para as pessoas, para as suas necessidades, bem-estar e esforço”.

“Os bons resultados acontecem quando tudo isto está reunido e é preciso repensar o excesso de foco no resultado, acredito que não é por aí que se começa. O olhar, a compreensão e a empatia sobre o outro permite-nos muito evoluir em todos os sentidos”.

Os jovens estão, de acordo com a sua experiência, “muito sensibilizados para as questões da saúde mental”. “Por vezes acho que se sentem até incompreendidos quando passam por uma situação emocionalmente mais difícil. Para eles, é uma questão muito importante”.

Carolina Nunes e Catarina Pinote registam ainda “um estigma associado à terapia, a consultar um psicólogo ou psiquiatra, que deve ser desconstruído”. “Cada vez existem mais casos de ansiedade e depressão nos jovens, muito exacerbados pela pandemia, e se continuarmos a estigmatizar estas questões estaremos continuamente a alienar os jovens de algumas das melhores ferramentas de promoção de saúde mental: as consultas com especialistas que os possam auxiliar”.

As duas técnicas municipais acreditam, assim, que “apesar de existir ainda um grande caminho a percorrer, grandes passos têm sido dados e o desenvolvimento de iniciativas como o Bicho de 7 Cabeças é um exemplo disso mesmo”.

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