“A garota não”: Das canções de amor à música de intervenção

“A garota não”: Das canções de amor à música de intervenção

“A garota não”: Das canções de amor à música de intervenção

Dos recibos verdes às canções abertas a amores ausentes e presentes, a menina que cresceu no Bairro 2 de Abril, canta sobre o que dói por dentro, o que ri por fora e o que os dias trazem

 

 

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As suas canções falam de amor, de rejeição, de política, de sonhos e costumes. Falam da vida. Da sua e de quem encontrará nelas um ponto de encontro e compreensão. O SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO esteve à conversa com “a garota não”. A apresentação do álbum teve lugar no Convento de São Paulo, com lotação esgotada, mas foi no Bairro 2 de Abril, onde cresceu, que Cátia Oliveira partilhou memórias e recordou inspirações para esta “Rua das Marimbas”, o seu disco de estreia.

 

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“Se tenho um bocadinho de consciência política, de cidadania, de pertença, de querer melhorar um bocadinho o espaço onde vivemos, tem muito a ver com as experiências que tive no bairro onde cresci. Viver aqui aproximou-me dos problemas reais e dos sonhos ao mesmo tempo”, começa por dizer.

“Os meus pais sempre foram muito presentes e o meu pai, com os horizontes muito expandidos, gostava de música, cinema e literatura e desafiava-nos a colher um bocadinho de cada uma dessas áreas culturais”, adianta. Das brincadeiras na rua para as memórias que tem dentro de casa, Cátia recorda que estragou muitas das cassetes do pai a gravar-se a cantar por cima e considera que as aulas de piano que frequentou e todo o gosto musical que teve sempre presente na sua vida fizeram a diferença.

Tinha cerca de 16 anos quando começou a dar os primeiros passos na criação de canções e nunca mais parou. Já participou em vários projectos, de jazz e bossa nova, escreve para fadistas e chega agora ao número 7 da Rua das Marimbas para dar a conhecer o que é só seu. “Este álbum é um conjunto de canções de amor e de outras coisas que me têm marcado. Consigo defender este trabalho, sinto as minhas letras, sinto as minhas músicas. Pode ser uma coisa muito básica musicalmente mas é minha. E é sincera”, refere.

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Nas palavras de Cátia Oliveira, este projecto é “uma forma de estar na vida, é olhares o mundo com os teus olhos, fazeres as tuas análises, processares as tuas mudanças, onde quer que seja” porque “quando estás genuinamente a fazer as coisas, as coisas são boas. Trazes bem estar e “a garota não” é isso, é estarmos genuinamente nas coisas. É a primeira vez que explico isto. Não é ser do contra, é teres direito a seres aquilo que és”.

 

Produzido por Sérgio Mendes, o disco conta com “um colectivo de incríveis” nos instrumentos: Pedro Nobre, Diogo Sousa, Ana Du Carmo, Carolina, Frankley e Fernando Molina. Nos seus oito temas, sem esquecer “Monstro”, apenas disponível nas plataformas digitais, “a garota não” fala de amor em particular e da vida no geral, com o objectivo de chegar às pessoas e conseguir “despertar consciências”: “mais do que música de entretenimento, quero que ela chegue às pessoas, quero conseguir fazer com que as pessoas pensem na vida”, conta, adiantando que na sua opinião “chegar às pessoas e despertar consciências é uma coisa maior que a própria música”.

 

No dia do teu casamento

A primeira canção do álbum foi o mote para a onda de apoio, agrado e curiosidade que se fez sentir nas redes sociais e não só, desde o seu lançamento, em Março. “Ao contrário de todas as outras, não é auto-biográfica mas a situação aconteceu-me posteriormente”, conta.

 

A morte não sabe contar

“a morte não escolhe quem nem pergunta se tem muito ou pouco para viver” – Dedicada à mãe, como todo o álbum: “valorizamos muito mais coisas do que a vida humana. A minha mãe não era uma mulher, era um furacão, que lutava pelas coisas e tinha sempre colo”.

 

Mundo do avesso

Uma canção de alerta sobre o que a acção humana está a provocar no planeta. Ao mesmo tempo, uma canção de amor. “Custa-me perceber que as relações são cada vez mais efémeras e fugazes. A sociedade está descartável em todos os sentidos, não é só nos plásticos”.

 

A canção

Para Cátia, esta música surgiu de uma brincadeira: “o meu último namorado lançou-me o desafio de escrever uma canção para ele, sem cobrança, até com uma certa graça”.

 

80.nada

“nasci no tempo errado, recibo verde é pior que mau olhado” – Aqui a garota canta sobre “um flagelo que já ultrapassa a camada jovem, que nos retira alegria, margem, liberdade”.

 

Carta aberta a um amor ausente

Perante um amor ausente “ficas à espera que chegue alguém que tenha a mesma energia pela qual te encantaste”. É sobre essa procura, em jeito de chamada de atenção para o facto de estarmos “poucos disponíveis para ouvir os outros”, que “a garota não” escreve esta carta.

 

Não choro mais

“há sempre quem cuida da maré que vaza e que fica junto até ela encher”- um hino à amizade. “Mais do que ser uma música de desamor, é um hino às amigas”.

 

Adamastor

“o meu mar é tormenta, sou filha do Adamastor. As minhas águas negras afundam o teu amor” – o vídeo saiu no dia a seguir ao concerto de apresentação. “A música cura-me, é a maneira de eu exorcizar os meus males e tristezas e é sempre uma maneira de me pôr de pé”.

 

+ Monstro

“Esta canção fala da minha paixão pelo lado negro das coisas mas o lado negro que procura o lado bom, a luz, a criatividade”, explica. É um tributo a Fernando Pessoa, na escrita, sem esquecer Zeca Afonso, na música.

 

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